Dois jovens em um “programa de índio”
Por Raquel Bastos
— Raquel, eu não poderei ir ao CONPLEI esse ano. Quer ir em meu lugar?
Foi assim que começou a aventura da qual eu e meu irmão, Davi, participamos. Duas semanas antes do 7º Congresso Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (CONPLEI), a diretora da Editora Ultimato me fez esse convite. Cuidar do estande da Ultimato no congresso.
No início, fiquei um pouco receosa. A viagem de Viçosa (MG), onde moro, até Cuiabá (MT) é longa. E só faltavam duas semanas! Além disso, eu não conhecia muito a realidade indígena e, inicialmente, eu teria de fazer todo o trajeto de ônibus (cerca de 20 horas) e com malas pesadas de livros! Entretanto, quando meu irmão aceitou ir comigo e a gente pode fazer parte do trajeto de avião, fiquei mais tranquila e topei. Eu mal podia imaginar o que Deus estava preparando para a gente naquele “programa de índio”!
Chegamos no dia 18 de agosto com três malas cheias de livros e algumas roupas. Não tínhamos levado cobertores, nem travesseiros. Já estávamos com excesso de bagagem. Combinamos, então, com a Priscila, uma amiga de uns amigos de trabalho da minha mãe (é, não tínhamos muitos conhecidos em Cuiabá), que ela levaria essas coisas pra gente. Ela nem imagina como ficamos felizes ao vê-la no aeroporto, bem na hora que chegamos, com tudo aquilo que a gente tinha combinado! Foi um grande alívio. A partir desse momento, percebi que Deus estaria cuidando de cada ponto da viagem. E não estava errada.
Ao chegar ao local do congresso, tivemos um pequeno contratempo com a nossa inscrição. E foi no meio desse problema que surgiu uma pessoa que não conhecíamos, mas que nos ajudou demais. Essa pessoa nos acolheu como filhos, nos tranquilizou, apresentou o local e nos ajudou a esperar as coisas se resolverem. Durante todos os dias do congresso, pudemos ficar calmos, sabendo que tinha alguém ali para nos ajudar, caso precisássemos.
Depois do almoço, dividimos as tarefas: enquanto o Davi arrumava o estande da Ultimato, fui resolver a inscrição e levar nossas coisas para a pousada. Com tudo mais ou menos organizado, iniciamos as vendas. Logo na primeira venda, tivemos um problema com a máquina de cartão. Ficamos receosos, pois a maioria das compras provavelmente seria feitas no cartão. Porém, mais uma vez, Deus colocou em nosso caminho pessoas que nos ajudaram: nossos vizinhos de estande, dois novos amigos da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB).
Acompanhamos a abertura do congresso, que aconteceu com apresentações artísticas de várias etnias e uma palavra do pastor Henrique Terena.
Na manhã seguinte, começamos o dia cedo. Rearrumamos o estande e fomos acompanhar as programações. Observamos os cocares que começavam a surgir, tímidos, no meio da multidão. Foi muito tocante ouvir um indígena equatoriano falar sobre o significado de viver um compromisso com Deus.
No almoço, tive a honra de conhecer uma missionária americana que mora há muito tempo em Belém. Foi incrível ver como Deus falou comigo pela vida dela. Percebi, então, que Deus não usa apenas os momentos de pregação para falar conosco, mas usa também as conversas na hora do almoço, os encontros inesperados.
Durante a tarde, Davi e eu ficamos praticamente todo o tempo no estande. Quando a noite começou, recolhemos nossas coisas e fomos jantar, com os nossos amigos da SBB, que nos deram carona também até a pousada onde estávamos.
No dia seguinte, acordei passando mal. Fiquei muito preocupada por saber que poderia estar doente logo no último dia que o Davi estaria comigo no congresso. Mais uma vez, no entanto, pude experimentar da graça e do cuidado de Deus. Fui ao pronto-médico do congresso, onde fui extremamente bem recebida e medicada. Achei o máximo poder conhecer vários estudantes de medicina que se dispuseram a enfrentar uma viagem de ônibus maior que a minha! Eles viajaram cerca de 30 horas para terem a oportunidade de servir no evento. Eles não puderam acompanhar as programações, porque estavam à disposição de todos os participantes que passavam mal. E como tiveram trabalho!
No meio desse grupo de médicos, um se destacava. Seu nome era Jorge e ele era um indígena! Isso chamou muito minha atenção porque me fez ver que, realmente, os indígenas não querem depender da ajuda de fora para sempre. Eles querem se tornar profissionais capacitados. Isso me fez entender o que realmente significa a “terceira onda”, tão falada no congresso*.
Passamos o dia todo cuidando do estande, conhecendo várias pessoas e, finalmente, vendo alguns rostos conhecidos. No final da tarde, o Davi foi para Cuiabá, onde pegaria um voo na manhã seguinte. Novamente, fomos ajudados pela Priscila, que acolheu o Davi, arrumando um local onde ele passou a noite.
No dia seguinte, me preparei para dar adeus ao CONPLEI. Trabalhei muito, conheci mais algumas pessoas, fiz mais algumas amizades. A maior parte, sem sair do estande. Surpreendi-me com o que um líder indígena me disse: “Na minha aldeia e nas aldeias próximas não tem missionário. Sou eu que levo o evangelho. Não posso ficar esperando os missionários. O meu povo precisa de Jesus!”.
Despedi-me do CONPLEI no dia 22 bem cedo, com o coração na mão. Ali vi Deus me usar, capacitar e amar. E constatei que ele fez o mesmo em outras pessoas. Provei do seu cuidado e proteção. Fiz amigos. Meus planos para o futuro tomaram formas diferentes. Com certeza, esse congresso me marcou muito mais do que eu podia imaginar.
Nota:
* Isaac Costa desenvolveu a teoria das “três ondas missionárias” entre os indígenas: a primeira se baseia nos missionários estrangeiros que se mudam para o Brasil a fim de pregar entre os indígenas. A segunda é formada pelos missionários brasileiros não-indígenas que levam o evangelho aos indígenas. E a terceira consiste na formação de liderança indígena para levar o evangelho ao seu próprio povo e aos povos vizinhos.
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Raquel Bastos tem 20 anos, é estudante de Letras na Universidade Federal de Viçosa (UFV) e auxiliar de revisão na Editora Ultimato. Foi representante da editora no CONPLEI
Clelia Roque Dias
Fiquei muito emocionada ao ver os dois: Davi e Raquel [que conheci em Viçosa quando ainda eram bebês] já tendo experiências maravilhosas com Deus e de uma simplicidade tão grande…
Que Deus continue abençoando vocês, principalmente nos “planos futuros”!
Grande abraço!
Clélia
P.s.: Meu marido [Bené] e eu somos amigos de seus pais e de toda a família. Inclusive, Bené morou numa das repúblicas com seu pai, em Viçosa.
Dina
Deus é lindo e fiel, sempre fiel cuidando dos seus. eu O amo loucamente!