Posts tagged Teologia
Ampliando o “Ver” para melhor “Agir”: corrigindo um ponto cego na teologia de missão integral
8Em um artigo recente, bastante incisivo e homilético, apontei e problematizei o fato muitíssimo relevante de que muitos Cristãos evangélicos sentiram-se confusos e incertos sobre a natureza imprópria da assim-chamada “Cruz de Espinal”, e muitos louvaram o artefato como uma expressão adequada do evangelho. Aleguei que vários desses irmãos estão na verdade se afastando do significado verdadeiro da cruz e seguindo por um caminho obscuro.
Embora a questão pareça a muitos mero preciosismo teológico ou, pela dureza da interpelação, um descuido da unidade Cristã, sua natureza é corretamente descrita como “herética”. Herética no sentido clássico da Haerese, a opinião cismática, que rompe a unidade presente. Ao contrário do que pensam muitos, não é o ataque apologético por mim realizado o que causa o cisma; ele, antes, denuncia o cisma, causado por um afastamento de parte (atenção, não todo, mas parte) do progressismo evangélico em relação às bases clássicas do evangelicismo. O cisma está instalado como uma ruptura tectônica, como uma falha geológica, coberta apenas por solo solto e vegetação. Responsabilizo-me por apontar a Haeresis; não por causá-la. Nem penso que o sentimentalismo seja suficiente para remendá-la. (mais…)
A Regra da Fé
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Em um mundo no qual o mote “viver sem regras” vende filmes, livros de auto ajuda e produtos de alta tecnologia, a ideia de uma “regra de fé” não soa muito bem. Até mesmo em contextos religiosos o discurso sobre uma espiritualidade “sem regras” dá uma sensação de liberdade, de frescor, de algo orgânico e vital.
Mas a vida tem regras; está cheia delas. De leis matemáticas à legislação de trânsito, da biologia humana, que insiste em seguir as mesmas leis sem nenhum interesse especial pelos anseios libertários da cultura hipermoderna à linguagem de programação oculta por trás de uma tela retina de alta tecnologia na qual até uma criança escreve com o dedo. Alguns desses processos são bem mecânicos e intencionais; outros são orgânicos e automáticos; mas as regras estão lá, e não podem ser ignoradas sem que os processos que dela dependem sejam destruídos. E no campo da fé não é diferente. (mais…)
O Triplo Conhecimento
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“Qual é o seu único consolo, na vida e na morte?”
O meu único consolo é meu fiel Salvador Jesus Cristo […].
“O que você deve saber para viver e morrer neste consolo?”
Primeiro: como são grandes os meus pecados e a minha miséria
Segundo: como sou salvo de meus pecados e de minha miséria
Terceiro: como devo ser grato a Deus por tal salvação.
Muitos “Saberes”
A segunda pergunta do catecismo de Heidelberg é uma pergunta sobre o que se deve saber.
Há no mundo da experiência humana uma variedade de tipos de conhecimento, e não devemos confundi-los. É um erro fundamentalista recorrente a sugestão de que o conhecimento religioso é o único conhecimento certo, desqualificando outras formas de saber, como o senso comum e a ciência. E é um erro grave, também, tentar formatar todos os saberes em termos cientificistas, como muitos já tentaram no século passado e continuam tentando hoje.
Em termos mais simples: eu erro se tento colocar o conhecimento da minha esposa na mesma categoria do conhecimento de objetos físicos ou do conhecimento do teorema de Pitágoras. Considere, por exemplo, um buraco na areia. Se eu lhe disser que há uma antiga e rara moeda de ouro lá dentro (e houver!) você enfiará a mão com entusiasmo. Mas não terá tanto entusiasmo se descobrir que lá há uma cobra muito rara; ou ao menos, não enfiará a mão ali. Porque a natureza do objeto altera o modo de aproximação. (mais…)
O Chão que me Sustenta
3“- Qual é o seu único conforto, na vida e na morte?”
“- O meu único conforto é meu fiel Salvador Jesus Cristo.”
Com estas palavras abre-se o catecismo de Heidelberg, que em janeiro completou 450 anos e é reconhecidamente um dos mais importantes símbolos confessionais do protestantismo. Não apenas seu caráter Cristocêntrico, como também seu profundo sentido espiritual revelam-se ao longo de todo o primeiro artigo:
“- A Ele pertenço, em corpo e alma, na vida e na morte, e não pertenço a mim mesmo. Com seu precioso sangue Ele pagou por todos os meus pecados e me libertou de todo o domínio do diabo. Agora Ele me protege de tal maneira que, sem a vontade do meu Pai do céu, não perderei nem um fio de cabelo. Além disto, tudo coopera para o meu bem. Por isso, pelo Espírito Santo, Ele também me garante a vida eterna e me torna disposto a viver para Ele, daqui em diante, de todo o coração.”
Captura a minha atenção, nesse primeiro artigo do catecismo, a conexão imediata entre a doutrina e a existência. O texto não fala de algo abstrato, puramente teológico, mas de algo dramático, duma questão de vida e morte. O que pode ser tão amplo que abarque a vida e também a morte? E não apenas amplo mas também urgente, já que a vida está o tempo inteiro à beira da morte? (mais…)
Extra Nos (“fora de nós”)
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Em “Surpreendido pela Alegria”, C.S. Lewis apresenta sua longa jornada em direção à fé no que poderíamos descrever como um trabalho divino de extração – “Fui, como dizem, ‘arrancado de dentro de mim mesmo'”, segundo as suas palavras. As experiências com a “alegria”, que tiravam o seu sossego e o forçavam a olhar para além de si mesmo, seriam nada menos que o insistente chamado divino. Lewis precisou até mesmo de uma conversão intelectual para finalmente olhar para fora de sua alma (mais…)
Pequena Homilia Antilibertária
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Soberania: inicialmente, como o expôs Kuyper, um conceito simples e intuitivo. Soberania é o direito de impor a própria vontade. O direito de exercitar a liberdade, nesse sentido; mas de causar, no exercício da liberdade, uma limitação da liberdade. E a partir de seu direito ao poder, a liberdade de exercitá-lo para bloquear toda resistência a si. Nesse sentido, sim, Deus é a fonte de todo o poder. O Deus Trino é o Soberano absoluto, detentor do direito e das energias necessárias para fazer cumprir a sua vontade.
Como poderia ser diferente? Há quem pense hoje que tal noção de Soberania divina seria um reflexo de patriarcalismo, ou uma fonte de intolerância e violência, ou o fruto de uma sensibilidade religiosa doentia, fundada no medo ou no sentimento de culpa. (mais…)
O Amante, o Amado e o Amor: Deus, segundo o Cristianismo
9No âmago do cristianismo está o conhecimento de Deus. No âmago do cristianismo está o anúncio de que Deus veio até nós, e está conosco. É assim que a igreja primitiva compreendeu a revelação de Jesus Cristo, conforme a antiga profecia de Isaías:
Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel. (Is 7.14)
Emanuel, “Deus conosco”. O Deus Cristão é outro, ou no mínimo mais do que o deus dos filósofos, por dar a si mesmo na revelação. Pois a revelação bíblica não é a revelação de uma determinada quantidade de informações, ou mesmo de informações a respeito de Deus, mas é a revelação de Deus, dele próprio em sua concretude e factualidade, como um supremo Sujeito e um supremo Objeto (não além da relação sujeito-objeto, como o quer Tillich) que se apresenta ao homem e que é um fato final, incontornável, inabsorvível para o pensamento teórico. Inabsorvível para a ciência e a filosofia, mas nem por isso sem significado (como se fosse o fato-bruto-sem-significado dos teólogos Kantianos) mas um fato que é ao mesmo tempo cheio de significado em si mesmo, e que por isso comunica veracidade ao discurso humano; um fato que não é completamente inefável, ainda que não seja completamente dizível.
Como é esse Deus Cristão? Quem é ele? (mais…)
Escola de Teologia e Espiritualidade do L’Abri Brasil – 2012
3Caros leitores,
Para aqueles interessados em aprofundar seu conhecimento teológico, a Escola de Teologia e Vida Cristã do L’Abri está com inscrições abertas para os cursos de TEOLOGIA e APOLOGÉTICA. E vamos ter também um programa de estudos à distância (pela internet). Para mais informações, siga para o Blog do L’Abri! (mais…)
Francis Schaeffer para o Século 21
16Na semana passada um dos mais importantes personagens evangélicos do século XX fez o seu aniversário de cem anos: Francis August Schaeffer. Nascido em 30 de Janeiro de 1912 em Germantown, Pennsylvania, num lar completamente secularizado, Schaeffer viria a exemplificar uma espécie nova e, para muitos, incompreensível de vivência da fé evangélica, tornando-se o “apóstolo dos intelectuais”, como foi descrito pela revista Times em 11 de Janeiro de 1960, e para muitos um profeta para o cristianismo do século 21. (mais…)