O profético “Eu disse!” dos nossos pais
Por Daniel Theodoro
Filho de crente corre um risco às vezes: ser alvo de um irônico sorriso santo dos pais que têm mais anos experiência ao lado de Cristo. Em algumas situações, a peculiar manifestação explícita de santidade dos adultos cristãos é seguida por uma frase que jovens não gostam de escutar, o profético “Eu disse!” parental.
Lembro-me como se fosse hoje. Mesmo porque dois meses atrás não é tanto tempo assim. Dias antes de eu e a Fernanda embarcamos de malas e pantufas para a gelada cidade de Winnipeg, no centro do Canadá, nossos pais disseram para procuramos uma igreja assim que chegássemos. De modo sereno e tranquilo – característica de casais que somam décadas de caminhada cristã – eles falaram que a igreja seria nossa nova família.
Confesso que inicialmente não demos tanta atenção para o conselho. Contudo a mistura de autossuficiência e altivez juvenil durou até percebermos que, para qualquer passo que déssemos (busca por emprego, por exemplo), precisaríamos da tal referência canadense, um tipo de crédito de “bom nome” na cidade. Como éramos novos na região, não o tínhamos. Ou seja, a expectativa não era boa para nós.
Hoje, ao olhar para o passado recente, duas coisas seguem frescas na memória: o amoroso cuidado de Deus e o profético “Eu disse!” parental. Pois é, o melhor conselho que poderíamos ter seguido foi escutar nossos pais quando asseguraram que encontraríamos integral ajuda na família de Cristo mesmo em terra distante.
A combinação perfeita, recalcada, sacudida e transbordante da misericórdia de Deus e da habilidade primorosa da Fernanda de fazer novas amizades nos levaram a conhecer o pastor Joseph Seidu e sua esposa Grace, líderes do International Student Ministries Canada, grupo interdenominacional que oferece apoio a jovens estudantes internacionais.
Pastor Joseph, um ex-muçulmano de Gana convertido ao evangelho da Graça, conta ter sentido o chamado para trabalhar com estudantes internacionais porque se trata de um grupo emocionalmente vulnerável em função da distância dos familiares, da dificuldade financeira, e da exposição à ventania de doutrinas que costuma soprar nas universidades.
Fomos espiritualmente acolhidos pelo simpático casal ganês que nos ofereceu apoio irrestrito para nos estabelecermos por aqui. Eles aceitaram ser nossa referência de “bom nome” na cidade mesmo tendo nos conhecido em um curto espaço de tempo.
Poucos parágrafos não vão resumir a verdadeira chuva de bênçãos que Deus tem derramado sobre nossas vidas aqui em Winnipeg. Elas vão desde uma vaga de trabalho até duas bicicletas doadas para nós – meio de transporte perfeito em uma cidade totalmente plana -, sem contar os novos irmãos da família de Cristo. Também já temos a oportunidade de trabalhar como voluntários no ministério de apoio a estudantes internacionais e em outras atividades da comunidade pastoreada pelo pastor Joseph e sua esposa Grace.
Com frequência, eu e a Fernanda falamos com nossos pais por videoconferência atualizando-os sobre tudo o que Deus tem feito por nós. Pare eles, devemos parecer duas crianças agitadas e empolgadas com tanta novidade. Percebo no semblante deles alegria por testemunharem a promessa de que Deus cuida bem de seus filhos mesmo longe de casa. Por outro lado, noto certa ironia santa no olhar deles diante de nossa incontida surpresa por tudo o que já vivemos aqui. Lá no fundo acho que eles já sabiam que ia ser assim e têm vontade de dizer “Eu disse!”.
Daniel Theodoro, 33 anos. Cristão em reforma, casado com a Fernanda. Formado em Jornalismo e Letras.
Marjorie Valim Bonadio
Que alegria Dani e Fe! Me alegro com vocês por esta experiência e pelo testemunho sobre o cuidado de Deus. Que vocês sejam continuamente guiados, supridos e cheios da presença de Deus.
Letícia
Este testemunho encheu o meu coração de ESPERANÇA. Obrigada por compartilhar.