Daniela Bianchin atua como conselheira tutelar desde 2016.

Daniela Bianchin é casada com Thiago, tem 26 anos e atua como conselheira tutelar no interior de São Paulo. Ela é formada em ciências sociais e teve a oportunidade de atuar como professora em escola pública e também com medidas socioeducativas (com adolescentes em conflito com a lei), o que a aproximou bastante das ações do Conselho Tutelar, órgão no qual ela atua desde 2016.

 

Qual a importância do Conselho Tutelar?

Apesar de ser muito mal compreendido, o Conselho Tutelar é um órgão fundamental, encarregado pela sociedade para defender a efetivação dos direitos das crianças e adolescentes.

 

Qual foi a sua motivação para se tornar uma conselheira?

O interesse surgiu ainda na graduação. No pleito para a eleição de 2015 eu estava fazendo um curso de missões, começando a ler sobre vocação e entrei no processo para ver como funcionava, sem muitas pretensões de ser eleita.

 

Que dificuldades você encontra para exercer o seu trabalho?

O trabalho em si é muito pesado. Lidamos diariamente com situações de negligência, abandono, maus-tratos, abusos de todos os tipos, crueldade, estado omisso, profissionais cansados, politicagem, comunicação truncada, rede desarticulada. Acho que a grande dificuldade é não deixar o coração ceder ao desespero.

 

Qual a maior lição que você aprendeu nesse trabalho até agora?

Aprendi que não existem heróis nesse meio. O cristão que trabalha com garantia de direitos precisa viver o momento presente, acolher as pessoas, cumprir com suas atribuições e descansar em Deus. É preciso cultivar a esperança para poder seguir adiante – no cultivo há trabalho, mas também descanso.

 

Crianças em atividades realizadas pelo Conselho

Como você utiliza o trabalho para comunicar Cristo às pessoas?

 

Acredito que o reino de Deus é anunciado quando se trabalha com amor e temor. É uma responsabilidade gigante. Lidamos com famílias e indivíduos em toda a sua complexidade, na maioria das vezes envoltos em contextos sociais muito difíceis acompanhados de históricos de drogadição e, ou, saúde mental comprometida por falta do básico. Não é papel do Conselho Tutelar executar as medidas que aplica, mas só de fornecer um espaço para a escuta qualificada, encaminhar o caso para o serviço adequado, cobrar o Executivo e auxiliar na formulação de políticas públicas já é muito. Penso que Jesus é glorificado quando um conselho tutelar cumpre com suas atribuições.

 

As igrejas da sua cidade oferecem algum auxílio ao trabalho do Conselho Tutelar?

Não diretamente. São as igrejas que atuam de fato nos bairros com problemas sérios e exercem um papel fundamental de incentivo a crianças e jovens em vulnerabilidade. No entanto, de modo geral, a tendência do movimento evangélico é tratar somente do aspecto espiritual e casos de violência e abuso não denunciados podem ser devastadores na vida de alguém.

 

Que dica você dá para os cristãos que desejam se engajar numa função como essa? 

Estude muito, aprenda a ouvir e dialogar com diferentes pessoas e setores da sociedade e, principalmente, fique firme em Jesus.

 

Como manter a esperança em meio a um trabalho com tantos desafios?

Olhando para a cruz. Se a gente perde a noção da tríade “criação, queda e redenção”, deve ser muito difícil não agir de modo mecânico em um trabalho como esse. Apesar dessa condição de pecado tão profunda, em Cristo – que nos faz inteiros – é possível ainda gozar das belezas do caminho e confiar em sua promessa de que tudo será redimido.

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