Por Jeverton Ledo

Ao permitir que a persiana da pequena janela do sótão não empoeirado, com cara de depósito, mas rosto de habitação, deslize me vejo novamente sonhador.

O céu se revela cinza, a chuva escorre suave e carrega consigo o lavar da alma e da mente.

Estou distante, separado por um oceano de lembranças e recordações que me aquecem.

Ainda é cedo desde a chegada no “mundo novo” (ou seria Velho Mundo)?

A vida segue, o movimento e movimentar despertam o desejo de enfrentar os novos desafios.

Sonhar é enfrentar, é enfrentamento de si mesmo na perspectiva do reviver, do novo caminhar, vivendo a vida sob o olhar inocente da criança que descobre e se lança.

O sotão pode me manter esquecido, empoeirado e prisioneiro.

Escolho abrir a porta, descer as escadas estreitas e seguir. Mesmo com a sensação errônea de que o sol deixou de brilhar.

Sou livre! Me vejo livre!

Quero me banhar de cultura, de encontros marcados por idiomas, cores, histórias, histórias de gentes. Anônimos, entusiastas, descobridores, viajantes, desbravadores de si mesmos.

Sou barro e, ao mesmo tempo, artesão, moldando e sendo moldado, aprendendo e compartilhando. Afinal e no fim das contas, a vida não é uma troca de experiências, vivências e marcas registradas de dias contáveis apenas por aqueles que estão vivos?

Tudo está envolto em uma atmosfera nostálgica, e embalado pela suavidade de trilhas sonoras cheias de emoção, em vozes tímidas, silêncios pensativos e certezas que pulsam bem forte dentro de corações resistentes e perseverantes. Na crença de um amanhã renovador, libertador e inspirador para os medrosos e desesperançosos vítimas de suas próprias bolhas.

Nota:
Magrão acaba de chegar à Bélgica, onde ele e a esposa vão morar por um tempo.

• Jeverton “Magrão” Ledo é missionário e pastor de jovens.