A experiência de Pedro pode ajudar no caminho de fidelidade a Jesus.

 

Pedro seguro demais
Ele disse a Jesus: “ Eu nunca abandonei o Senhor, mesmo que os outros façam isso” e “Eu nunca vou dizer que não o conheço, mesmo que seja preciso morrer para o Senhor” (Mt 26.33 e 35 em a Bíblia na Linguagem de Hoje). A segurança demasiada é perigosíssima e sempre e sempre antecede a queda. Ninguém em tempo algum, pode cortar o cordão umbilical que o liga a Deus. Paulo descobriu que o segredo da fidelidade e do sucesso é o sentimento de fraqueza e vulnerabilidade: “Quando estou fraco, aí sim é que sou forte” (2Co 12.10). O fraco recorre a Deus e o forte acha que dá conta de tudo sozinho.

 

Pedro simples demais
Ele não se lembrou da diferença enorme que há entre Cenáculo e Getsêmani, entre o êxtase e a carne, entre o céu e a terra, entre o monte da transfiguração e o vale da humilhação, entre devoção e trânsito, entre o dia bom e o dia mau, entre Natal e Finados, entre berço do recém-nascido e o caixão de defunto, entre domingo e segunda-feira. Em alguns lugares, em alguns horários e em algumas circunstâncias é muito mais fácil fazer votos e prometer mundos e fundos.

 

Pedro covarde demais
Embora tenha arrancado a espada da bainha, embora tenha cortado a orelha de Malco, embora tenha seguido Jesus até a casa do sumo-sacerdote, Pedro logo foi perdendo a coragem. As promessas de nunca abandonar o Senhor forma esquecidas. A disposição de morrer com Jesus acabou por completo. Então ele disse a primeira criada: “Eu não sei o que está dizendo”. Depois disse a outra criada: “Juro que não conheço aquele homem!”. E por fim repetiu aos circunstantes: “Juro que não conheço esse homem! Que Deus me castigue se eu não estiver dizendo a verdade!” (Mt 26.69-75 em A Bíblia na Linguagem de Hoje).

 

Pero triste demais
Após a tríplice negação o galo cantou. Ninguém ouviu, ninguém ligou, senão Pedro. E Jesus também. Os dois se lembraram do cenáculo, do ambiente do programa ali desenvolvido, dos avisos, das promessas e do hino que cantaram antes de ir para o Getsêmani (Mc 14.26). Os dois se olham. A pressão dos ouvidos (o canto do galo) e a pressão dos olhos (o olhar de Jesus) fazem Pedro estremecer. Ele se retira da casa do sumo-sacerdote e desata a chorar. Chora amargamente. Não é a primeira vez que alguém chora por causa do pecado, por causa do fracasso. Davi já havia enchido o seu quarto de lágrimas (Sl 6.6). As tribos de Israel já haviam chorado a tragédia inicialmente provocada pelos homens de Gibeá (Jz 20.26).

 

Pedro apaixonado demais
Depois da morte, depois da ressurreição, depois da primeira aparição, Jesus aparece outra vez aos seus discípulos, desta feita ao mar em Tiberias, no mesmo cenário, onde, três dias antes, ele havia chamado Pedro e André, Tiago e João para serem pescadores de homens e não mais de peixes. Depois da pesca maravilhosa, depois do churrasco de peixe com pão, Jesus quebra o silêncio e dirige uma pergunta exclusiva a Pedro: “Simão, você me ama mais do que estes outros me amam?”. O apóstolo diz que sim, mas toma o cuidado para não repetir: “Eu te amo mais que os outros”. Jesus volta à pergunta outras duas vezes e Pedro volta à mesma resposta outras duas vezes: “O Senhor sabe que eu te amo”. Após cada declaração de amor, Jesus ordena a Pedro: “Toma conta das minhas ovelhas”. Quando aquele encontro na praia ao clarear do sol acabou, Pedro percebeu que tinha sido misericórdia e sabiamente restaurado pelo Senhor (Jo 21.15-19).

Texto originalmente publicado na edição 244, de janeiro/1997, de Ultimato.

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