Não fiquem bravos se eles não tirarem 10
Alguns sentimentos estão cada vez mais comuns entre os adolescentes: irritabilidade; estresse; angústias profundas; sensação de solidão; agressividade, enfim, a lista vai longe. Como não sou da área isso aqui está mais para um chute do que um diagnóstico. Percebo que a razão dessas descompensações é, sobretudo, a pressão a que esses adolescentes são submetidos.
A rotina de um adolescente é puxada. Primeiro ele passa a parte da manhã e da tarde na escola, pois estuda em período integral. Quando está liberado no finalzinho da tarde, vai direto para o curso de inglês, ou no caso das meninas, vai para o Balé. Depois do curso, volta para a casa e ainda tem que encarar mais 2h30 de estudos, é nessa hora onde ele faz o dever de casa e estuda novamente a matéria do dia. Quando termina, resta tempo apenas para uma última refeição e ir pra cama, pois no dia seguinte tem que levantar bem cedinho e começar o programa de novo.
Essa rotina se repete de segunda a sexta e para alguns no sábado também. Se o menino é religioso, o dia de domingo é todo dedicado à igreja e as atividades religiosas. Com uma rotina tão cheia, que horas sobra tempo pra fazer o que realmente um adolescente deveria fazer?
Fora a essa pressão natural da rotina, existe a pressão dos pais para que as notas sejam sempre boas, o que faz com que ele tenha que estudar ainda mais e passar mais tempos em cursos e com a cara nos livros. É bem comum ouvir dessa galera, frases do tipo: “se minha nota for baixa meu pai vai me matar”. Como se a pressão familiar não fosse suficiente, existe também a pressão da própria escola, que destaca os melhores alunos criando uma competição não apenas intelectual, mas em várias outras esferas.
Além das transformações próprias da idade, fatores externos desempenham uma pressão cada vez maior. Os escapes se fazem necessários para aliviar a tensão e a pressão. A tecnologia torna-se um refúgio bem próximo e uma atração prática e simples, pois não precisa de mais nada além de uma boa internet. Não precisa de mais ninguém pra montar um time ou ter um quórum mínimo para se divertir.
Não sou contra os estudos, mas essa sobreposição dos estudos em detrimento de outras atividades que são naturais aos adolescentes é prejudicial e tem seus efeitos colaterais visíveis e invisíveis.
Sou feliz por ter passado a minha adolescência em uma época onde a única pressão que existia era pra ser o melhor no futebol, na bolinha de gude, na pipa, no taco, e, mesmo assim, caso perdêssemos, não éramos muito afetados, pois sabíamos que não passava de uma brincadeira. Isso que falta para os nossos adolescentes: um pouco mais de brincadeira. A “adultização” precoce acaba nos entregando jovens com a alma cansada, quando não, adultos com a alma infantilizada.
Por isso, pai e mãe, não fiquem bravos se eles não tirarem 10!
• Calebe Ribeiro é um dos pastores de jovens da Igreja Presbiteriana do Recreio, no Rio de Janeiro (RJ). É também missionário da Missão Jovens da Verdade.
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