Tempo da oração
Por Daniel Theodoro
Poucos sonhos habitam o imaginário coletivo da humanidade como o desejo de viajar no tempo, rompendo a estrutura cronológica linear, revivendo o passado e adiantando o futuro. Esse sonho de desconstruir a matriz temporal através de uma máquina do tempo, uma fonte da juventude ou uma injeção de botox, nasce de duas condições complementares, porém assimétricas: o espaço de vida é curto para tanta vida pretendida. Isso é resultado da imposição de carregarmos a eternidade dentro de nós, vasos de barro, seres finitos.
Essencialmente, somos rebeldes súditos do Senhor do Tempo. Ele imprimiu na raça humana o conceito de eternidade, mas uma pessoa é incapaz de oferecê-lO seu tempo, preferindo gastá-lo em vaidades passageiras.
Orar é o recurso divino dado à humanidade para reconciliação com o Senhor do Tempo, diminuindo a sensação de vulnerabilidade perecível do sujeito que ora. Quem ora sincroniza-se com o Criador, adequa-se às estações da vida, aprende a contar os dias.
A estrutura trinitária do tempo da oração permite confessar pecados pretéritos, adorar Deus no presente contínuo, pedir graças futuras. Em oração, o sujeito é conduzido pelo Espírito a arrepender-se de erros passados, louvar o instante da vida, vislumbrar o dia perfeito no horizonte.
Os aventureiros da prece precisam saber ainda que viajar no tempo da oração pode ser muito desafiador. A pessoa poderá ser convidada a rever desvios tomados que resultaram em sofrimento, ou ser lançada num futuro, não tão distante, onde o amor de muitos se esfriará. No final, entregar-se à dinâmica da oração é recompensador, porque num quarto fechado, de joelhos no chão, alcança-se o amor infinito que pulsa o relógio da história.
- Daniel Theodoro, 36 anos. Cristão em reforma, casado com a Fernanda e pai do Matteo. Formado em Jornalismo e Letras.