Indigente ou gente?
Por Kety Sanchez
Sabe este homem que a gente vê, andando sem rumo, parado sem rumo, sem eira e nem beira?Todo sujo. Cheio de fome. Cheio de sede. Chamamos de mendigo ou morador de rua.
Pois bem. A maioria destes homens provém de uma de uma decepção amorosa. Teve um que pegou a mulher no ato com outro. Saiu. Andando… querendo não mais ser. Negando a si mesmo. Achando melhor ser indigente do que gente. Deixou: casa, família e amigos. A cabeça não dá conta; sai andando.
A maioria deles também fala da Bíblia e canta músicas de igreja, recordando de um passado. Até que as drogas entraram em sua vida. E fazem dele o que quer.
Convencido pela ideia que é livre, vive nas ruas, crendo que nele ninguém manda, que é melhor assim.
Mas tem a lembrança de gente. Aí as lágrimas caem. Sente vontade de ser gente de novo. Mas a consciência o avisa que está feio e sujo. Então vem a vergonha de ser gente. Pois no meio das gentes, chegou assim. A gente não gosta.
Muitos pensam que é melhor deixar para lá este pensamento de voltar a ser gente. E se juntam aos indigentes. Onde se sentem gente. E vai a vida. Até onde ninguém sabe. Apenas andam…
“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.”
(O Bicho Homem, de Manuel Bandeira)
Nota:
Texto escrito a partir da experiência de evangelismo de rua nas madrugadas de sexta-feira, em Curitiba (PR), junto com a equipe Jocum VIDART.
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Ketelyn Sanchez Costa é graduada em Letras/Português e mora em Curitiba (PR). Estudou línguas e cultura na Universidade Sarasuwati em Bali, Indonésia. Também trabalhou lá como missionária e professora de português.