Por Renan Vinícius

Se você nunca colocou leite para ferver, então você provavelmente não sabe o que é um verdadeiro gerenciamento de risco.

O leite parece inofensivo, mas é mestre em pregar peças. Podemos passar uma eternidade observando a leiteira e o líquido continuará parecendo imóvel. De repente, vem à nossa mente um turbilhão de pensamentos sobre coisas que poderíamos estar fazendo naquele momento entediante. Então, o celular toca, um passarinho pousa no muro próximo à janela, uma notícia importante aparece na televisão.

Quando nos damos conta, nos distraímos por um instante. O cheiro de queimado nos lembra que, nesses milésimos de segundo, o leite já transbordou. Parece que ele estava ali justamente esperando nossa primeira distração. “Mas foi tão rápido!”, pensamos. Agora, no entanto, já não temos muito o que fazer: o leite foi derramado, sujou o fogão, talvez até o chão, e o cheiro não está nada bom.

Talvez a ação mais sábia, neste momento, seja tirar a leiteira e desligar a boca do fogão. Depois, é claro, limpar toda a sujeira. Podemos, ainda, contrariar o ditado e chorar pelo leite derramado. Faz parte. Quem consegue, afinal, se manter totalmente isento às adversidades?

Mal terminamos de lamentar pelo leite derramado e, então, alguém chega e faz aquela cara de reprovação. Temos uma saída: podemos culpar o passarinho, o bendito ser-humano que resolveu mandar uma mensagem no WhatsApp justamente naquela hora ou a televisão.

No entanto, bem lá no fundo sabemos que essas são apenas maneiras de nos livrarmos da culpa de termos deixado o leite transbordar.

Acontece que, se em outro dia houver mais leite para ferver, haverá também mensagens, passarinhos e notícias para nos distrair. Enquanto ferver o leite for um desafio, não devemos nos limitar a apontar os erros ou os culpados de uma situação específica.

É preciso, na verdade, trabalhar para identificar as situações que podem nos levar à distração. Para isso, podemos precisar da ajuda de outras pessoas.

Da mesma forma, na próxima vez que alguém deixar o leite transbordar, que não nos limitemos a culpar. Estejamos, sim, prontos e dispostos a ajudar. Não é fácil, nem rápido, mas o resultado certamente fará valer a pena.

  • Renan Vinícius, 25 anos. É paulista de certidão e goiano de coração. Doutorando em Engenharia de Computação, desenvolve estudos sobre Computação Afetiva e tem bastante interesse em fotografia, ilustração e comunicação.

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