Cristo vive em mim
Por Jofre Macnelli Aragão Costa
Gl 2.20; Mc 8.34-38
Interessante perceber como é prejudicial para nós não termos uma definição muito clara das coisas que deveríamos dominar. Aparentemente hoje com as facilidades tecnológicas somos conhecedores de muitas coisas. Na verdade temos um conhecimento superficial e generalista de tudo um pouco. Retemos tantas informações que, na verdade, pouco nos informa de quem somos de fato. Somos conhecidos pelos títulos (filho desse, neto daquele, estuda na escola tal, doutor fulano, etc.), mas isso não me diz quem você é. Na verdade não é você.
O mundo moderno constitui o indivíduo a partir do que ele é capaz de produzir. Vemos o fenômeno dos “adultos antes da hora” – fenômeno da adolescência precoce que ganha força, onde o indivíduo é “criança grande” ou “adulto pequeno”, de acordo com a conveniência da sociedade, que o trata de uma forma ou de outra. Curioso que tudo isso é permitido numa sociedade que vive a esquizofrenia de resistir a legar aos jovens a responsabilidade por seus atos, mas, ao mesmo tempo, estimular a maturidade prematura para encher de lenha a fogueira do consumo.
Esta dificuldade de definição da identidade está ocasionando nos jovens um problemão. O conceito de adolescência não é consenso. A OMS define que a adolescência dura dos 10 aos 19 anos, já o Estatuto da Criança e Adolescente dos 12 aos 18. Esse padrão é assumido em nossos trabalhos na igreja, inclusive nas escolas bíblicas. Porém para a publicidade basta ele se tornar um consumidor.
Essa indefinição de parâmetros sempre foi um problemão para qualquer pessoa. O texto de Gálatas 2 traz uma situação muito constrangedora por falta de entendimento com respeito à fé. Pedro e Paulo têm um desentendimento. Paulo tem que resisti-lo de forma dura por sua postura inadequada e imatura em relação aos irmãos gentios. Segundo a carta, Pedro sentava-se à mesa com os gentios e comia com eles sem nenhum problema, mas no momento em que chegaram irmãos de Jerusalém (judeus), Pedro mudou sua postura, afastando-se. Temeu o que os irmãos poderiam dizer dele. Deixou-se levar pela dissimulação dos judeus convertidos que havia na igreja e logo estava envolvido em uma grande confusão de divisão dentro da igreja dos gálatas.
Percebam que quando não há entendimento concreto e real dos princípios da fé facilmente seremos conduzidos pelo que diz a maioria. Somos impostos pelo discurso da maioria e deixamos de ser nós mesmos. Pedro não era mais um adolescente para ter tantas indefinições. Ele era bem ciente do que deveria fazer e como, no entanto “temeu” o que os irmãos de Jerusalém poderiam dizer a seu respeito.
Julgo que a questão de termos uma identidade está extremamente ligada à questão do caráter. Segundo os psicólogos e pedagogos, entre a idade de 6 e 7 anos a criança é moldada em seus princípios, sejam eles bons ou ruins. Ele cresce tendo o pai e a mãe como exemplos e, de acordo com o que vê, buscará vivenciar essa experiência. Na adolescência ele passa a ser cobrado como um adulto, de forma precoce. E conforme os exemplos projetados irá se formar um adulto de caráter duvidoso.
O preço é muito alto quando queremos agradar aos outros em detrimento do que é certo. O que motivou Paulo a chamar a atenção de Pedro foi a sua falta de testemunho. Faltou-lhe caráter!
Adolescentes e jovens são levados pelo temor do que os outros vão dizer. Se não é um “pegador”, é hostilizado. Se não fala os palavrões que a turma fala, é careta. Se não age com os demais, é bobão. Se fala que vai para igreja ao invés de ir para a balada, é um idiota. É nesse ambiente em comum, ou seja, quando estamos com aqueles que não são da mesma fé, que deveríamos mostrar de fato quem somos. Por isso Paulo diz: “Estou crucificado com Cristo, logo já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim, e a vida que eu vivo na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gálatas 2.20).
Você está procurando no lugar errado os termos da sua identidade. A Bíblia nos diz que Cristo é o modelo. O próprio apóstolo Pedro, posteriormente, explicou como podemos conseguir isso. Ele escreveu: “Cristo sofreu por vós, deixando-vos um modelo para seguirdes de perto os seus passos” (1 Pedro 2.21). De fato, pelo seu modo extraordinário de vida, Jesus Cristo tem muito a oferecer. Por aprendermos sobre ele e imitá-lo em nossa vida, podemos com certeza nos tornar pessoas melhores e mais felizes. Em Marcos 8.34-38, ele nos dá uma profunda reflexão do que significa ter uma identidade conforme a sua vontade.
Negar a si mesmo
Quem está disposto a negar interesses? Os próprios adolescentes gostam que os pais os considerem adultos de forma precoce para alguns interesses, pois poderão fazer coisas de gente grande. O que mais discutimos hoje em dia é a questão da venda de drogas legais aos jovens, a primeira transa, o uso da caminha, a presença de menores em bailes funks. Ou seja, quando há um interesse queremos ser adultos, quando essa “permissão” envolve responsabilidade e compromisso, vemos claramente o despreparo e imaturidade da sua parte.
Quando Jesus fala de negar a si mesmo Ele se refere ao que te é tão interessante. Aquilo que lhe prende e passa a ser seu grande desejo. Você está pronto a negar seus sonhos, planos, projetos em troca da vida que Jesus tem para você? Você abandonaria prazeres, mulherada fácil, dinheiro fácil para poder dizer não vivo eu, mas Cristo vive em mim?
Tomar a cruz
Você sabe que se resolver negar seus interesses em troca de uma cruz não terá mais a mesma popularidade. Aquela identidade que você julga ser a sua na verdade é o construto de uma personalidade moldada a partir do que as pessoas querem que você seja, e você acaba julgando ser isso mesmo.
Não será mais a mesma coisa. Pode ser que as pessoas não te olhem mais do mesmo jeito. Pode ser que sua popularidade seja abalada. É possível que não queiram mais tê-lo por perto. Você pagará o preço alto da rejeição. Isso é muito difícil para um jovem, mas saiba que Deus é com você. Ele diz: “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça” (Isaías 41.10). Apesar de aparentemente a cruz ser tão pesada ela nos é um fardo mais leve que Jesus nos deu, pois pior do que a cruz é sustentar uma imagem do que não é. A mentira é difícil de ser sustentada!
Siga-me
Seguir a Cristo implica em perda. E quem pensa em perder alguma coisa hoje? Você já ouviu alguém dizer: “como estou contente por ter perdido meu celular”? Não, você o chamaria de louco. “Se esta tão feliz por ter perdido porque não me deu logo?”, pensaria.
Para ganhar a vida que Cristo tem para cada um de nós, precisamos perder. Não será o momento de ter que renunciar aquelas amizades? E aquele namoro, você está confortável diante de Deus com a forma como você o está conduzindo? Será isso realmente correto? Você está transando ou pensa em transar com seu namorado só porque todo mundo da sua turma já fez isso? Não seja covarde em assumir sua fé em Jesus. O caminho é estreito e pequena é a porta que leva ao céu. Não são todos que entrarão! Você vai retroceder em nome de uma falsa estética, só para agradar seus “amigos”?
Não seja uma marionete nas mãos de ninguém. Essa fase tão importante de sua vida precisa de fundamentos sólidos. Cuidado com onde você está procurando se identificar. Cuidado com onde você tem posto sua confiança. “Maldito o homem que confia no outro, e que confia na força de seu braço” (Jeremias 17.5).
Seja feliz tendo sua vida em Cristo. Crucifique seu EU. Viva para Cristo e Por Cristo!
Imagem: Pencils/Pixabay
- Jofre Macnelli Aragão Costa é pastor da Igreja Batista Nacional em Planaltina/DF e também professor e coordenador da Unidade de Planaltina pelo Seminário Teológico Evangélico do Brasil. Atualmente é mestrando em Ciências da Religião com ênfase em análise do discurso religioso na FUV (Faculdade Unida de Vitória).