A fotografia e a contemplação da glória de Deus
Por Kedma Julia
“Olá, eu sou a Kedma e eu capturo histórias”
Não é à toa que introduzo assim meu portfólio no meu blog. A fotografia, para mim, é mais que congelar uma pose, um modelo estático. É enxergar momentos carregados de sentimentos (realmente enxergá-los) e transformar a beleza que vejo na mais pura arte visual, com todos os recursos que as artes visuais me oferecem. Não que não existam poses e modelos. Eles existem e são bem-vindos. Mas nem de longe vejo isso como o coração da fotografia, como arte.
A fotografia me ajudou a ver
Já vi noivas se emocionarem ao verem seus vestidos e, com a câmera, pude observar atentamente seus olhos enquanto passavam as mãos pelas pedras e bordados do traje tão esperado que as comoviam pela concretização do sonho antigo e por serem noivas prestes a se casar.
Pude entrar também nos olhos dos noivos emocionados que contemplam diante de si suas mulheres, e pude ver os “quase choros” que brotam enquanto fazem o discurso. Vi as afeições dos casais em abraços apertados com parentes que vieram de longe para vê-los dar um importante passo.
E só pude chegar assim tão perto desses acontecimentos marcantes por causa da câmera na mão. Ela é uma ótima desculpa! Ela me leva a lugares em que nunca pensei pisar, para ver coisas que não posso prever. E sempre me diverte com as viagens. (E me deixa agitada também, por que em casamentos, por exemplo, a gente corre bastante.)
Percebem como para mim a fotografia não é sobre poses prontas e photoshop? Ela é sobre vida. É sobre observar com mais atenção detalhes antes tão despercebidos, tão discretos, inclusive no meu dia a dia. Com minha fotografia, quero capturar o honesto não programado, uma vida ao redor que pulsa invisível aos nossos olhos pouco acostumados a contemplar.
Não que os recursos de luz e edição estejam errados. A fotografia também falsifica, porque é arte. Ela colore-se. O que não quer dizer que essas fotos, por usarem esses recursos, sejam falsas. Como os impressionistas, pode-se chegar num nível de verdade que seja inclusive emocional, que o simples congelar não captura. É necessário que os outros sintam algo com a nossa fotografia.
Ninguém acusaria os impressionistas de não serem ‘realistas’ pois esse não era seu objetivo estrito. Eles quiseram alcançar um nível mais profundo da realidade e pintaram mais que sua objetividade, pintaram a vida com seu caráter emocional e psicológico. A fotografia, ou pelo menos a minha, tem esse desejo – profundamente artístico – de ser verdadeiro e honesto.
E a glória de Deus?
Uma foto, em si, é bastante inútil. É um pedaço de papel ou uma imagem no seu celular. Mas ela faz sentido se pensarmos no valor eterno do que ela traduz ou reproduz. A fotografia – como toda arte, mas talvez de forma ainda mais literal – revela a glória de Deus na criação.
Registrá-la, ou melhor que isso, fotografá-la [registrar ou fotografar a criação?] nos coloca diante de forma perpétua da manifestação no tempo e no espaço, ao vivo e em cores, da glória de Deus. Quer seja um belo horizonte, quer sejam as pequenas belezas do cotidiano ou ainda a alegria ansiosa de uma mulher que espera seu filho, a fotografia permite-nos relembrar as infinitas bondades do Senhor, e sermos transportados para aquele momento em que vimos sua majestade e louvá-lo de novo.
Fotografia também é criação
Gosto muito de uma fotógrafa dos anos 30, chamada Dorothea Lange. Ela fotografou o período da Grande Depressão. Suas fotos são marcantes por serem verdadeiras, mostrarem uma dor real e quase palpável e, ainda assim, serem lindas. Dorothea costumava dizer que “a câmera é um instrumento que ensina as pessoas a verem sem câmera”. Acredito nisso.
A fotografia surgiu na minha vida como um desejo muito grande de guardar toda a beleza que eu via, toda experiência nova, toda luz bonita. Sou uma pessoa visual. Entendo-me é com as cores, formatos e texturas. Mas, aos poucos, a câmera me educou a ver luzes que eu antes não via. Cores que eu antes não via. Beleza no mundo que eu antes não via.
Entre coisas que aprendi a ver, lugares que visitei, ângulos aos quais só fotógrafos têm acesso e belezas que descobri, fica sempre o maravilhamento que a contemplação da Criação é capaz de proporcionar. Aproveitemos a viagem, contemplemos as paisagens e sintamos o vento no rosto que vem com gosto de novidade. Nessa terra em que somos peregrinos não nos resta muito ao que se apegar, mas muito a contemplar!
- Kedma Julia. Filha de um jornalista que também era um artista, cresceu em meio a livros, cores e boa música. Cristã reformada há 3 anos, aprendeu um pouco mais sobre a glória de Deus nesse mundo passageiro através da fotografia.
Trijnie
Oi Kedma, gostei do seu artigo, sua descrição do objetivo da sua fotografia, e o fato de ver e procurar a glória de Deus em pessoas e na natureza. Conversei com sua mãe domingo e peguei seu número pra poder conversar com você pelo whatsapp. Beijão!