Comemoro a Reforma pelos reformadores, não pelos reformados
Por Maurício Avoletta Júnior
Sou fã de Chesterton e isso não é segredo nenhum pra qualquer um que passe pelo menos 2 segundos do meu lado. Com toda certeza se ouvirá a frase “como meu querido Chesterton costumava dizer…”. Tenho por ele uma admiração muito grande, pois foi ele quem Deus usou (com a companhia do Tolkien e do Lewis) para me ajudar a não perder a fé. Eu cheguei na beira do abismo, mas Deus me permitiu ler Chesterton. Costumo brincar que a leitura das Escrituras virou todo meu Universo de cabeça para baixo, já a leitura de Chesterton virou meu mundo de cabeça para baixo.
Bom, por que estou falando em como um Católico Apostólico Romano foi usado por Deus para salvar minha fé, em pleno aniversário da Reforma Protestante? Já já as coisas farão mais sentido, eu espero. Li recentemente um texto do teólogo português mais adorado em terras tupiniquins, Tiago Cavaco, no qual ele diz que quanto mais chestertoniano ele se torna, mais evangélico ele é. E isso não porque o catolicismo de Chesterton o afasta do catolicismo e o torna cada vez mais um evangélico, mas porque o protestantismo de hoje tem as mesmas características do catolicismo da época de Chesterton. O catolicismo era a religião dos pobres e dos loucos, dos retrógrados conservadores e da escória da sociedade, assim como é o protestantismo hoje.
Se você me conhece pessoalmente ou ao menos já leu algum texto que escrevi, sabe que tenho um carinho muito grande pela Tradição Cristã, principalmente a Tradição Católica, embora eu não seja Católico – não Romano, pelo menos. Por isso, nunca me surpreendi ou me ofendi com as duras críticas de Chesterton à Reforma, pois concordo com muitas delas. Ele costumava levantar críticas sobre a “lógica” determinista do Calvinismo, sobre o problema da autoridade interpretativa das Escrituras, sobre o abandono da Tradição e sobre o perigoso progressismo existente no seio do protestantismo. Essas são críticas com as quais concordo de A até Z (talvez com outras eu não concorde tanto, mas ainda não tenho capacidade intelectual para refutá-las). A questão aqui, porém, não é essa. Embora existam pontos a serem criticados na Reforma, acredito que teólogos como Peter Leithart, Kevin Vahoozer e Alister McGrath têm maior moral do que eu para elencá-los. Não farei isso aqui, pelo contrário, mostrarei que realmente admiro a Reforma e os reformadores. O meu problema são os reformados…
Ah, que gente chata!
Quando conheci o Movimento Reformado, confesso que me apaixonei cegamente. Ignorava – completamente por querer – os erros dos reformadores. Contudo, sempre tive bem claro o que era ser reformado. Ser reformado nunca foi sobre disputas ou pedigree teológico, mas sobre buscar a união do corpo na casa do Pai. No entanto, não queremos uma casa caindo e nem queremos demoli-la, queremos deixá-la exatamente da forma como deveria estar, queremos preservá-la. Ser reformado sempre foi sobre se reconhecer dependente do senhorio de Cristo e da sua graça. Ser reformado, embora isso não aconteça mais, é sobre trazer a paz e a verdade como uma só e nunca sacrificar uma em detrimento da outra.
Infelizmente, o que eu vejo hoje não é isso, pois os novos reformados não querem ajudar a reformar suas igrejas, ainda que isso demore toda a vida. Eles querem simplesmente demolir e construir algo por cima dos escombros. Eles não sabem mais esperar e muito menos confiar, pois se esqueceram de a quem servem. Se ser reformado é zombar daqueles que não compartilham da mesma posição teológica que eu, então eu não sou um reformado. Se ser reformado é usar a Bíblia para basear tudo o que eu faça, ainda que pra isso eu tenha que distorcê-la, só para poder dizer que sou um reformado “bereiano”, então eu não sou um reformado. Se ser reformado é fazer parte de uma elite teológica que ostenta uma herança que não respeita, então não sou reformado.
Assim como Chesterton optou em sua época pelo Catolicismo, pois via nele a fiel defesa do Cristianismo e o que ele chamou de bom senso, eu também optei pelo evangelicalismo, pois é ele que hoje defende as verdades óbvias que a Igreja Reformada não defende mais. A Igreja Reformada hoje defende a TULIP e critica Igrejas genuinamente cristãs, simplesmente porque não seguem as mesmas doutrinas secundárias que ela, chamando-as de heréticas, quando, na verdade, heresia é aquilo que traz divisão, não só nos entendimentos centrais do Cristianismo, mas também no corpo de Cristo.
Se ser reformado hoje deixou de ser sinônimo de ser cristão e se tornou simplesmente mais uma nova seita, um novo clubinho só para os iniciados nas artes dos solas, então não tenho mais como carregar esse título. Tiago Cavaco tinha razão: quando mais me torno Chestertoniano, mais evangélico me torno. Por consequência, menos reformado continuo. Ainda creio nas mesmas coisas que sempre acreditei, mas não quero mais ser associado com essa elite. Quero voltar a ser parte dos esquecidos…
Parabenizo e comemoro a Reforma, por causa dos reformadores, não dos reformados.
Soli Deo Gloria
• Maurício Avoletta Junior, 22 anos. É membro da Igreja Presbiteriana do Tucuruvi (SP). Formado em Teologia pela Mackenzie, estudante de filosofia e literatura (por conta própria); apaixonado por livros, cinema e música; escravo de Cristo, um pessimista em potencial e um futuro “seja o que Deus quiser”.
Wederson Sales
Tens muita razão Mauricio, pois quando eu estive a ponto de me tornar “reformado”, fiquei abismado como tinha gente arrogante nesse meio. Isso me lembra um pouco os líderes judeus na época de Jesus e Paulo, e como tem sentido o que Jesus disse a respeito de remendo novo em pano velho se referindo a mentalidade religiosa e legalista dos farizeus. Não conheço as obras de Chesterton, mas certamente ele deve ter visto o mesmo que eu em alguns grupos protestantes reformados. Realmente é lamentável que esses irmãos tenha feito da reforma um verdadeiro UFC cristão, que nada tem a ver com Jesus. Ainda bem que ainda há um remanecente que não entrou nesse ringue teológico e jogou mais lama naquilo que acreditam e defendem com unhas e dentes.
Maurício Avoletta Junior
Wederson, muito obrigado pelo comentário! =D
Se conseguir, leia a obra Ortodoxia do Chesterton, tenho certeza de que será uma das melhores leituras que já teve.
Rogério Marques Santos
Há no texto uma crítica generalizada aos reformados, o que , infelizmente, enseja injustiças. Se toda crítica a qualquer grupo cristão for desse tipo, ninguém mais poderá se dizer sequer discípulo de Cristo. Conheço bons e maus reformados. Mas sei que ninguém é tão bom quanto deveria ser ou tão mau quanto poderia ser. Convivência exige, portanto, certa paciência e humildade. Espírito de perdão. Conversa verdadeira. Do contrário, a exemplo do fariseu que desprezou o publicano, se estará desprezando o reformado em nome da justiça e do amor. Meu conselho ao jovem teólogo: não seja tão perfeccionista. Olhe para o próprio umbigo. Talvez você seja tão carente da glória de Deus quanto estes reformados aos quais despreza. Julgue-os com um pouco mais de misericórdia e não generalize. Um dia, quando você for mais velho e tiver uma consciência maior de seus pecados, talvez você venha a precisar de ser tratado com uma misericórdia que hoje você nega aos reformados ou a quem quer que não atinja os seus padrões de bom comportamento cristão.
Maurício Avoletta Junior
Rogério, se prestar atenção, verá pelo texto que sou reformado haha A questão é como aqueles que se dizem reformado tem agido em relação aos que não são. Sei que tenho erros e que o movimento da catolicidade ao qual me entendo como parte dele, também tem seus erros. Mas é exatamente para isso que somos corpo de Cristo: para nos corrigirmos mutuamente em amor. Acredito que tenha sido bem duro no texto sim, mas exatamente porque, de certa forma, ainda sou parte deste grupo ao qual critico. Sou um fruto da Tradição Cristã, mas também da Reforma Protestante.
De qualquer forma, agradeço imensamente o seu comentário, pois ele exemplifica o que tento mostrar em meus textos: a humildade e a serenidade para agir com a Igreja de Cristo.
Muito obrigado, Rogério!
Thiago Italo
Que texto!
O que precisava hoje.
A alguns anos conheci as doutrinas na Graça, quase me assumi Calvinista. Mas confesso que ao estudar mais a fundo a Doutrina Arminiana e confronta-la achei mais sentido bíblico nela.
Desde cedo me chamou atencao a arrogância que os jovens reformados a maioria advinda de Igreja Neopentecostais usavam para pregar seus verdades. Confesso que no início aplaudi alguns desses discursos, mas com o tempo vi que era muito conhecimento sem amor e isso me confrontou, e me fez repensar.
Depois disso decidi focar na Igreja Local, aprendi, vivi, ajudei irmãos, fui amado, cuidado. Passei a ser relevante na minha comunidade, fiz parte da liderança, passei a pregar, estudar e isso me fez feliz.
Hoje passo por um período de transição, mudo de Igreja por questões pessoais(nada a ver com a Igreja). Por conta dessa disponibilidade de tempo, passei a fazer parte de grupos reformados no WhatsApp, buscando com isso saciar minha fome de conhecimento. Grande erro!
Confesso que só tenho me entristecidos, vejo pessoas magoadas, cegas, vivendo uma religião Calvinista, e nela Calvino é Profeta, assim como Joseph Smith para os Mórmons, ou Ellen White para o adventistas.
Alguns jovens repetem duas a três vezes por dia em forma de meme que Pastoras (ordenação feminina) são servas de Satanás, e que Arminianos não são Cristãos convertidos.
Passei a ser mais ativo no grupo, não para defender algo diferente do Calvinismo mas para abrir os olhos para um debate “a mesa de comunhão”. Tento abrir os olhos para o respeito aos irmãos Pentencostais, mas tenho sido ridicularizados. Me mantenho no grupo pois vejo pessoas no privado falando comigo. Elas estão confusas e buscam amparo, pedem oração, pois não conseguem esse retorno em meio ao ” clube teológico”.
Encerro dizendo que estou em oração. Sinceramente agradeço pelo despertar que a teologia reformada trouxe ao jovens no Brasil, mas vejo alguns saindo de um extremo e indo para outro. Deixam os excessos do meio NeoPentecostal e entram numa vida de verdadeiros fariseus modernos.