Por Eliabe Lima

UltJovem_16_04_14_ViolinoAlgum tempo atrás entrei em uma orquestra. Queria tocar violino. Pensei sinceramente que seria uma tarefa fácil, mas estava tremendamente enganado. Entendi que a orquestra não era a exibição de um instrumentista, mas sim a união de acordes, cores, luzes, sentimentos, sensações, e histórias que se misturavam de forma perfeita e ordenada, formando a música que tocava o íntimo de meu ser e que me levavam mais perto do conceito primário de céu. Em um ano que participei e do material que estudei, pude construir algumas analogias do cotidiano de uma orquestra com o cotidiano da comunidade cristã.

Faço uso do texto do apóstolo Paulo escrevendo à igreja em Corinto em sua primeira carta no capítulo doze, que discorre sobre a formação de uma “orquestra”. Ele faz algumas observações dessa construção. A primeira é que na orquestra todos seguem o maestro. “Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.”1 Não importa o quanto o instrumentista é especializado, ele ainda assim é subordinado e comandado pelo maestro. O maestro dita o ritmo, a altura, quando silenciar ou dar mais ênfase, ele faz a dinâmica da orquestra, denotando as curvas que a música terá.

Na igreja, em teoria, nós deveríamos seguir alguém também. Como cristãos, a crença em um só Deus que é Senhor sobre tudo e todos é uma prerrogativa para nossa vida. Porém não temos visto isso acontecer. Sempre temos a tendência de prender nossa atenção em alguém que não é o maestro. Começamos a seguir somente o ritmo do instrumentista ao lado ou na pior das hipóteses, seguir somente nossa própria partitura, somente a nossa própria música. Nossa missão é voltar ao centro de toda a orquestra. Seguir a mesma música que é mantida e dada pelo maestro. Devemos voltar ao mesmo palco, voltar a formação inicial, tomar nossos devidos lugares e seguir todos o nosso devido maestro.

Em segundo, na orquestra cada um tem seu papel. Paulo diz que “A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum.”2 Cada área da orquestra tem seu representante, seu líder. No correcorre dos ensaios e aulas teóricas eu vi que todos estavam empenhados em aprender, cada qual com seu instrumento. Quem não queria aprender simplesmente saía da orquestra. Mas os que ali permaneciam praticavam da melhor maneira as suas funções. Alguns trocavam de instrumento e até de área, mas não saiam da orquestra. Na igreja nós encontramos essa mesma estrutura. Cada um tem seu papel fundamental na organização. A igreja é lugar de gente que acrescenta vida na vida de outros. O alegre anima o triste, o consolador dá esperança ao desiludido, o mestre ensina aos universitários, o baixo dá peso as finas notas de um violino, a bateria dá cores a uma viola. É importante destacar que a busca individual para crescimento é necessária para cada um. A maturidade vem conforme o absorver das situações. Na orquestra não tem lugar pra gente que fica parada, e também a igreja não é lugar de gente inativa. Pessoas acomodadas são expectadores da arte dos protagonistas. Deus não levantou a sua Igreja para ser expectadora, mas sim protagonista juntamente com ele. Protagonistas que carregam o criador da história em suas histórias, que apresentam o ato revelado de um corpo velado. A igreja é formada por artistas que decidiram apresentar ao mundo expectador a música da queda, da salvação, a música da esperança, a música da vida…a música de seu autor.

A última observação é que na orquestra todos são diferentes, mas formam uma só música. Paulo no verso treze diz que todos fomos batizados em um único Espírito3. Uma orquestra é formada por pessoas de diversas nacionalidades, cada um com sua história, cada um com seu esforço, empenho, dedicação e coragem. Uma igreja é formada por pessoas que também possuem melodias a serem ouvidas. Cada uma é uma forma diferente de se expressar. Somos um conjunto de diferenças explícitas, mas que soam um mesmo acorde. Somos pretos e brancos, lisos e encaracolados, somos filhos e irmãos, somos muitos, mas vistos apenas como um.

A igreja é a orquestra real que seguirá os comandos de seu maestro e tocará no palco da criação, para que o mundo, que é o expectador, possa se encantar com a melodia formada pela diversidade daqueles que perseveraram na execução da música criada por seu brilhante compositor. E quando o espetáculo começar e enfim se despir, o expectador, tomado pelo êxtase e silenciado pela grandiosidade, somente se levantará de seu lugar e aplaudirá com o balbuciar de “bravo, bravo, bravo” e enfim atenderá ao chamado irresistível da música que a todos alcança.

Notas:
1. 1 Coríntios 12.4-6
2. 1 Coríntios 12.7
3. 1 Coríntios 12.13

• Eliabe Lima, 23 anos, é pastor de jovens da Igreja Batista da Paz. Formou-se em Teologia pela FLAM (Faculdade Latino-americana de Teologia Integral).

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