Por Renan Vinícius

Caro leitor,

Se você assiste à série La Casa de Papel, ao observar a foto acima certamente irá reconhecer a personagem Tókyo. Se você não assiste, provavelmente reconhecerá que existe uma mulher na foto e algumas outras pessoas atrás dela. Você conseguiria me dizer quem são essas outras pessoas? Será que são homens ou mulheres? São jovens ou adultos?

A não ser que você seja muito observador, provavelmente não irá conseguir identificar os demais integrantes. Eu, por exemplo, mesmo assistindo à série, sou incapaz de identificar quem são eles. Talvez você me considere o senhor do óbvio por dizer isso, mas a verdade é que não conseguimos identificar as outras pessoas da foto simplesmente porque elas não estão expostas. Elas estão com máscaras.

Você já parou para pensar que nós costumamos usar máscaras o tempo todo nessa vida? Se ainda não, deixe-me te dar um exemplo: imagine uma pessoa que canta muito bem. Um conhecido, ao vê-la, diz: “Nossa, Fulaninho! Como você canta bem! Vi o vídeo que você postou ontem no Facebook. Eu curti demais!”. Muito provavelmente, Fulaninho irá reagir mais ou menos assim: “Ah, que isso, obrigado! Mas eu estou só treinando, preciso melhorar e aprender muito ainda”. Enquanto isso, internamente, ele pode estar pensando algo do tipo: “Rapaz, não é que eu sou bom mesmo? Olha só, ele curtiu meu som. Vou gravar mais!”. De repente, se ele tiver uma autoestima bem elevada, pode até completar (mentalmente): “Eu é que deveria fazer uns solos no grupo de louvor. O Beltraninho não consegue alcançar nem metade das notas que eu alcanço”.

Embora este exemplo possa não ser tão chocante, você concorda que a pessoa do diálogo estava mostrando uma falsa humildade? No fundo, no fundo, ela sabia que era muito boa no que fazia, mas quando alguém comentava sobre o assunto ela desconversava, dizia não ser tão boa assim, embora internamente ela pensasse o contrário. A pessoa em questão estava, mesmo sem perceber, usando uma máscara. Não estava mostrando quem ela realmente era. Afinal, se respondesse o que estava realmente pensando, poderia ser considerada uma pessoa que “se acha demais”.

Como eu disse acima, esse exemplo pode não parecer tão chocante, mas imagine que nos comportamos assim em muitos aspectos da nossa vida. Provavelmente, ninguém quer ser uma pessoa que as outras considerem como “orgulhosa”, “arrogante”, “fofoqueira”…

Com o medo de sermos julgados ou expostos, temos a tendência de esconder nossas vulnerabilidades ao máximo. Queremos sempre mostrar o nosso melhor lado. Nos apresentamos aos outros de um jeito diferente, em um “eu idealizado”, que dificilmente representa quem de fato nós realmente somos.

O dilema desta abordagem é que com ela nós tratamos não a origem do problema — que pode ser uma autoestima muito elevada, por exemplo. Desse jeito, tratamos apenas a aparência. Maquiamos a realidade e fingimos que está tudo bem, como quem varre a sujeira para debaixo do tapete. Enquanto isso, o problema continua ali, intacto e escondidinho — como os demais personagens da foto, atrás da Tókyo.

Por outro lado, quando reconhecemos que somos falhos e precisamos trabalhar em alguma área da nossa vida (seja ela o orgulho, a ansiedade, a ira, ou qualquer outra), nós tratamos a origem do problema e, aos poucos, vamos deixando as máscaras caírem. Ao final, não precisaremos mais delas. Pode parecer chocante, mas a partir daí seremos amados como a pessoa que realmente somos, não como a pessoa que mostramos ser.

“Felizes as pessoas que sabem que são espiritualmente pobres, pois o Reino do Céu é delas” (Mateus 5:3 NTLH).

  • Renan Vinícius, 23 anos. É paulista de certidão e goiano de coração. É membro da Igreja Presbiteriana de Higienópolis, em São Paulo. Escreve em seu blog pessoal, Assim eu sou.

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