Progressistas ou conservadores, mas antes de tudo cristãos
Por Rafaela Senfft
Se você abrir seu Facebook agora, é quase certo que verá discussões inflamadas e beirando o baixo nível, irmãos brigando e se acusando, deslegitimando a salvação e a fé do outro.
Vivemos tempos de polarização política extrema. Cada grupo escolheu um lado com o qual se identifica mais – seja por sua história de vida ou pela coerência. As ideologias têm problemas, nunca serão perfeitas, e hoje é comum escolher um lado e abraçar tudo que esse “combo” traz consigo. Isso é um perigo, pois quando se compra o pacote, consome-se tudo o que está lá.
Essas perspectivas polarizadas têm influenciado a igreja a ponto de ela perder o controle: ao invés da igreja ser modelo para uma sociedade justa, ultrapassando esses pontos ideológicos, a igreja tem vivido à sombra de teorias. Isso tem gerado intrigas e disputas no corpo de Cristo. Mas quem é que julga? Quem sonda corações?
Sentamos na cadeira do juiz. O Justo Juiz ficou à sombra das vaidades humanas. Jogamos para a tangente o que era pra ser o prumo. No âmbito cristão essa polaridade tem nomes: os progressistas de esquerda e os fundamentalistas conservadores; nomenclaturas dadas pelos oponentes aos grupos alheios.
Um grupo se diz ser todo Amor: Jesus é amor puro! Concordo. O problema é o “amor vovô”: minar erros e negociar princípios inalienáveis em nome de um amor mal interpretado, não sacrificial.
O outro grupo se diz detentor do conhecimento teológico universal, da biblioteca de verdades, e qualquer experiência fora dessas estantes é heresia ou autoajuda. Limitam Deus a uma teologia e a um determinado modo de vida.
(Isso me lembrou um pouco os quadros feitos no Renascimento Italiano, nos quais os pintores registravam as cenas que se passavam no Oriente Médio com a estética italiana, pois só conheciam a Itália e pensavam que ali estava o centro da sapiência e de importância do mundo, então assim travestiam todo um cenário.)
Um grupo acusa o oponente de desamor; e este grupo, por sua vez, acusa o adversário de um racionalismo débil, cheio de sentimentalismo. Na Historia da Arte, todos os movimentos racionalistas desprezavam o que dizia respeito à emoção/afeto, e vice versa: os artistas que trabalhavam com referências empíricas ou viscerais desprezavam os movimentos mais racionalistas (fundados na lógica Greco-romana). Mas os dois eram importantes e se complementavam.
Jesus une as duas coisas. Deus é dono de todo conhecimento, Ele criou todo o universo e suas leis. Deus também é dono do afeto, Deus é Amor.
Tenho uma cena recorrente em minha mente, de que no céu, quando Deus chamar seus filhos, vai de propósito colocar lado a lado um intelectual calvinista da mais fina estirpe e aquela senhorinha pentecostal, lavadeira da favela, de canto estridente e dominadora das línguas estranhas nas reuniões de batalha espiritual. Ah, como Deus transcende nossos limites!
No quintal da minha casa, que chamo de jardim, faço um exercício adâmico pré-queda, orando e conversando com Deus. Numa conversa sobre este assunto, Deus ministrou ao meu coração uma repreensão que serve a nós como Igreja:
“Vocês perderam a comunicação entre si; a comunicação de irmãos. Vocês se comunicam uns com os outros como o mundo se comunica. Ignorando uns aos outros, tratando-se como descartáveis. Não conversam, não se entendem, não se perdoam, se tratam mal. A maneira do mundo tratar uns aos outros contaminou vocês e isso me entristece. Vocês não vivem pelo que os une, mas se tratam pelas diferenças. Não se relacionam pelo que deveria os unir, que sou Eu. O que os diferencia tem sido o que define a relação entre vocês. As diferenças não teriam tanta relevância e não seriam o fator determinante na maneira de vocês se relacionarem se Jesus fosse o prumo, o ponto de convergência”.
Irmãos, vamos pensar nisso: Jesus está ficando na retaguarda, em segundo, terceiro, quarto plano. Estamos colocando o principal à sombra de teorias. “Progressistas” e “conservadores” são, antes de tudo, cristãos. Foram salvos pelo sangue de Jesus e têm o Espírito Santo. Deus não abandona nenhum dos que são Dele. Não transformemos nossas diferenças em cercas, mas voltemos nossos olhares para Jesus, para a essência.
Busquemos o Espírito Santo, pois no Brasil somos milhares, e esse país precisa ser impactado pela nossa fé e nosso testemunho como igreja. Historicamente, isso já funcionou no Império Romano, o amor entre os irmãos era exemplo para aquela sociedade. Alguns romanos ficavam tão impactados com a conduta da igreja primitiva, que se voltavam para Deus.
Que o Espírito possa avivar nossos corações. Amém!
- Rafaela Senfft é artista plástica formada pela Escola Guignard/UEMG, onde é professora de História da Arte Ocidental no curso de extensão. É membro de CIVA (Christian in Visual Arts) e congrega na Caverna de Adulão, em BH.