Por Matheus Ortega

Já imaginou como seria o mundo se não houvesse riqueza ou pobreza?

O Cristianismo anuncia um Reino de Justiça onde nunca mais haverá mais sofrimento, guerras ou morte. Cristãos de todas as tribos, raças e classes oram para que venha o Reino assim na terra como no céu. Mas enquanto isso, vivemos em mundo em que 1% dos mais ricos têm mais do que 99% de toda a população[1].

E o que devemos fazer diante de tamanha desigualdade?

O primeiro passo é ter fome e sede de justiça[2]. Deus convoca seus filhos e filhas para buscarem o Seu Reino e toda a justiça, acabando com a opressão, lutando pelos direitos do órfão e defendendo a causa da viúva[3]. Conforme as palavras do Profeta Miquéias, “Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus”[4].

Mas o que é praticar a justiça em prol da transformação social?

Em um livro que estou escrevendo (spoiler abaixo), respondo a esta pergunta complexa da seguinte forma: através do [1] assistencialismo, [2] desenvolvimento e a [3] reforma.

[1] Assistencialismo é o auxílio direto para atender necessidades materiais, sociais ou físicas de pessoas. É uma forma crucial de ajuda em situações de crise humanitária, desastres naturais, ou de conflito em que populações sofrem com falta de suprimentos básicos. Ele cumpre com a lógica de Jesus: “tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram”[5]. Porém, apenas assistencialismo não é capaz de transformar a realidade da pobreza.

[2] Desenvolvimento é trazer os necessitados à autossuficiência. É sobre tirar o pobre da miséria, é sobre ensinar a pescar. É possibilitar que pobres tenham oportunidades e capacidades para superar a pobreza. Deus é o maior interessado no desenvolvimento dos necessitados. Segundo o salmista, Ele é quem “tira os pobres da miséria”[6]. Ele é o regente maior do desenvolvimento social no mundo. Porém, há limites para o que o desenvolvimento pode fazer; às vezes é preciso buscar reformar o sistema, ou seja, mudar as regras do jogo.

[3] Reforma é alterar as estruturas sociais que causam ou pioram a dependência e falta de oportunidades dos necessitados. É lutar contra sistemas legais que favorecem o rico, contra políticas xenofóbicas que rejeitam o estrangeiro, contra práticas imorais e corruptas que prejudicam a sociedade. Esta forma de transformação vai além de suprir necessidades imediatas ou cuidar da autossuficiência do necessitado. Reforma é romper com o jugo da desigualdade, é transformar as políticas públicas em favor do vulnerável. É mais que ensinar a pescar; é limpar o rio para o peixe sobreviver. É fazer como a Rainha Ester, que teve um papel fundamental em influenciar um decreto do Rei Xerxes para salvar o povo judeu do genocídio.

Como pode alguém que busca viver pelo Reino de Deus não se preocupar com o necessitado? De que adianta esse alguém ir à igreja e depois falar “vá em paz” a alguém que necessita de comida?[7]

Minha esperança é que esta frase seja o elo entre os que buscam a Deus sem visar transformação social e os que querem mudar o mundo sem buscar a Deus:

Corações transformados pela graça divina transformam a sociedade pelo amor divino, pois sem Ele, nada podemos fazer[8].

  • Matheus Ortega é músico, artista, cineasta, escritor, sonhador. Pai do Levi, marido da Bruna e filho de Deus. Você pode conferir mais de suas imagens em seu perfil no Instagram.

 

[1] Oxfam, 2016. An Economy for the 1%. https://www.oxfam.org/en/research/economy-1

[2] Mt 5:6

[3] Is 1:17

[4] Mq 6:8

[5] Mt 25:35

[6] Sl 107:41

[7] Tg 2:15-16

[8] Jo 15:5

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