Os cristãos têm desafios na hipermodernidade, e não são pequenos #EMEP2017
Já parou para pensar sobre o estado atual da nossa sociedade? Como você a descreveria? Na XI edição do Encontro Missionário Estudantil e Profissional (EMEP) que aconteceu no período do carnaval no Centro Evangélico de Missões, em Viçosa (MG), o preletor Oseias Santos, pastor da Primeira Igreja Batista em Teixeira de Freitas, apresentou algumas das características deste nosso tempo, que implicam em grandes desafios para a igreja.
Oseias explica que, segundo a linha teórica que adota, do filósofo francês Gilles Lipovetsky, mais do que em uma era pós-moderna, aquela do conceito de liquidez de Zygmunt Bauman, já chegamos no ponto máximo, na hipermodernidade.
No novo estilo de vida fabricado na hipermodernidade, há a transição do individualismo limitado para o ilimitado, “uma tirania da subjetividade humana, o império do eu, com um mundo que gira em torno do ego humano”, como coloca Oseias.
Outra característica desse tempo é a base disciplinar flexível, visto que há uma grande resistência em sermos regulados por uma baliza disciplinar, seja a Bíblia ou qualquer código institucional que apresente moral e ética. A ideia então é a de um ser humano que, por rejeitar qualquer autoridade fora de si, torna-se seu próprio estatuto moral.
Há também a negação do passado e a compreensão de que o futuro é uma ilusão. “O homem da hipermodernidade é prova de que aquilo que foi prometido pela modernidade não foi cumprido. A rejeição do passado vem por não querer nada daquilo que pode limitar a liberdade, e se o futuro é ilusão, vive-se a absolutização do presente”, avalia o pastor.
E se antes o homem era tido como um ser político em sua essência, buscando os interesses públicos, agora é um ser voltado para suas próprias emoções, como resultado do movimento romântico de enaltecer as emoções humanas e fazer com que o homem viva em função delas. Passa a ser mais importante buscar seus interesses individuais do que se envolver em qualquer tipo de militância que diz respeito aos interesses da sociedade como um todo.
“Com isso temos o que talvez seja a pior tragédia: o prazer de lutar pelo bem supremo, que seria o interesse público, é substituído pela luta pelo bem estar. Mais do que lutar pelo bem do outro, lutamos pela nossa própria felicidade, uma felicidade individualista”, examina Oseias, que recentemente apresentou sua tese de doutorado sobre o tema.
O que fazer então?
A partir dessa complexidade gerada pela hipermodernidade, surgem alguns desafios para a igreja, para os cristãos que fazem parte desse corpo.
Para Oseias, precisamos parar para revisar nosso modo de ser e existir enquanto igreja. “Esse estilo de vida hipermoderno afeta a própria igreja, que se não assumir de fato sua postura enquanto expressão encarnada do reino de Deus, pode ser tomada por esse mesmo tipo de sentimento. Não podemos nos conformar com aquilo que é proposto por essa sociedade absolutamente individualista”.
Um dos maiores desafios, então, é não deixar que a comunidade de Cristo, que deve ser voltada para os outros, seja transformada em uma comunidade que também se torna individualizada, uma instituição religiosa privada voltada para si mesma, para seus próprios interesses. É preciso que a igreja seja exatamente o que contraria a lógica da hipermodernidade.
Outro desafio apontado por Oseias, que também pode ser encarado como caminho para mudança, é que a igreja resgate a teologia da encarnação, entendendo que Cristo é seu modelo ético de atuação no mundo.
“A teologia da igreja não pode gravitar apenas no mundo metafísico, não pode ser uma teologia desencarnada, que fica apenas na estrutura religiosa, pensando na vida que teremos no Céu, tirando os pés da existencialidade humana”, expõe Oseias. Frente a isso, é preciso que a igreja “revele ao mundo que nós de fato temos uma esperança, um jeito de viver e uma humanidade que é diferente daquilo que é proposto no mundo de hoje”.
Oseias conclui que é necessário resgatar o princípio da alteridade, porque precisamos do outro. Enquanto o mundo mostra um crescente desinteresse por aquilo que é do outro, o evangelho nos convida a ter responsabilidade pelo outro, a nos importamos.
Foto: Ranggi Manggala/Unsplash
Ambrósio Dolny
Muito bom..é a igreja do ” IDE ” .conforme Jesus.
Antonia Leonora van der Meer
Excelente reflexão! Com profundidade analisa a realidade da hipermodernidade, que traz grandes desafios para nosso testemunho, que depende de uma vida segundo o modelo de Jesus.