O enredo só se completa com os últimos capítulos. A escultura só tem valor com os retoques finais.

Desde que o pecado entrou no mundo, Jesus Cristo tem sido a suprema e a última esperança daqueles que levam em consideração a Palavra e Deus. Antes da encarnação do Verbo, de geração em geração passava-se e fortalecia a notícia de que o descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente. Passados alguns milênios, uma donzela “achou-se grávida pelo Espírito Santo” e deu à luz um filho a quem pôs o nome de Jesus, que quer dizer Salvador. João Batista apresentou-o como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Jesus mesmo nunca se traiu, nunca vacilou, nunca deixou de se referir a si como a esperança imediata do homem. O exclusivismo de suas declarações é de estarrecer mas assenta perfeitamente bem com o seu caráter e com o seu comportamento: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo” (Jo 12.32).

O sistema religioso que acredita que Jesus é o Cristo e que espalhou esta notícia entre as nações do mundo chama-se cristianismo. A mensagem dos cristãos propõe uma reforma de base: a pedra angular é Jesus. Nele está a nossa fé, a nossa esperança, a nossa salvação, a nossa vida.

 

É ou não é?

João Batista, o enérgico precursor de Cristo, teve no cárcere um momento de dúvida. Enfrentou-a honesta e corajosamente. A dúvida era séria e crucial, mas não abrangia tudo. Como a mulher samaritana ele sabia com absoluta certeza que o Messias, chamado Cristo haveria de vir. A incerteza momentânea e circunstancial girou em torno da pessoa que ele mesmo havia apresentado como Cordeiro de Deus. Aquele homem, nascido em Belém, criado em Nazaré, batizado por ele, seria exatamente o que estava por vir? Nele deveria João Batista continuar a depositar sua esperança ou haveria de reservá-la para outro? Sim ou não?

A resposta de Jesus não se fez tardar e foi muito bem formulada: traçou um paralelo entre a profecia de Isaías 35.5 e 61.1 com as obras e o ministério que ele estava realizando, causando profundo impacto entre o povo. Aliás, Jesus leu o trecho de Isaías 61.1 e 2 na sinagoga de Nazaré quando iniciou seu ministério e declarou que aquela escritura se cumpria naquele dia (Lc 4.16-21). João Batista entenderia a alusão e aceitaria tanto a palavra de Jesus como da profecia.

 

O Dono da Casa

A nossa esperança em Cristo tem de incluir a escatologia, os fatos previstos para tempos ou épocas que ainda não chegaram. “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19). Há muita gente que perdeu o entusiasmo, que não entende mais nada, que está prestes a naufragar na fé simplesmente porque se negou a tomar conhecimento das coisas que devem acontecer. O enredo só se completa com os últimos capítulos. A escultura só tem valor com os retoques finais.

Perde-se a noção de que “ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Sl 24.1). Em consequência, tem-se a impressão de que isso aqui é terra de ninguém. Esqueceu-se gradativamente de que o homem é mordomo e Deus é o proprietário. Não se crê no direito de posse, numa autoridade superior, na possibilidade e necessidade de uma intervenção da parte do dono da casa ou dono da vinha, expressões bíblicas que se referem a Jesus Cristo (Mc 12.9 e 13.35).

É da vontade de Deus que os crentes aguardem “a bendita esperança e a manifestação gloriosa do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” (Tt 1.13). A promessa é que “Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardavam para salvação” (Hb 9.28). Afinal, Ele é o dono da casa e a casa está em tal balbúrdia que exige sua presença. “Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se á meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã” (Mc 13.35).

 

Texto originalmente publicado na edição 25, de janeiro de 1970, de Ultimato.

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