Por Jeferson Cristianini

Uma das marcas da sociedade contemporânea é a individualidade. A pós-modernidade imprimiu nas pessoas o desejo de olharem somente para si mesmas, reproduzindo assim uma sociedade individualizada e narcisista. “Tudo é meu”. O pronome possessivo tem sido usado por várias vezes e soa como música aos ouvidos dos moderninhos de plantão.

Essa sociedade individualista ao extremo enaltece as pessoas que pensam e agem somente a partir de si mesmas, e nega o conceito do coletivo. Tudo é compartimentado, tudo é feito sob encomenda a gosto do freguês, tudo é personalizado, tudo é com a “minha cara”. Tudo deve ser personalizado. A ideia de coletividade vai se perdendo e se diluindo diante de tanto egoísmo concentrado.

Os fones de ouvidos são um dos símbolos de nossa geração individualizada. A grande maioria das pessoas ao nosso redor está conectada à internet em seus smartphones, vidrados na tela e ouvindo um som nos fones. Especialistas dizem que ao colocar o fone, o cérebro entende que automaticamente estamos nos desligando de tudo que nos cerca. É curioso como muitas vezes as pessoas estão no mesmo ambiente, mas cada uma ligada no seu som.

Os fones de ouvidos se tornaram uma barreira para os relacionamentos, pois limitam as conversas e as interações sociais. Mas para quem vive conectado, para quê conversar pessoalmente? Os fones de ouvido tapam os ouvidos para os ruídos do contexto e levam a um “outro mundo”. Um “mundinho” regado a muita música. Um som que desliga as pessoas do mundo real.

Um dos pontos positivos dos fones de ouvidos é que com eles não precisamos, às vezes, ouvir uma música de má qualidade, ou estilos musicais com os quais não nos identificamos. Os fones são de todos os tamanhos, cores e modelos. As pessoas saem de casa ouvindo música, trabalham ouvindo música, e voltam para casa ouvindo música. Assim como o celular se tornou uma “extensão” das pessoas, é como se os fones fossem parte da orelha. Orelhas sem fones ficam esquisitas nessa percepção moderna e urbana.

Nada contra os fones de ouvidos, mas eles estão nos deixando ainda mais individualistas. Uma das marcas mais negativas do ser humano é quando ele foca em si mesmo e pensa que tudo deve orbitar a seu redor. O problema dessa individualização exacerbada é que, se não nos libertarmos dessa cultura, teremos que conviver daqui alguns anos com pessoas mimadas, que querem tudo do seu jeito, que não saberão se relacionar nem terão assuntos para conversar, e ainda sofrerão com problemas de audição.

O triste cenário de jovens e adolescentes seculares imersos nessa cultura individualista, usando seus fones de ouvido como uma forma de escapar da realidade é um no qual temos que intervir. O problema é que muitos cristãos também foram sugados e seduzidos pela cultura secular que prioriza o entretenimento. Nossa juventude precisa ser alcançada com as propostas relacionais do cristianismo; e nossa juventude cristã precisa influenciar seus colegas e amigos para que eles sintam o prazer de amar a Deus e não “viver mais para si mesmos”.

Mas como veremos e amaremos o próximo se estamos desligados desse mundo? O cristianismo nos ensina a nos desnudarmos da velha natureza que prioriza o “eu”, nos ensina que devemos viver para a glória de Deus e não para nós mesmos. O cristianismo nos ensina que devemos tirar o nosso ego do altar e priorizar Jesus Cristo como único Senhor. O cristianismo nos ensina amarmos a Deus e amarmos ao nosso próximo como a nós mesmos. O cristianismo nos leva em direção ao próximo, e o próximo é o alvo do nosso amor. O cristianismo nos ensina a não nos moldarmos à cultura secular, mas nos renovarmos na Palavra para sermos transformarmos a partir dos conceitos do reino de Deus. Uma das formas de amar no nosso tempo talvez seja tirar os fones e “dar ouvidos” às pessoas que nos cercam. Ouvir é uma forma de amar.

A cultura contemporânea ensina uma espiritualidade secular, que foca no ego, sendo o “eu” idolatrado. A espiritualidade cristã coloca o ego no altar e queima-o, priorizando o amor a Deus e ao próximo. Aqueles que amam a Deus passam a ter uma nova missão de vida: fazer Jesus conhecido através de suas vidas. Tire o fone, ore pedindo para que Deus te use nessa sociedade individualista, viva intensamente para Deus e seja sal e luz.

A sociedade precisa de você, precisa saber da transformação que Jesus operou na sua vida. É triste saber que nesse contexto digital muitos fogem e se isolam com seus celulares e fones, e muitos acham normal. Enquanto nos isolamos no nosso “mundinho”, estamos demonstrando que as pessoas que nos cercam não são importantes. Desligue o fone e veja, ouça as pessoas que estão ao seu redor. Não seja indiferente.

  • Jeferson Rodolfo Cristianini é pastor da PIB Bauru.

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