Lições do alpinismo
Ontem não conseguia dormir. Abri um livro qualquer. Era a história de dois alpinistas em sua jornada rumo ao topo de uma montanha. Reconto aqui o que li:
Os dois jovens começaram a escalada no mesmo dia. Fizeram grande parte do trajeto juntos. Enfrentaram ventos e tempestades, o frio insuportável, o isolamento da montanha; perderam equipamentos no meio de uma nevasca e ficaram feridos pelas muitas quedas. No fim de cada dia, um deles afastava-se do acampamento e, por alguns minutos, ficava parado no frio, contemplando a beleza das cadeias de montanhas, a majestade da criação e seu Criador. Também para agradecer pelas conquistas até ali. O outro se alimentava rapidamente e corria para esconder-se do vento e descansar, pois levantaria cedo no dia seguinte para fazer render sua jornada. Chegar ao topo ocupava seus pensamentos todo o tempo e o mantinha andando quando chegava o desânimo.
Ao fim de uma semana, os dois completaram o desafio. Venceram todas as dificuldades e chegaram ao cume, vitoriosos. Tempos depois, ao serem questionados sobre a experiência, o primeiro deles disse:
– Foi incrível! Poder contemplar a beleza da criação lá de cima não tem preço! Uma das melhores experiências que tive na vida, com certeza. Não me importaria passar tudo de novo só pra ter aquela vista e reviver as boas lições aprendidas ali.
O outro homem, irritado com a pergunta que o faria relembrar dias difíceis, suspirou e disse:
– A pior experiência de todas. Aquele vento cortante deixando-me congelado e sem ar! Meu corpo doía, estava cansado e com fome, sozinho naquele inferno! Quando chegamos ao topo, não via a hora de sair dali e acabar logo com tudo. Que perda de tempo! E, antes de perguntar se faria isso outra vez, já respondo: não!
Ainda agora e não posso parar de pensar nos dois alpinistas. Na jornada em direção a cada conquista que almejo, nos longos dias de espera para estar no cume, enfrentando o frio e as tempestades, a forte motivação de chegar é o que me mantém andando. Será que sou também tão cega para ela ao ponto de não conseguir olhar ao redor e desfrutar a jornada? E no dia a dia da caminhada, com que espírito encaro as tempestades, quedas, nevascas e perdas? Foco mais meus olhos nas circunstâncias ou no plano geral?
Ainda agora eu não paro de perguntar: com qual dos alpinistas me pareço mais?
• Eliceli Katia Bonan, jornalista e missionária de JOCUM.
Marcela
É verdade! Quanta coisa deixamos de contemplar em meioa obra do Senhor em nossas vidas.