Posts tagged Política

O “Príncipe Moderno” e a Visão Cristã do Estado

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No último dia 03 de Novembro a comissão executiva do PT produziu uma resolução política sobre os rumos do partido a partir das eleições 2014. Observei, nas redes sociais, que ali se desenha uma radicalização da militância “sabendo que pouco tempo lhe resta” (ou muito, sob outro aspecto). Mas a radicalização na verdade é um retorno aos fundamentos, não uma inovação.

Num artigo anterior (“Sobre as intoxicações políticas, e porque sou oposição”) descrevi o governo atual como servindo a “um projeto hegemônico muito maior, de uma absorção progressiva das forças da sociedade civil para incorporá-las em um processo historicista de revolução social, pilotado pelo partido-estado”. Maior, digo, do que o cuidado com o pobre e o excluído. Ou, em outros termos, que “temos um estado inclinado apossuir a sociedade civil, sendo lentamente possuído por um partido desde sempre possuído por um sonho hegemônico.”

A resolução de anteontem mostra com pureza cristalina que essa é de fato a direção do partido; pilotar um movimento trans e suprapartidário de integração de forças partidárias de esquerda, movimentos da sociedade civil em todos os campos possíveis, das instituições do estado e, na medida do possível, de grandes empresas, em uma  potência política central que levará à consumação o socialismo democrático. Nesse processo, realizar-se-á uma “revolução cultural” – confesso-me surpreso com o emprego dessa expressão no texto da resolução – e se dobrarão as forças conservadoras. (mais…)

O Peso Total das Nossas Convicções: O Ponto do Pluralismo Kuyperiano

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[Com autorização do companheiro Daniel Dliver, republico sua tradução de um artigo jóia de Jonathan Chaplin, sobre o tema do pluralismo. É esse o tipo de perspectiva subjacente ao que escrevi anteriormente neste blog sobre pluralismo (veja AQUI).]

 

A visão de Kuyper pode ser uma inspiração para os cristãos que hoje enfrentam a dupla ameaça do capitalismo explorador e do estatismo arrogante — ambas as forças profundamente secularizantes.

Por Jonathan Chaplin, 1 de novembro de 2013, Comment Magazine

 

Paridade, não privilégio. Dificilmente um slogan acrobático de campanha eleitoral, mas, em poucas palavras, o objetivo estratégico da visão do “pluralismo” de Abraham Kuyper. Os cristãos não devem buscar uma posição de privilégio político ou legal nas praças públicas de suas nações religiosa e culturalmente diversas, mas uma posição de paridade. O objetivo é desfrutar de direitos iguais ao lado de outras “comunidades confessionais” dentro de uma democracia constitucional marcada pela ampla liberdade de expressão, justa representação, e uma diversidade de vozes. Assim, no auge da luta do século XIX holandês por igualdade de tratamento para as escolas cristãs, Kuyper afirmou que “o nosso objetivo incessante deve ser a exigência de justiça para todos, justiça para cada expressão de vida.” (mais…)

Cristianismo e Secularismo: o que fazer quando o diálogo “acaba”?

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O que fazemos quando o diálogo com o secularismo aparentemente acaba (ou, ao menos, se esgota temporariamente)?

Certamente há limites para o diálogo. Andei pensando nisso diante dos debates atuais sobre o “estado laico”. Há muito fundamentalismo religioso para o qual “pluralismo” é um palavrão. Mas de modo geral o campo religioso brasileiro me parece extremamente plural e tolerante com a divergência. A sensação que muitos cristãos tem e expressam em conversas privadas (ou as não tão privadas assim na internet) é a de que a militância secularista é o fenômeno religioso mais agressivo dos últimos tempos (veja um exemplo interessante AQUI). O clima mudou, definitivamente.

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Manifestações: a nova cidadania em rede

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A surpresa dos primeiros dias de manifestação não impediu a proliferação de palpites e experimentos analíticos por sociólogos, jornalistas, economistas, e observadores menos profissionais que se proliferam na vasta blogosfera e nas redes sociais. Não apenas todo mundo queria participar; todo mundo queria tweetar, ver, compartilhar, ouvir e opinar também.

E esse movimento não vai parar tão cedo. Há muito o que fazer para interpretar o fenômeno; e precisamos nos esforçar para interpretá-lo se quisermos responder a ele de forma inteligente – e tanto faz se você é um oponente ou um participante; o fato é que junho de 2013 e a maior manifestação popular da história do Brasil não podem ser ignorados.

O que está acontecendo, e porque está acontecendo desse jeito? Nesse post não vamos nos debruçar sobre todas as questões mais amplas da conjuntura política e até mesmo sobre o sentido das últimas respostas pelo governo e o congresso, mas sobre o tipo de reação política que acabamos de testemunhar. O que é isso, afinal? Uma convulsão, uma catarse social ou algo mais? (mais…)

A baderna de Deus e a baderna dos homens

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No princípio foi disso que a chamaram: “baderna!” Foi assim que a “imprensa vendida” descreveu o movimento. Mas enquanto ela subestimava o povo um sopro de expectativas varreu as redes sociais, insuflando chamas de esperança em alguns, causando arrepios de indignação e desprezo entre outros. Conservadores só viam a baderna e as bandeiras do PSOL, do PSTU e do PCO; a juventude à esquerda viu um futuro, um sentido, um sinal de que estamos vivos e que coisas novas podem acontecer. (mais…)

Prostituição e Direito à Saúde: Alexandre Padilha não errou

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Quase não pude acreditar no post de Pedro Serrano publicado no site da Carta Capital (aqui) ontem, a respeito da decisão do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. O ministro teria retirado a campanha “Dia Internacional das Prostitutas” devido à pressão dos evangélicos, segundo Serrano. E o articulista afirma que Padilha errou.

Não foi Padilha quem errou, mas o articulista, de forma que minha defesa da decisão de Padilha é mais indireta, pela refutação dos absurdos publicados pela revista.

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A Ideia Cristã do Estado

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“Ai dos que descem ao Egito em busca de socorro e se estribam em cavalos; que confiam em carros, porque são muitos, e em cavaleiros, porque são mui fortes, mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam ao SENHOR! Pois os egípcios são homens e não deuses; os seus cavalos, carne e não espírito. Quando o SENHOR estender a mão, cairão por terra tanto o auxiliador como o ajudado, e ambos juntamente serão consumidos.” (Is 31.1,3)

Há uma perspectiva cristã do Estado? Há quem pense que o cristianismo não tem nada que ver com Estado – nem com política; que a religião não tem nada a ver com política. Não no sentido de que a religião não se mescle com a política, pois isso sim, acontece sempre, mas no sentido de que a religião não deveria se misturar com a política nem se intrometer em coisas de Estado. Alguns mais radicais sustentam, inclusive, que a verdadeira política é incompatível com a religião. (mais…)

O Atomismo Social segundo Charles Taylor, e a Espiritualidade Cristã

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Do Contra

Não é de hoje que procuro meios eficientes e interessantes de criticar a experiência moderna de autonomia humana. Não que eu rejeite completamente a noção de autonomia ou, falando de forma bem mais abrangente, a idéia de liberdade humana; mas já chega de modernidade, né? Essa coisa não deu certo mesmo (e nem era para dar certo). Seu ideal antropológico – do homem absolutamente autônomo, feliz da vida criando mundos demiurgicamente, “livre” dos constrangimentos da autoridade, da tradição, e da religião não passa de um mito naturalizado, que já está comendo o próprio rabo faz tempo. (mais…)

Pequena Homilia Antilibertária

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Soberania: inicialmente, como o expôs Kuyper, um conceito simples e intuitivo. Soberania é o direito de impor a própria vontade. O direito de exercitar a liberdade, nesse sentido; mas de causar, no exercício da liberdade, uma limitação da liberdade. E a partir de seu direito ao poder, a liberdade de exercitá-lo para bloquear toda resistência a si. Nesse sentido, sim, Deus é a fonte de todo o poder. O Deus Trino é o Soberano absoluto, detentor do direito e das energias necessárias para fazer cumprir a sua vontade.

Como poderia ser diferente? Há quem pense hoje que tal noção de Soberania divina seria um reflexo de patriarcalismo, ou uma fonte de intolerância e violência, ou o fruto de uma sensibilidade religiosa doentia, fundada no medo ou no sentimento de culpa. (mais…)

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