Elas estão muito próximas. Caminham na mesma direção. Às vezes uma se esquece da outra e segue sozinha. O ideal mesmo é que elas estejam sempre juntas. As irmãs gêmeas são a gratidão e a adoração.

A gratidão acontece quando olhamos para o passado remoto e recente e fazemos uma lista de todos os benefícios que o Senhor tem feito em nosso favor. O cristão que sofre de alguma forma de amnésia ou de Alzheimer religioso é incapaz de parar para agradecer.

A adoração acontece quando contemplamos a beleza e a imensidade da criação e do Criador, quando contemplamos a beleza da salvação em todos os seus estágios, desde a promessa inaugural até a consumação da obra salvífica do Senhor.

A Palavra de Deus ordena tanto a gratidão como a adoração. O primeiro verso do Salmo 105 é um convite ao agradecimento: “Agradeçam a Deus, o Senhor”; e o verso seguinte é um convite à adoração: “Cantem a Deus, cantem louvores a ele, falem dos seus atos maravilhosos”.

No Salmo 103, a gratidão e a adoração se encontram e se abraçam, pois o salmista exclama: “Que todo o meu ser louve o Senhor, e que eu não esqueça nenhuma das suas bênçãos!”. A lembrança dos favores, das graças e das bênçãos de Deus desperta e associa uma com a outra. A falta de gratidão é uma indelicadeza e a falta de adoração é uma falta de reverência.

A adoração é própria da espiritualidade. Ela nasce no coração e flui pela boca e pelos joelhos dobrados. E é comprovada pelas obras. Jesus disse à mulher samaritana que os verdadeiros adoradores adoram o Pai em espírito e em verdade (Jo 4.23-24). Para que a adoração se torne verdadeira, é necessário retirar dela quaisquer resquícios da formalidade religiosa e da hipocrisia (a adoração da boca para fora). Uma das coisas mais irreverentes e revoltantes foi o comportamento dos soldados que colocaram na cabeça de Jesus uma coroa de espinhos e em seguida se ajoelharam fingindo que o estavam adorando (Mc 15.19).

A adoração independe da ausência de infortúnios. É incrível que Davi tenha ido ao templo para adorar a Deus logo após a morte de seu filho com Bate-Seba (2Sm 12.20) e que Jó tenha feito o mesmo logo após ter perdido todos os seus bens e todos os seus filhos (Jó 1.20).

Em geral, o cristão tem mais capacidade para agradecer do que para adorar. Mas a força da gratidão costuma puxar para perto de si a adoração. É muito bom que as duas gêmeas estejam sempre juntas.

Há casos em que a gratidão está implícita na adoração, como acontece com o servo de Abraão. Deus responde a oração dele de forma tão visível e imediata que “o homem se ajoelhou e adorou a Deus” (Gn 24.26). Há casos em que a adoração está implícita na gratidão, como acontece com um dos dez leprosos curados à distância por Jesus. Logo depois do milagre, ele volta à presença de Jesus “louvando a Deus em voz alta”. Não somente isso: o homem se ajoelha aos pés do Senhor e lhe agradece (Lc 17.15-16).

A Bíblia diz que haverá uma adoração global no final dos tempos: em homenagem ao nome de Jesus, todas as criaturas no céu, na terra e no mundo dos mortos cairão de joelhos diante dele numa atitude de gratidão e adoração (Fp 2.10-11)!

Texto originalmente publicado na edição 357 de Ultimato.

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