Por Jeverton “Magrão” Ledo

O exercício de recordar os diferentes momentos passados nos ajuda a manter vivas em nossos corações as pessoas queridas e as lições aprendidas. Tenho boas lembranças dos aromas e sabores que perfumavam nossa casa quando eu era criança. Mamãe é daquelas cozinheiras de “mão cheia”. Cozinha diferentes pratos, sobremesas que dão água na boca, e arranca elogios de paladares exigentes.

Mesmo sem ter a noção exata, ainda pequeno eu já era curioso, queria entender como é que de um par de pequenas mãos saiam pratos tão deliciosos. Tudo isso, claro, nos remete à mesa, reunião de família, visita de amigos. Hospitalidade na simplicidade do partir o pão, compartilhar momentos bons e outros não tanto. A alegria do anúncio de um casamento, da chegada do primeiro filho… Isso é vida, vivida no seu dia-a-dia.

O tempo passa, a gente cresce, sai de casa e vai se percebendo em nossos pais. A curiosidade de criança virou uma paixão, por pouco não me tornei um chefe. Mas assim como minha mãe, em muitos momentos escolho a cozinha, os temperos, o tempo que costumo chamar de terapêutico. Afinal sou daqueles que quando cozinha gosta de estar sozinho. Explorando e descobrindo novos sabores. Sabores que quero sentir espalhados pela casa. Na minha, na casa de amigos, na de futuros amigos. Cozinhar abre portas!

Ao longo dos anos tive boas experiências, vivi diferentes momentos. Fui apresentado a outras culinárias, sabores exóticos, me vi trocando receitas em certos encontros, guardando segredos ou despertando curiosidade. “Opa, aqui nessa receita tem noz-moscada?”. E tudo podia virar uma brincadeira de desvendar os mistérios da cozinha.

Viver o cristianismo é compartilhar, e não há melhor lugar do que à mesa. Mesa que traz a presença do Mestre, com palavras que inundam o lugar de graça, perdão e compaixão. Sigo cozinhando, exercendo o ofício de servir, mantendo a casa aberta e a mesa posta e colorida. E assim, ao me permitir conhecer o outro, que por vezes parece se encontrar tão distante, vou ganhando uma percepção mais clara de mim mesmo.

Nesse vivenciar de outras culturas, gostos e costumes, o ato de cozinhar tem servido como ferramenta para quebrar barreiras, vencer as diferenças e cultivar um jardim regado de amor.

  • Jeverton “Magrão” Ledo é missionário e trabalha com juventude. Ele e a esposa estão na Bélgica, onde vão morar por um tempo.
  1. Antonia Leonora van der Meer

    Que artigo gostoso, dá água na boca. Espero o dia em que vou poder saborear uma das suas receitas criativas, enquanto compartilhamos nossas histórias e experiências sentados juntos em volta da mesa.

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