Embora tenha ensinado a minhas ovelhas e a meus alunos do Centro Evangélico de Missões que há várias modalidades de oração, tenho muita dificuldade em fazer orações de adoração. As outras orações, de agradecimento, de confissão de pecados e pecaminosidade, de entrega de tudo ao Senhor, de desabafos e lamentações, de súplicas e de intercessão — faço com frequência e naturalidade. Tenho esforçado-me para aprender a louvar. Chego a pedir a Deus que me ensine a tributar-lhe louvores. Eu me desculpava, alegando que a oração de agradecimento é quase igual à oração de adoração. Hoje enxergo que uma não dispensa a outra. Nas orações de ação de graças, eu digo obrigado por tudo o que ele é e por tudo o que ele faz. Nas orações de louvor, eu deveria “elogiar” a Deus por tudo o que ele é e por tudo o que ele faz.

Em meus períodos de refúgio para escrever e para buscar a Deus mais intensamente, sozinho ou com minha esposa, numa praia do Espírito Santo, tenho feito algum progresso. A imensidão do mar, a imensidão do céu e a quantidade incontável de grãos de areia nas praias abriram para mim as portas da oração que adora.

Em dezembro de 2011, depois de ter louvado o Criador calma e silenciosamente enquanto caminhava pela praia, tentei colocar numa folha de papel os elogios que eu havia feito a Deus, desprovido de qualquer fingimento. Daí saiu o texto a seguir, que enviei para a minha família:

“Ó Deus, eu te louvo pela beleza e ordem da criação. Pela extensão do mundo que tu criaste. Pela quantidade de galáxias. Pelo incontável número de estrelas que compõe cada galáxia. Pelos outros corpos celestes que vagam no espaço cada um no seu lugar e diferente um do outro na forma, no tamanho e no destino.

Eu te louvo pelo nascer do sol, aquela bola de fogo que parece sair do mar. Porque ele vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. Porque ele expulsa as trevas e o frio. Porque ele vai e volta. Eu te louvo pela pontualidade do sol na marcação da hora, do tempo e das estações. Eu te louvo pelo pôr do sol, quando ele se despede de um hemisfério e vai para o outro. Por aquele amarelo do sol, tão forte como o do ipê amarelo. Eu te louvo pela rotina do sol, com a qual eu não me enfado.

Eu te louvo pela lua, porque ela se presta a iluminar a terra na ausência do sol. Porque posso observar o crescimento da lua como se fosse o crescimento de uma criança: a lua nova (a infância), o quarto crescente (a adolescência) e a lua cheia (a idade adulta). E o movimento contrário, no mês seguinte: a lua cheia (o auge da vida), o quarto minguante (o envelhecimento) e a lua nova (a morte). Eu te louvo pelo luar na praia, no sertão e nas montanhas. Eu te louvo pelos poemas e pelas cartas de amor escritas sob o luar.

Eu te louvo pela primavera depois do inverno e pelo outono depois do verão e pelos intervalos entre uma estação e outra. Eu te louvo pelo frio e pelo calor e por aquele clima temperado entre os dois.

Eu te louvo pela beleza, pela cor, pelo perfume, pelo formato, pelo tamanho (minúsculo e gigante), pela variedade, pela quantidade e pela excentricidade das flores — elas nascem na terra, na rocha, nas fendas, na água, nas árvores, no deserto, no pântano, no jardim, no fundo do quintal, nos telhados, nas paredes, nos bueiros, nas estufas, na lama, no lodo, no monte de lixo, nas praias e nos vasos que fabricamos.

Eu te louvo pelas nascentes d’água, pelos filetes d’água, pelos córregos, pelos rios, pelos afluentes, pela água despejada em outro rio, no lago e no mar. Pela água que está sob a superfície da terra, pela água das geleiras, pela água em seus estados líquido, sólido e gasoso. Eu te louvo pela neblina, pela chuva e pelos temporais. Eu te louvo por aquele relâmpago que acende e apaga em apenas alguns segundos, pelo estrondo do trovão, pelas tempestades e pelo incrível arco-íris.

Eu te louvo pelas lavouras de trigo, café, feijão, arroz, cana-de-açúcar e soja. Eu te louvo pelo canteiro de verdura, pelos jardins, pelos pomares, pela mata, pelas florestas. Pelas árvores pequenas e pelas gigantes. Eu te louvo pela lenha, pela madeira, pelo carvão.

Eu te louvo especialmente porque foste tu que idealizaste tudo isso, que criaste tudo isso, que governas tudo isso e que sustentas tudo isso! O nome do Senhor seja louvado para sempre!”

No mesmo lugar, mas em uma ocasião posterior, fiz uma oração de louvor centrada em Jesus Cristo:

“Eu te louvo, ó Deus, pela promessa do Servo Sofredor, pela concepção sobrenatural de Jesus, pelo Verbo que se fez carne, pela chegada do Deus Conosco.

Eu te louvo, ó Deus, tanto pela humanidade como pela divindade de Jesus, por sua simplicidade, por suas palavras, por suas curas, por suas interferências abençoadoras, pelas ressurreições da filha de Jairo, do filho da viúva de Naim e do irmão de Maria e Marta.

Eu te louvo, ó Deus, porque ele foi tentado em todas as coisas à nossa semelhança com a diferença de ter resistido a cada tentação. Eu te louvo porque ele não transformou pedras em pães, não pulou do pináculo à calçada do templo, não dobrou os joelhos diante daquele que fará isso em relação a ele, não constrangeu o Pai a tirar de sua mão o cálice da morte e não desceu espetacularmente da cruz.

Eu te louvo, ó Deus, porque o sacrifício de Jesus na cruz foi salvífico, porque, ali e naquela sexta-feira, ele perdoou todos os nossos pecados e anulou definitivamente a dívida que tínhamos contigo, pregando-a na cruz. Eu te adoro porque houve um tremendo sinal no céu, do meio-dia até as 3 horas da tarde, quando ele inclinou a cabeça e morreu. Eu te louvo, porque aquela cortina que separava o absolutamente santo do absolutamente profano rompeu-se de alto a baixo no momento exato quando Jesus entregou o seu espírito em tuas mãos.

Eu te louvo, ó Deus, porque aquelas mulheres da Galileia tiveram de levar de volta para casa os perfumes e óleos que passariam no corpo de Jesus. Eu te louvo porque o túmulo estava vazio e porque, naquele primeiro dia da semana e de salvação consumada, Jesus apareceu aos discípulos em diferentes horários e lugares. Eu te louvo por sua ascensão aos céus com as mãos abençoadoras levantadas.

Eu te louvo, ó Deus, porque Jesus não demorou mais de quarenta dias para cumprir a promessa de que não nos deixaria órfãos, mas enviaria outro Paracleto.

Eu te louvo pelo barulho do vento, por aquilo que parecia línguas de fogo e que pousava sobre a cabeça de cada uma das 120 pessoas presentes, inclusive Maria Madalena e os irmãos e irmãs do próprio Senhor, recentemente convertidos.

Eu te louvo, ó Deus, porque aquele que nasceu numa estrebaria, que não tinha onde reclinar a cabeça nem duas dracmas para pagar o imposto do templo, desde então, está assentado à tua direita e colocando progressivamente debaixo de seus pés todos os poderes hostis à tua glória e à glória de teu povo, inclusive – e por último – a morte, o mais humilhante de todos.

Eu te louvo, ó Deus, por tua volta em poder e muita glória, pela ressurreição dos mortos e súbita transformação dos vivos, pela bem-sucedida separação do trigo e do joio, pelo louvor universal, pelo juízo final, pelos novos céus e nova terra, pela plenitude da salvação.”

Parece que eu vou indo bem na adoração. Estou quase pronto para fazer a mesma citação do salmista: “Que todo o meu ser te louve, ó Senhor! A vida inteira eu louvarei o meu Deus, cantarei louvores a ele enquanto eu viver” (Sl 146.1-2).

Só faço um pequeno acréscimo: “Não somente enquanto eu viver, mas também depois de minha morte, quando a noção de tempo acabar”.

Texto originalmente publicado na edição 345 de Ultimato.

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