Por Rafaela Senfft

Não sei se vocês conhecem o desenho animado Miraculous, que tem como protagonista a famosa personagem Lady Bug. Eu mesma só conheci porque passei férias perto de criança, e quando se tem criança em casa a gente acaba se inteirando dessas coisas. Como uma boa observadora espiritual, vi muito da nossa saga inscrita ali, na dinâmica desta narrativa animada. 

É uma animação francesa que trata do cotidiano de uma turma de adolescentes em Paris. Existe um homem malvado que se transforma no vilão Hawk Moth, que quer tomar pra si os miraculous, acessórios que conferem poder à heroína Lady Bug e a seu parceiro, Cat Noir. A cada episódio o vilão executa um plano para obter a posse desses poderes, sempre frustrado. 

Há um movimento narrativo interessante e familiar: Hawk Moth nunca sai de seu templo para fazer nada, usa pessoas para realizar seus serviços. Ele fica num lugar alto, de onde vê toda a realidade e a manipula de acordo com seus interesses. O vilão possui inúmeros akumas, criaturas no formato de uma borboleta preta, responsáveis por potencializar o mau nas pessoas a níveis extremos. 

Ladybug e Cat Noir têm a tarefa de capturar os akumas liderados por Hawk Moth e libertar a pessoa na qual as criaturas foramintrojetadas e que está sendo usada pelo vilão para fazer mal a outras. Geralmente uma pessoa só é “akumatizada” em um momento de fraqueza, geralmente em um estado de ressentimento.

Por exemplo, uma pessoa é ferida ou rejeitada por outra, e quando a raiva aparece, essa pessoa a cultiva, e sua consciência fica martelando vingança, assim ela fica mais frágil interiormente e passível de ser amaldiçoada pelo akuma do mal, que reforçará sentimentos de rancor e vingança para fazer justiça própria. Então essa pessoa se torna escrava da vingança e perde o controle sobre si mesma fazendo todos os objetivos de Hawk Moth.

Só que Lady Bug e Cat Noir sempre vencem o mal e libertam os reféns dos akumas, libertando a borboleta aprisionada, que então voa livremente pela natureza, livre de substancia maligna.

Essa animação falou muito comigo a respeito da nossa natureza humana. Quando somos feridos, rejeitados por
alguém, sentimos muita pena de nós mesmos. Ficamos frustrados, com raiva, e alimentamos um ressentimento que só vai se agravando enquanto não liberamos o perdão.

Se alimentamos esse sentimento, acabamos perdendo o auto controle. Quanto mais ressentidos, mais nosso coração se torna um terreno fértil para o mal espiritual, e somos facilmente “akumatizados”. Não falo da interferência maligna nos possuindo, mas conforme fechamos o coração para o amor e o perdão, nós mesmos fazemos o serviço do mal, pois, ele já ditou as regras: vingança, morte, ódio…

Por isso sempre temos que escolher perdoar. Ainda que doa, ainda que sentimos feridos demais, o perdão é o antídoto contra o ressentimento. Só assim, e com o tempo, somos fortalecidos em nosso interior e podemos ser livres de ter nossa ações dirigidas por um coração ferido.

Mesmo que se sinta raiva, mesmo que se tenha todos os motivos do mundo para repudiar alguém pelo que essa pessoa lhe fez; mesmo frente à maior injustiça que fizeram contra você, perdoar é sempre a cura. Não significa que a dor vai passar, mas você estará adquirindo uma resistência contra o pior, que é viver “akumatizado” por vingança e justiça própria.

O ato de liberar perdão não significa parar de sentir dor, mas é declarar cura pra si mesmo, em doses homeopáticas, pouco a pouco, a cada dia. Com isso, a dor vai desaparecendo com o tempo e a vida vai se tornando leve como a borboleta voando no final do desenho, representando a luta e persistência do bem, sempre vencendo o mal.

  • Rafaela Senfft é artista plástica formada pela Escola Guignard/UEMG, onde é professora de História da Arte Ocidental no curso de extensão. É membro de CIVA (Christian in Visual Arts) e congrega na Caverna de Adulão, em BH.

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