Para alcançar algumas tribos é preciso falar a mesma língua, sem usar “evangeliquês”
Por Marcelo Caldas
“Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns”. 1 Coríntios 9:22
A Bíblia fala de um povo que era extremamente rejeitado: os samaritanos. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento a referência a eles era sempre de forma marginalizada. Em suas parábolas e andanças, Jesus enfatizava o perdão e a misericórdia direcionados a este povo (como na história da mulher samaritana em Sicar, registrada em João, capítulo 4).
Uma questão que deve ser respondida é: Quem seriam os samaritanos de nossos dias? Em um contexto urbano, alguns deles seriam os grupos “undergrounds” (roqueiros, rappers, surfistas, etc). Além destes, há um grande contingente fora das lentes da igreja: muito pobres, dependentes químicos, prostitutas, homossexuais, surdos e outros grupos de pessoas que são ignorados pela igreja local. Talvez por preconceito, talvez por desconhecimento, e, o mais provável, pela igreja não saber como evangelizá-los, acolhê-los e discipulá-los.
Uma dessas “nações” não alcançadas pela igreja hoje são os skatistas. Atualmente são 8,5 milhões de praticantes do esporte no país. De Norte a Sul há relatos de praticantes, de cidades grandes a pequenos vilarejos no Nordeste. Skate não é apenas um esporte, é um estilo de vida, com cosmovisão, cultura, linguajar próprio e vestimentas. Um grupo difícil de ser alcançado pela igreja.
Em uma pesquisa recente feita com skatistas de todo o Brasil, percebemos que o perfil vem mudando. Diferente do perfil imaginado pela sociedade, de que são rebeldes, usuários de drogas e insubmissos, hoje jovens e adultos praticam diversas modalidades, são influenciados pelo “lifestyle” (estilo de vida), mas são produtivos e responsáveis, além de saudáveis, utilizando o esporte como prática física para se manterem em forma.
O perfil rebelde e insubmisso, que ainda é verdade para uma pequena minoria, faz com que possamos imaginar que não haja interesse da igreja ou das agências missionárias em alcançar este público, o que não é verdade. Devemos separar os skatistas em dois subgrupos: os praticantes do esporte, que apenas “brincam” e não aderiram ao lifestyle, e aqueles que entraram de cabeça na cultura. São desses últimos que estamos falando…
Aqui não abordamos apenas os atletas. Há um universo de profissões e tribos que giram em torno desde público: lojistas, empresários, mídia (fotógrafos, videmakers), o meio artístico (bandas, como Charlie Brown Jr.), simpatizantes do movimento “underwear” (moda de rua), etc. Portanto o conjunto de pessoas alcançadas pode ser bem maior.
E é complicado tentar alcançá-los com ações genéricas de evangelismo, como teatro, panfletos e abordagem pessoal, que não surtem muito efeito se os “evangelizadores” não falarem a mesma língua ou não forem aceitos como parte da “tribo”. Muitos são altamente desconfiados; creem em Deus, mas são resistentes a instituições religiosas. Usar um “evangeliquês” com eles não dará resultados, só os afastarão do objetivo principal. É necessário todo um processo de aproximação, de ganho de confiança, para só então apresentar as boas novas de salvação.
Mas Deus não se esqueceu deste grupo! O Senhor tem levantado pessoas, ministérios e igrejas que visam alcançar os skatistas. Um destes grupos é a Christian Skaters do Brasil (CS), associação missionária com alcance global que conecta vários projetos locais no intuito de treinar e encorajar crentes que possuem algum tipo de conexão com este grupo.
Projetos como o Projeto Skate & Vida, na Bahia, desenvolvem ações evangelísticas e sociais, alcançando três grupos distintos: (1) Crianças e jovens em estado de vulnerabilidade em comunidades ribeirinhas e em grandes centros urbanos, (2) Skatistas locais de diversas pistas em Salvador e interior da Bahia (Ipirá, Ibicuí, Simões Filho, Lauro de Freitas, Mata de São João, Camaçari, Itabuna), (3) Grupo de Masters e Seniores atuando através de Evangelização via Relacionamentos. Ao todo, cerca de 500 skatistas são alcançados por estas ações.
Além deste projeto, outros são desenvolvidos de forma relevante em várias cidades brasileiras, como o Projeto Novos Sonhos (JMN Cristolândia – SP), Skate com Propósito (SP), Cristo na Base (SP), Manancial Skate (RJ), Skate Church (PR) e PESS (CE). Todos eles estão conectados a igrejas locais que dão suporte e cedem seus espaços – às vezes até o do templo – para a prática esportiva. Hoje, cerca de 20 ministérios são acompanhados pela Christian Skaters.
Outra ação relevante é a distribuição da “Skateboard Bible”, em parceria com a Sociedade Bíblica do Brasil, que, através do projeto “Bíblia de Afinidades”, produziu uma edição especial para os skatistas, no intuito de ser uma grande ferramenta para evangelização e discipulado. No encarte inicial há testemunhos de skatistas conhecidos mundialmente, que se converteram a Cristo e hoje são missionários ou pastores, utilizando o skate como plataforma de evangelização.
Observar e cumprir Atos 1:8 é dever da igreja: devemos ser testemunhas em Jerusalém (Missões Urbanas), Judéia (Missões Nacionais), Samaria (Tribos Urbanas e/ou Grupos específicos), até os confins (Missões Mundiais). Olhe ao seu redor, há outras “nações” não alcançadas em seu bairro! Há gente sedenta pela Palavra de Deus esperando ser alcançada. E você? O que vai fazer agora?
- Marcelo Caldas é pastor na Igreja Batista Metropolitana – Extensão Orla em Salvador (BA), idealizador do Projeto Skate & Vida e diretor da Christian Skaters Brasil – Nordeste. Casado com Jane, pai de Marcelo Jr., Matheus e Lucas, é mestrando em Missões e skatista Overall há 28 anos.
Fotos: Guilherme Andor