Por Daniela Piva

Sexta-feira à noite, entro dentro de um dos últimos trens saindo da estação Brás, são 23:55.

Tinha acabado de sair de um jantar de agradecimento, super especial, para voluntários de 50 ONGs que trabalham na área social.

Estava ainda imersa por aquela atmosfera de fé, esperança e amor contagiante.

Sentada continuo pensando no que vivi, nos amigos que revi. Pessoas que sempre combino de combinar alguma coisa, mas no fim nunca nos encontramos. Amigos que trabalham em outras organizações, mas que têm os mesmos sonhos, e que foi a primeira vez que os vi este ano, já em dezembro…

De repente o irmão de uma grande amiga, que é um tanto alternativo, me encontrou e sentamos juntos. Começamos a conversar sobre a vida, fazia tempo que também não o encontrava.

Ele começou a falar o tanto que o Natal é vendido, bastante inconformado com o comércio da data. Incomodado por termos aprendido somente sobre o nascimento de Cristo, com grande convicção dizia que não tinha nem sido em 25 de dezembro.

Ele sabe que sou Cristã.

Também não acredito que tenha sido dia 25, mas essa é a data simbólica que mais amo celebrar. É a época do ano que tenho tanta alegria de comemorar.

Fiquei pensando nas incomodações dele e na minha felicidade em comemorar a data. Pareceu-me paradoxal.

Claro que sei que este dia é importante para mim pelo fato de simbolicamente representar que Jesus veio, o meu maior presente de todos.

Também sei que a mídia ajuda a vender, faz tudo ficar lindo, as cores, o clima, e no fim estão interessados no lucro.

Mas esses dias do Natal ao Ano Novo também podem ser mágicos, eu comecei a pensar.

Sim, são mágicos!

São mágicos porque o mundo Ocidental ‘para’, as grandes cidades ‘param’ e finalmente você consegue ‘parar’ sua rotina agitada, não trabalhar tanto, e se encontrar de fato com as pessoas, com família e amigos.

Para alguns, este momento é difícil. Queriam poder estar mais perto da família, mas o dia a dia não permite.

Os encontros ficam para aqueles famosos: “Um dia desses”, “Vamos combinar”, “Semana que vem”… E nunca acontecem. Mas, no Natal, finalmente no Natal, temos um momento que não tem outra coisa na agenda, não tem outro compromisso mais importante que estar com aqueles do coração. Que podem ser muitos ou poucos, apenas aqueles que escolheu deixar no seu coração.

Crescendo numa família grande, eu sempre apreciei essa data, ainda que em muitos momentos, não me sentisse nada pertencente às reuniões Natalinas, de pelo menos 100 pessoas, que aconteciam nas casas dos meus tios paternos.

Mesmo me sentindo a inadequada, a perdida, a estranha; sempre tinha um lugar à mesa para mim, às vezes era o sofá, mas não importava, tinha um prato me esperando. Tinha um presente com meu nome. Alguém tinha pensado em mim!

Que gostoso lembrar disso, alguém tinha pensado em mim.

Lembrar que essa data se resume assim, alguém pensou em você e fez um convite para sentar-se à mesa. Se o prato é verde ou vermelho não importa, o presente tampouco, nesse dia nada é mais importante do que este convite, o de se relacionar, olhar olho no olho e brindar o amor que ainda resta à mesa. Convite muito profundo e sincero, o mesmo convite que Cristo continua fazendo há 2 mil anos.

Hoje já fiz as pazes com minhas partes estranhas, esquisitas e inadequadas. Hoje eu gostaria muito de poder sentar à mesa outras tantas vezes com essa grande família.

E continuo amando o Natal porque nesse dia, pelo menos nesse dia,  isso se faz possível.

  • Daniela Piva é formada em Psicologia. Viajante do mundo por amor a Deus, escritora iniciante, cozinheira por hobby, e professora de inglês nas horas vagas. Está em busca de uma vida mais saudável de corpo, alma e espírito. Texto publicado originalmente em seu blog pessoal.

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