Nesse carnaval, está a fim de se misturar?
Por Wallace de Góis Silva
Alguns textos da Bíblia nos ensinam a ficar longe das pessoas más porque Deus não quer que elas nos influenciem. Por outro lado, Jesus nos ensina que precisamos chegar perto daqueles que são considerados indignos para mostrar o amor de Deus. Como entender?
Jesus, nosso maior exemplo, esteve ao lado das pessoas rejeitadas por seus pecados, e por isso temos motivos para nos “misturar com gente de má fama e tomar refeições com eles”. Mas, por causa disso, os religiosos acusavam Jesus de conversar com gente indigna, e para piorar, o Mestre elogiava os pecadores que reconheciam o próprio erro e repreendia os religiosos que fingiam ser perfeitos. A ideia é que precisamos nos aproximar das pessoas, principalmente as que mais precisam, sem deixar que as ações erradas delas nos influenciem. Ao mesmo tempo, temos que mostrar a elas, com palavras e ações, que a graça de Deus nos transformou e pode fazer o mesmo com elas.
Na época de Jesus, Roma dominava quase todo o mundo, inclusive os lugares onde Jesus e seus discípulos viveram e andaram. Para cobrir os gastos com as construções e garantir o conforto dos poderosos, o império estabelecia pontos de cobrança de impostos. Quem fazia esse trabalho eram os publicanos. Quem não tivesse dinheiro para pagar perdia os bens e até mesmo a liberdade. O evangelho diz que era justamente esse tipo de gente que se aproximava de Jesus, e ele preferia comer com eles a comer com falsos religiosos. Aliás, Jesus considerava a falsa religiosidade pior do que as ações de um publicano [Lc 18.9-4].
Outras pessoas de má fama também procuravam por Jesus. E elas eram consideradas assim porque praticavam atos imorais, viviam à margem da sociedade ou simplesmente pensavam diferente dos fariseus. Em Jesus, aquelas pessoas encontravam o perdão e a salvação que necessitavam. Ele dividia a mesa e fazia amizade com elas. Reconhecia que, apesar de tudo, havia a imagem de Deus naquela gente.
Assim como nosso mestre, a juventude cristã precisa se misturar, estar perto e ser amiga das pessoas que mais precisam do evangelho: aquelas que escolheram ou foram forçadas a viver sem dignidade espiritual ou social. Os dois tipos de gente sofrem com a opressão do próprio pecado ou do pecado de outras pessoas, inclusive o da nossa omissão. Mas, quando abrimos o coração para amar, os sinais do Reino de Deus frutificam em nossas vidas para transformar a vida de cada um que estiver ao nosso redor.
Ao invés de julgar, nossa tarefa é procurar ser diferentes daqueles religiosos, buscando expressar o amor de Deus a todas as pessoas, de todas as formas, em todos os momentos. E isso se aprende fazendo. Aceita o desafio?
____________________
Wallace de Góis Silva é teólogo e mestrando em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Atua como professor de teologia e de escola dominical para jovens e adolescentes.
marcos tomaz braga
perdão meu irmão ,eu discordo ,quando voce fala sobre “os jovens devem se misturar”.a mistura pode causar situaçoes perigosas.ex:voce sabe toda mistura tem que ser equilibrada ,porque se não estraga tudo nê verdade?e são poucos os jovens que tem essa qualidade..de não se contaminar com o contrario..deixo p/ meditação salmos 1..fique na paz de cristo jesus…
Jefferson
Antes, nós os jovens; precisamos nos reconhecer como Jovens Cristãos
Wallace de Góis Silva
Caro Marcos, obrigado por sua leitura e comentário. Concordo com você que as misturas são perigosas. A mistura a que me refiro é a de andar junto, se aproximar, e não de fazer o que é espiritualmente desaprovável. Por outro lado, como diria Karl Barth, crer é um chamado a se arriscar. E com isso faço minhas as suas palavras: “toda mistura tem que ser equilibrada”, porque a fé no evangelho deve nos aproximar das pessoas e não nos afastar, pois o amor a Deus se confirma na nossa relação com o próximo. Fica para nós mais uma tarefa: preparar a juventude cristã para semear o amor de Deus a todas as pessoas.
André
O sal dentro do saleiro não salga nada. Muitos e muitos cristãos (eu incluído) foram criados com a mentalidade de que deveriam fugir do mundo para não serem influenciados. Criamos nosso próprio “mundo”, nosso “gueto”. O medo de sermos influenciados tirou nossa fé em influenciar.
Se alguns jovens não tem essa qualidade de não se contaminar com o mal (talvez por conseqüência dessa nossa criação), acho que já passou da hora de ajudá-los a terem a mentalidade de Jesus, a mentalidade de alcançar, de influenciar e, sim, de se misturar!
No poder do Espírito (mudando nossas mentes e impulsionando nossas ações) nós podemos realizar isso!
Eliceli Bonan
Este texto fez-me refletir… e lembrar do melhor Carnaval de meus 20 e poucos anos, o Carnaval em que Deus mais falou comigo.
Não, eu não estava num retiro em minha igreja. Estava participando de um impacto evangelístico com uma equipe de JOCUM no litoral do Paraná. Desde o início, eu discordei da ideia. Misturar-me? Estar no meio do PECADO? Na minha mente religiosa, seria como ser um junto com eles e concordar com o que estavam fazendo. Meio que forçada, acabei indo parar lá, numa das praias mais badaladas do Paraná nesta época do ano. Mas decidi me envolver o mínimo possível. Iria participar dos evangelismos durante o dia, mas durante a madrugada absolutamente não!!! Eu, uma cristã de primeira linha, separada por Jesus para ser santa, pura, que participa da Santa Ceia, no meio daquela confusão??? Nãooo! E se eu me “desviasse”?
Na última noite do Carnaval, da segunda para a terça-feira, decidi ficar um pouco mais e ver o que acontecia. Ali, na beira da praia, eu vi a dignidade humana sendo tratada como se fosse nada. Eu vi jovens casais transando na beira da praia e me perguntei se no dia seguinte eles se lembrariam do que tinham feito. Vi meninos e meninas da minha idade jogados no chão, bêbados, sem saber ao certo porque estavam ali ou quem estava com eles. Vi crianças correndo na rua sozinhas e seus pais embriagados no meio da folia. Vi meninas de 12, 13, 15 anos acompanhadas de rapazes muito mais velhos. Vi um jovem que veio correndo até o nosso grupando, chorando em desespero e dizendo: “Eu quero voltar pra Jesus. Não aguento mais esta vida!”
E eu estava lá, no meio daquilo tudo. Situação perigosa, não? Colocou em risco a minha fé, aquela fé jovem e imatura de que pode haver solução para a humanidade longe de Deus. Colocou em risco a minha crença (ainda que muito fraca e escondida bem lá no fundo de mim) de que eu poderia ser feliz ou realizada vivendo esta vida vazia de drogas, sexo e folia. No meio daquela confusão, no meio do pecado (entendo por pecado tudo aquilo que tira a dignidade do homem), minha vontade foi de correr ainda mais para o meu Cristo e reconhecer que sem Ele nós não somos NADA.
Também colocou em risco a fé no tipo de Cristianismo que tenho vivido, um Cristianismo dicotômico, que separa, quando o que Cristo fez foi misturar-se. Um Cristianismo que teme ser menos santo se sentar-se para ter refeições com publicanos e pecadores.
Um pouco de fermento leveda toda a massa, ensinou Paulo. Acredito que isso não deve ser interpretado só do lado negativo (que “o mundo” nos contamina). Já pensou o que pode acontecer se os cristãos decidirem ser fermento no mundo? Já pensou o que pode acontecer se decidirmos sair das quatro paredes de nossas igrejas e influenciar o mundo com nossos princípios? Já pensou o que pode acontecer se pararmos de fugir e nos “retirarmos” todas as vezes que nossa sociedade está cometendo práticas com as quais não concordamos e decidirmos ser sal fora do saleiro? Já pensou como seria nosso Carnaval, nossa política, nossa economia, como seriam nossos meios de comunicação no Brasil, como seria a educação de nossas crianças, como seriam os nossos jovens, as nossas universidades, como seria o nosso futuro se a igreja parasse de se retirar e tomasse a responsabilidade de ser sal da terra e luz do mundo?
Já pensou que situação tão perigosa?