Uma manjedoura na terra do iPhone
Por Raphael Cavalcanti
Em setembro de 2018, um evento com quase 2 horas de duração foi assistido por mais de dois milhões de pessoas. Eis um bom espelho para nossos tempos: o lançamento dos novos modelos da Apple. Quando os produtos finalmente chegaram às lojas, milhares tomaram as ruas dormindo em filas para garantir, em primeira mão, o lançamento. Era o poderoso “novo”.
O novo é quase uma obsessão do século XXI. O hype é super aproveitado. O “novo” lançamento ainda não completou seu primeiro mês e já se especula o que vem pela frente. Todos os dias os tabloides se esbofeteiam para dar vislumbres do “próximo”. Às vezes o novo formato do único botão do celular já serve para disparar a enxurrada de comentários.
O mundo gira incontrolável. Semana passada já faz séculos. Quem lembra do hit do verão do ano passado? A Copa do Mundo não completou 6 meses e já vai longe. Antes de comemorar seu primeiro aniversário, a greve dos caminhoneiros já virou assunto de historiador.
A vida está assim e não há como lutar contra. Eis o nosso mundo.
Como fica então aquela velha história do menino da manjedoura? Afinal, seja você alguém que cresceu correndo entre os bancos da igreja ou não, as cenas são conhecidíssimas: uma virgem, um menino, estrebaria (que, pra quem nunca soube, é um nome mais chique pra curral), uma estrela brilhando no céu, reis magos, coral de anjos, etc. Já é old story. Todo mundo já sabe. E então? Se não há algo novo, o que resta?
Deus tem uma forma linda de lidar com seu povo. No Antigo Testamento, enquanto Moisés transmitia as prescrições das festas anuais – e eram várias -, o texto pontua um dos recursos didáticos mais usados pelo Senhor: “para que te lembres, todos os dias da tua vida, do dia em que saíste da terra do Egito.” (Ex. 16:3b)
É por causa do distanciamento histórico dos eventos do Êxodo que Deus utiliza uma festa para refrescar a memória do seu povo. Ou seja, num contexto de celebração, cheio de alegria, música, comunhão e congratulação, o povo era relembrado do porquê estava ali. A festa tinha um componente fortíssimo de rememoração.
O Natal segue exatamente na mesma linha. As histórias são as mesmas, mesmas são as reflexões. Não há nada de muito novo em tudo isso. Cristãos comemoram os mesmos fatos e propagam as mesmas verdades há dois milênios. Mas é justamente aí que está a grande pedra de valor!
Enquanto estivermos com os nossos queridos na época de Natal, sejam nossos amigos, igreja ou família, poderemos relembrar a mesma velha história de novo. Lembrar que um dia um menino nasceu. O Deus todo poderoso veio habitar no meio dos homens trazendo salvação. Nossa vida toda hoje só faz sentido porque encontramos paz com o Pai através desse menininho que teve por primeira cama uma manjedoura. O Rei do universo nasceu em Belém, pobre e indefeso, por amor a nós.
Essa história, apesar de velha, ou talvez exatamente por ser velha, é a nossa fundação, detém nossa identidade. Somos ligados a ela porque fazemos parte dela!
E mais o lindo dessa história é que ela não apenas nos prende ao passado. Jesus Cristo nasceu e, por causa disso, nosso futuro será profundamente diferente. O Natal tem por base recontar uma história antiga, mas tão poderosa que faz novas várias e várias e várias histórias sobre a face da Terra.
É por causa daquele bebezinho que as nossas novidades podem ser recobertas de um significado maravilhoso. O convite é para não deixar perder o velho na procura do novo. É justamente essa velha história que faz novas todas as coisas.
- Raphael Cavalcanti. Um nordestino brasileiro que faz o que não quer, e o que quer, não faz. Apaixonado pela sua terra, Natal, por história e por gente. Casado com Ana Luísa. Colabora no blog Cristão Tupiniquim.
Elaine Zaleschi
Sensacional! Ótima reflexão