É preciso procurar em Nazaré
Por Rafaela Senfft
Deus se manifestou em Nazaré. “Mas pode vir algo bom de Nazaré?”, foi questionado.
Para este Natal quero trazer uma reflexão simbólica sobre Nazaré, a cidadania terrena do Filho de Deus: A Nazaré da vida, o fractal que reverbera a Estrutura do universo.
Procure tudo em Nazaré, ache tudo em Nazaré, mais importante, se encontre em Nazaré; nas coisas pequenas, simples, naquelas que você acha mais insignificantes, naquelas com menos eloquência. Buscar na “Nazaré” da vida é olhar na tangente, é abrir a mente, é encontrar o Eterno na mansidão da vida, é andar na contramão dos desejos do coração humano, dos modismos, das identidades consumíveis.
Nazaré é um lugar hostil, é a quebrada que não é modinha, é sem graça e sem glamour. Mas Nazaré também é um lugar de vastas experiências reais, de surpresas, de novidade de vida, aonde não existe tédio.
Por mais informações que tenhamos, por mais que escutemos repetidas vezes sobre a manifestação de Deus na história, sempre criamos uma fórmula viciada e repetida. Mas, em Nazaré, tudo é indomesticável.
Gosto de fazer uma relação com filmes iranianos, porque não seguem um formato de princípio, meio e fim. Não há final feliz. Aliás, não tem nem um final. O filme acaba do nada e a gente fica naquele vácuo, perplexo, acompanhando os créditos subirem na tela sem a mínima lógica. Só nos resta dar continuidade da história como nos aprouver.
Mas aí comecei a assistir a tantos filmes iranianos que me pegava tentando prever o término do filme, pensando: é agora! Eu tentava detectar aqueles momentos mais aleatórios e percebi que, depois de um tempo assistindo, parecia que eu tinha um único propósito com esse estilo de cinema: pegar o final em flagrante. Mas nunca dava certo, ainda assim o filme terminava nos únicos segundos em que eu não “esperava”.
Comecei a refletir sobre essa experiência e percebi algo interessante. Às vezes eu tinha certeza das possibilidades x ou y, z na vida, mas o real “propósito” nunca vinha desses lugares, sempre de um ponto que eu não havia imaginado antes.
Passei a perceber o Eterno inscrito nas mínimas experiências corriqueiras, costurando tudo de forma harmônica e simples, singular demais, até. Algo muito significativo, instrutivo e transformador começou a mover no meu coração em Nazaré.
No ambiente religioso existe um leque simbólico de como as coisas devem ser, mas Jesus vem e redireciona nosso olhar a um lugar para o qual só olharíamos caso essa fosse a última opção, porque não imaginaríamos algo tão grande em certos lugares tão irrelevantes na vida.
É preciso ter a mente aberta para Jesus entrar, é preciso procurar em Nazaré. Por causa da nossa natureza pecaminosa, no desconforto de Nazaré é o lugar onde menos queremos estar. Mas foi lá que a esperança nasceu, é lá que encontramos nossa identidade.
- Rafaela Senfft é artista plástica formada pela Escola Guignard/UEMG, onde é professora de História da Arte Ocidental no curso de extensão. É membro de CIVA (Christian in Visual Arts) e congrega na Caverna de Adulão, em BH.