Crise transgeracional
É comum ouvir de pais que possuem filhos adolescentes a queixa sobre um abismo na comunicação. Uma dificuldade, por parte dos pais, para entenderem o linguajar, as gírias e a forma de se expressar. Semelhantemente uma dificuldade dos filhos para compreender as ordens, broncas e “chiliques” dos pais.
Essa tensão é mais profunda do que se parece, pois não se trata apenas de uma questão de comunicação, ou uma questão de linguagem. Há aí um abismo mais profundo relacionado à questão da cultura e estrutura do pensamento. Por essa razão, mesmo que a diferença entre o pai e o filho adolescente não seja de muitas décadas, há a impressão de que eles estão distantes por séculos. Na verdade é isso o que acontece!
O sociólogo canadense Douglas Coupland, em seu livro “Geração X”, diz o seguinte:
“Em 40 anos o mundo mudou qualitativamente mais que os 400 anos que antecederam este período.”
Essa fala nos ajuda a compreender um pouco desse abismo de gerações. Trocando em miúdos, a propostas de Douglas Coupland é evidenciar que a diferença entre um pai de 60 anos e um filho de 20, não são apenas 4 décadas, mas sim 400 séculos. Isso se dá ao fato de ambos terem nascidos em momentos diferentes da história e participarem de um processo de mudança muito veloz, onde a todo instante os paradigmas são confrontados ou redesenhados.
Um jovem com menos de 20 anos, nasce em uma sociedade que será chamada por Zygmunt Bauman¹ de “Sociedade Líquida”, enquanto o seu pai de 60 anos faz parte de uma “Sociedade Sólida”. São valores, princípios, modos, culturas e jeitos bem diferentes.
Enquanto o pai vê o mundo como um sistema ordenado, o filho percebe o mundo como um universo caótico, onde nem sempre “começo, meio e fim” precisam estar exatamente nessa ordem.
Enquanto para o pai vale muito a prova científica, o pensamento racional e cartesiano, para o filho o que conta mesmo é a experiência pessoal, é aquela “coisa” que dá no coração e que faz a gente abandonar tudo para tomar outro rumo.
Enfim, tem-se muita diferença cultural entre uma geração e outra, mesmo que sejam separados por um curto espaço de tempo. Isso nos revela que não podemos nos prender apenas a questão estética e aparente, pois esses pontos evidenciam ainda mais os abismos. Precisamos olhar e focar os pontos de convergências mais do que os pontos de divergências.
Temos que construir pontes, pois é o único caminho para encurtar os abismos.
Nota:
1 – Sociólogo Polonês, escritor, dentre outros títulos, do livro: “Modernidade Líquida”.
• Calebe Ribeiro é um dos pastores de jovens da Igreja Presbiteriana do Recreio, no Rio de Janeiro (RJ). É também missionário da Missão Jovens da Verdade.
Leia também
Qual o sonho da “geração smartphone”?
A midiatização do cotidiano
A fé que une gerações
Imagem: Freeimages.com
Jessé
Muito bom o texto. Mas são 400 anos ( 04 Séculos ) e não 400 Séculos 🙂
ultimatojovem
Tem razão, Jessé! Obrigado pela correção.
Um abraço,
Roberto Helou
Me desculpe, está faltando explicar como se constroi essa ponte? Já sabemos que ela existe e a sua proposta é uma construção que una as 2 gerações, mas, qual é a receita…