Semente
Semente é a gente quando ainda não é a gente. É só um projeto, um bico, um tino, um ponto.
É a gente sabendo que é mas que ainda não veio. A gente esperando, pulsando, dormindo. É a gente querendo mas não podendo, porque tem terra e luz e tempo por sobre a cabeça, porque esperar é sempre preciso.
Ser semente é tempo esperado, e é bom e calmo e quieto. Mas dói, dói porque é aqui mas já é lá, vivendo. É um querendo sair-se.
E é precisamente em semente que tudo aponta, ajunta, abarca. É sonho que virá à tona; é a gente mesmo que vira à luz, ao eco, e ao mundo visível dos outros.
Semente se sabe semente, mas ninguém mais sabe o que vem:
semente é segredo.
E de repente, um salto.
Rebenta flor, rompe terra e rompe escuro, estala, pipoca, brota. Sai da espera, agora é a gente no palco, é a voz soando fundo, é gente que ouve e aplaude, porque vê quem vem lá. Era a sementinha, era a quietude e calmaria, que morre agora.
Não termina, não. Só morre.
Pulsando na planta o viço, tudo ainda vive, remoçando. Sã e boa, eis a planta e a fruta. O som, indo longe! A voz, indo longe! O salto, a coragem, adeus ao escuro e à espera!
Frutifica um sorriso. Semente há de ser sempre, compromissada com essa voz em flor que só canta e há de cantar incessantemente: renasça, moça, renasça.
• Esther Alves, 20 e tanto anos, musicista, chorona, gosta de cachorros e de pizza de abobrinha. Visite seu blog pessoal.