A ruína que se acha “casa” e pensa ser luz
Por Antognoni Misael
Uma música muito tocada nos ajuntamentos comunitários é a canção “Casa”, da banda Palavrantiga. Ela diz que somos “casa, lugar de Deus”, também diz que “estamos em obra” e que só um dia alcançaremos a perfeição.
É bem verdade que jamais seremos perfeitos nesse mundo. Somos obra inacabada e que, apesar de refeita por Deus, ainda precisa de reparos e cuidados diariamente. Entretanto, na condição de “nascidos de novo”, creio que há mudanças indispensáveis que, de fato, determinam quem somos: se somos luz, ou trevas, casa ou uma velha ruína. Afinal, que sentido faz sermos uma casa sem iluminação?
Acontece que muitos, mas muitos mesmo, que se dizem filhos de Deus, nascidos de novo, raça eleita, portadores do Espírito Santo, luz do mundo, ainda não compreenderam coisas tão simples que dispensam qualquer estudo teológico recheado de exegese, hermenêutica ou algo do tipo. Para ser luz, não precisa de tanta conjectura. Veja só:
Cristo disse: Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas” [Mt 6.22-2].
Pessoal, não duvido que seja raro encontrar gente cheia de trevas achando ser luz.
Lamento por perceber uma multidão de súditos que se dizem entendedores da Graça de Deus, que se esmeram no estudo bíblico para exibirem seus dotes teológicos, que fazem fronte ao evangelho equivocado, mas que, infelizmente, no teste do cotidiano, se mostram pessoas de difícil convivência, que destilam seu veneno de prepotência, intolerância, que fazem de seus álibis a detenção de uma verdade discursiva, apenas. Gente que não sabe diferenciar ideias de pessoas, divergências de convivência. Gente que só no olhar não transmite um pingo de paz, amor e graça.
Este tal “cristão” é aquele tipo de “casa” que tem como manutenção de si as desgraças alheias. É gente que geralmente vibra diante das fraquezas do próximo e justifica seus deslizes nas falhas de outros que chama de irmãos. Gente que se faz de forte, mas na hora do “vamo ver” abandona a cruz. Este é o tipo de “casa” que sabe que vive em um local de esgoto, mas se imagina em um jardim perfumado.
Fico triste em notar que esse tipo de gente traz em si a “marca da lei”, que é um exímio observador, mas, infelizmente, torna-se um amplificador de erros. É o portador do semblante reprovador, condenador.
Agora, o mais lamentável é que, neste texto, não me refiro àqueles falsos mestres, que tanto alertamos e combatemos. Refiro-me às pessoas que por fora são até apresentáveis “cristãos”, mas que no conjunto da obra, ainda são uma ‘ruína velha’ que necessita de uma grande reforma. O que falta então? Simples. Novas janelas para casa e uma boa iluminação.
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Antognoni Misael é professor de música (UFPB) , historiador (UEPB), membro da Igreja Presbiteriana do Brasil (Guarabira-PB) e escreve no blog “arte de chocar“. Texto originalmente publicado no blog do autor. Direitos reservados. Reprodução autorizada.