O mais solene de todos os envios
O evento histórico que mais demonstra a absoluta centralidade da pessoa e obra de Jesus Cristo é o seu envio ao mundo por determinação do Pai.
Deus envia quem quer e quando quer
Para cumprir as suas antigas e reiteradas promessas e dar continuidade à sua obra, e em sua plena soberania, o Todo-Poderoso Deus escolhe e envia quem ele quer, do modo como ele quer, no tempo em que ele quer, para fazer o que ele quer e para o lugar que ele quer. Assim aconteceu na história do Antigo Testamento. É bom saber que o Senhor não envia apenas seres humanos, mas também seres angelicais (como o anjo que acompanhou os israelitas na passagem do mar Vermelho), seres animais (como o grande peixe e o pequeno verme do livro de Jonas) e até mesmo elementos da natureza (como os trovões e relâmpagos do monte Sinai). Entretanto, de todos os envios de Deus, o mais solene foi o envio do próprio Filho.
Depois de uma longa espera
Com poucas palavras, Jesus mesmo esclarece o seu envio: “Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo” (Jo 3.17). Esse versículo responde a cinco perguntas: “Quem enviou?”; “Quem foi enviado?”; “Para onde o Filho foi enviado?”; “Para quê o Filho ‘não’ foi enviado?”; e “Para quê o Filho foi enviado?”. À sexta pergunta – “Quando Jesus foi enviado?”– quem oferece a resposta é o apóstolo Paulo: “Quando chegou a plenitude dos tempos [ou “quando chegou o tempo certo” ou “depois de uma longa espera”], Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido também debaixo da autoridade da Lei, para resgatar os que estavam subjugados pela Lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.4-5).
Esse “tempo certo” ou essa “plenitude dos tempos” é o universalmente aceito ponto central da história humana. Desde o século 8, o ano do envio de Jesus passou a ser considerado oficialmente o meio da história. Temos os anos “antes de Cristo” (a.C.) e os anos “depois de Cristo” (d.C.). Os anos posteriores à vinda de Jesus são também chamados de “Anno Domini” (ano do Senhor Jesus) ou “Anno Salutis” (ano da salvação). Alguns cartórios ainda registram: “Saibam quantos esta pública escritura virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo[…]”.
“Deus me enviou”
Jesus tinha plena consciência de seu envio. A frase mais repetida por ele no Evangelho de João é “Deus me enviou”. Em quinze dos 21 capítulos do quarto Evangelho, ela aparece 35 vezes. A expressão “Deus enviou o seu Filho” ocorre três vezes na primeira carta de João (4.9-10, 14).
O Senhor inicia o seu ministério com a idade de 30 anos, na sinagoga de Nazaré. Na ocasião, ele faz referência ao seu envio, lendo a profecia de Isaías, escrita setecentos anos antes: “O Senhor me deu o seu Espírito. Ele me ‘escolheu’ para levar boas notícias aos pobres e me ‘enviou’ para anunciar a liberdade aos presos, dar vista aos cegos, libertar os que estão sendo oprimidos e anunciar que chegou o tempo [o tal “tempo certo”] em que o Senhor salvará o seu povo” (Lc 4.18-19).
Talvez os ouvintes não tenham entendido, mas na parábola dos lavradores maus, que aparece nos Evangelhos Sinóticos, Jesus faz um resumo histórico de todos os envios anteriores ao dele, sem deixar de mencionar o envio do filho único e amado do dono da vinha. O que Jesus queria transmitir é que ele, o unigênito do Pai (Jo 3.16) e o amado do Pai (Mt 3.17; 17.5), seria enviado por último, depois de todos os profetas (Lc 20.9-18).
Texto originalmente publicado na edição 354 de Ultimato.