Ao dizer que tudo é relativo, crio o absoluto. Mas, onde está a verdade?
Por Antognoni Misael
“Se permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jo 8.31-32)
Esta passagem é oportuna visto que vivemos em uma época chamada “pós-modernidade” onde um dos maiores clichês é afirmar que a “verdade absoluta não existe”. Tudo é relativo! Entretanto, Jesus Cristo, há mais de dois mil anos, nos deixou a revelação de que a verdade existe sim e tem um poder extraordinário: libertar o homem.
Talvez você não tenha compreendido realmente o porquê dessa época ser chamada pós-moderna. Talvez nem acredite nesta teoria ou a considere distante de sua realidade. Mas o que ocorre, de fato, é que nós, muitas vezes sem percebermos, somos influenciados por tal concepção.
Antes de tirarmos algumas lições do texto, gostaria de fazer uma breve retrospectiva do pensamento histórico-filosófico do iluminismo até os dias atuais.
No iluminismo a razão passou a tomar o lugar da fé. Os pensadores modernos rejeitaram, em sua maioria, o caráter metafísico e se opuseram totalmente aos pressupostos sociais, econômicos e religiosos da Igreja Católica no período medieval – com certa compreensão, visto que mediante os abusos da igreja, a Palavra de Deus já havia sido distorcida. Os iluministas passaram então a viver baseado no experimento, no amor ao conhecimento e ao próprio ego.
Fincado na razão, enquanto Immanuel Kant dizia: “toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço”, as palavras de Jesus ecoavam e ainda se fazem ecoar rompendo gerações ao dizer: “sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15.5).
Os avanços tecnológicos vieram nos séculos seguintes. Mas a crise estava por vir no século 20. A racionalidade presa à tecnologia legou duas grandes guerras mundiais. Relatos dizem que Einstein chorou ao saber das criancinhas mortas pelo brutal efeito de sua invenção, a bomba atômica. Era isso que a razão nos traria?
A racionalidade fincada no homem sempre culminará em morte, pois existe algo mais profundo que a essência humanista sempre rejeitará: o próprio conceito de pecado. Ele entrou no mundo, e com ele, a morte.
Os pós-modernos tentaram solucionar esta decepção com a razão por meio de outro tormento: a ausência da verdade. O filósofo Michel Foucault discorreu muito sobre isso em suas várias obras. Contudo, esse caminho passou a ser frustrante, pois, se a verdade não existe, até o próprio discurso de Foucault é uma mentira. Sendo assim, a vida passa a não ter sentido. A verdade de cada indivíduo não é construída em uma centralidade harmonizada, mas requintada de uma natureza corrompida. Uma verdade capenga, cheia de incertezas, e mais que isso, uma verdade em constante metamorfose.
A felicidade passa a ser uma busca ilusória. Portanto, passa-se a crer que uma verdade absoluta não é possível, a não ser como algo volátil, antiquado. Certamente isso tornará a vida vã, onde a celebração do móvel realmente comprovará que neste sistema os indivíduos pós-modernos substituem “os poucos relacionamentos profundos por uma profusão de contatos poucos consistentes e superficiais” como diz o sociólogo Bauman.
É isso que você quer pra sua vida? Algo transitório, sem nexo algum, onde o ato de relativizar tudo é algo que por si só gera um absoluto tão rejeitado? É este tipo de relação que você quer viver junto com o seu próximo?
Queridos, notemos que Cristo disse “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Ele próprio se apresentou como a Verdade. O ato de conhecê-lo leva-nos a olhar para dentro de nós e fazermos um exame, não pra sabermos se somos um sujeito da época do iluminismo, sociológico ou pós-moderno, mas para reconhecer que herdamos dentro de nosso ser algo chamado pecado. Se Rousseau acreditava que o homem era bom por natureza, e muitos chegaram a crer nisto, a Palavra já dizia o inverso: “somos pecadores, separados de Deus e carecemos dEle” (Rm 3.23). Qual o mais óbvio?
Esta Verdade nos faz enxergar que muito embora alguns filósofos e pensadores tenham um caso de amor com representações construídas, e que elas mudam de tempos em tempos, a essência do homem continua a mesma. E isto é fato! O homem continua a fazer o mal ao seu próximo, continua a cometer adultério, continua a desafiar a criação, continua se rebelando contra Deus. Por isso Cristo sempre será a Verdade! Conhecendo-o seremos novas pessoas que verão as coisas de outra forma. E a liberdade se fará dentro de nós!
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Antognoni Misael é professor de música (UFPB) , historiador (UEPB), membro da Igreja Presbiteriana do Brasil (Guarabira-PB) e escreve no blog “arte de chocar“. Texto originalmente publicado no blog do autor. Direitos reservados. Reprodução autorizada.
Daniel Gizo
Albert Einstein não inventou a bomba atômica. O trabalho dele não é nem propriedade dele, como ele afirmou diversas vezes. O jornalismo buscou nele um super-herói da ciência na época e essa aura ficou instaurada sobre ele. Mais infeliz que o desenvolvimento racional das tecnologias foi o crescimento do pensamento evolucionista proposto por Darwin e seus amigos humanistas naturalistas. Dizer que somos apenas um veículo de transmissão de informação torna-nos utilitários ao extremo. A consciência da natureza corrompida do homem só pode se dar pela experiência – quem tem ouvidos, ouça! Portanto, a escolha é dúbia (homem bom ou mau). Que o Criador seja encontrado por aqueles que buscam a Verdade sempre. Paz.
Marco
Como pode-se falar em experiência e escolhas num mundo onde o ‘determinismo” é visto como correto? se o autor do texto está criticando a verdade que se metamorfoseia, como alinhar seu texto com a colocação do autor? São evidentemente excludentes. Então deixo minha contribuição para enriquecimento do texto. Quando relativizamos expressões, colocações, afirmações, estamos apenas permitindo que a experiência e o ‘resultado das escolhas” mostre um outro aspecto da verdade que não enxergamos. Nãp é mudar a verdade, mas torná-la mais clara. A Aletheia jamais mudará, mas poderá ser vista com outras lentes fora da contemporaneidade. Abraços