Para levar à sério as palavras de Jesus

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Nos próximos meses vamos publicar aqui no Blog Dignidade! uma série de postagens sobre o movimento norte-americano Red Letter Christians (traduzido aqui como “Os Cristãos da Letra Vermelha”). O movimento liderado por Tony Campolo e Shane Claiborne reúne hoje algumas dezenas de líderes cristãos – como Ron Sider, Jim Walis – que procuram dar uma resposta crítica a maneira como o sentido do evangelicalismo foi, nas palavras deles, “sequestrado por uma agenda política conservadora” nos Estados Unidos da America (EUA).

Tony Campolo, autor do texto introdutório do movimento, é pastor associado da Igreja Batista Mount Carmel, na Filadélfia (EUA). É também professor de Sociologia da Eastern University, e fundador da “Associação Evangélica para a Promoção da Educação”, cujo objetivo é apoiar programas educacionais em áreas de pobreza, particularmente, na América Latina – leia mais sobre o ministério de Tony, aqui. Além disso, Tony já colaborou com a Intervarsity (IFES/EUA) e com o SPEAK (Rede FALE no Reino Unido). Um dos seus primeiros textos traduzidos para Português foi “A Urgência do Chamado”, lançado no site de formação do Congresso Missionário da ABUB em 2006 – disponível parcialmente aqui, e integralmente aqui.

 

Leia abaixo o manifesto de criação dos Cristãos da Letra Vermelha:

 

Por Tony Campolo*

 

Tony_Speaking_1O objetivo dos cristãos letra vermelha é simples: levar Jesus à sério e se esforçar para viver Seus ensinamentos contra-culturais e radicais conforme estabelecido nas Escrituras e, especialmente, abraçar o estilo de vida prescrito no Sermão da Montanha.

Ironicamente, foi um DJ de origem judia, que trabalhava em uma discoteca tocando música country secular em Nashville (Tenessee), quem primeiro sugeriu o título do movimento. Durante uma entrevista de rádio com o meu amigo Jim Wallis, o DJ declarou: “Você é um daqueles cristãos das letras vermelhas – tipo assim, uma daquelas pessoas que está afim de seguir todos os versículos do Novo Testamento, os versículos que estão em letras vermelhas!” A resposta do Jim (Walis) foi “É isso mesmo!”, e ele respondeu por todos nós. Ao nos intitularmos Cristãos da Letra Vermelha, nos referimos ao fato de que em muitas Bíblias as palavras de Jesus são impressas em vermelho. O que estamos afirmando, portanto, é que nos comprometemos, em primeiro lugar, a fazer o que Jesus ordenou.

A mensagem desses versículos bíblicos com letras vermelhas é radical, para dizer o mínimo. Se você não acredita em mim, basta parar alguns minutos para ler Sermão de Jesus do Monte (Mateus 5-7). Nele, Jesus nos chama para longe dos valores consumistas que dominam a América contemporânea. Ele nos chama para atender às necessidades dos pobres. Ele também nos chama para sermos misericordiosos, o que tem fortes implicações em termos do que nós cremos que deva ser a participação dos cristãos nos debates sobre guerra e pena de morte. Afinal, quando Jesus nos diz para amar os nossos inimigos, ele provavelmente quiz dizer que nós não devemos matá-los.

O termo “evangélico” foi atrelado a significados que ele não merece. Na maioria das instituições e espaços seculares, se você se define como um evangélico, as pessoas farão suposições sobre você que podem não condizer com a verdade. Alguma dessas suposições podem até mesmo te ofender.

Recentemente, no campus de uma universidade da Ivy League, perguntei a alguns alunos o que eles pensavam que era característico dos evangélicos. Nenhum deles deu a indicação de que eles definiriam os evangélicos por suas convicções teológicas. Em vez disso, o consenso geral entre esses alunos foi de que os evangélicos são os cristãos que são anti-gay, anti-feministas, anti-ambientalistas, anti-imigração, anti-desarmamento, pró-guerra, ideólogos de direita. Há pouca dúvida de que a mídia secular é em grande parte responsável por este ponto de vista sobre os Evangélicos, na medida em que escolheu aqueles que defendem tais convicções para serem os porta-vozes dos evangélicos. A imprensa raramente se volta para os líderes politicamente moderados quando eles querem comentários sobre as questões sociais que são mais tensas do ponto de vista religioso.

Desafiar a imagem popular dos Evangélicos é uma das finalidades deste movimento. Eu quero que se saiba que há milhões de nós que defendemos uma teologia evangélica, mas que se negam a ser rotulados como parte da direita religiosa. Nós não queremos fazer de Jesus um republicano.

Por outro lado, queremos dizer alto e claro que nós também não queremos fazer de Jesus um democrata.

 

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No início do século XX o dramaturgo e crítico social George Bernard Shaw disse que Deus nos criou à Sua imagem, e que nós decidimos retribuir o favor! É claro que há alguns na direita religiosa que gostariam de transformar Jesus em um republican, em uma encarnação de seus valores políticos. E do outro lado do ringue, há daqueles que fariam de Jesus um democrata que defende a sua agenda liberal particular. Mas Jesus se recusa a se encaixar em qualquer uma das nossas ideologias políticas. Transcendendo a política partidária, Jesus nos chama para julgarmos as questões sociais da melhor maneira possível quando nós votamos, e a fazê-lo de acordo com o nosso melhor entendimento do que é da vontade de Deus. Devemos evitar a política partidária quando ela leva a divisões desnecessárias, improdutivas e até mesmo perigosas.

Em época de eleição quando lhe perguntarem, “Você é um democrata ou um republicano?” Sua resposta deve ser: “Depende em que área!” Em qualquer questão social ou política específica, você deve estar pronto e disposto a descobrir que partido e/ou candidato melhor representa suas convicções.

Nós começamos aqui declarando em alto e bom som que nós abraçamos os elementos essenciais que definem o cristianismo.

Em primeiro lugar, Cristãos da Letra Vermelha têm as mesmas convicções teológicas que definem os evangélicos. Acreditamos nas doutrinas estabelecidas no Credo dos Apóstolos, que afirma as crenças centrais que a igreja tem sustentando ao longo dos séculos:

 

Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu e da terra;

E em Jesus Cristo, um só seu Filho, Nosso Senhor,

Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu de Virgem Maria;

Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado;

Desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia;

Subiu ao Céu, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,

De onde há de vir a julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo,

Na Santa Igreja católica, na comunhão dos Santos,

Na remissão dos pecados,

Na ressurreição da carne,

Na vida eterna.

 

Em segundo lugar, somos cristãos que consideram as Escrituras acima de tudo. Os escritores da Bíblia, acreditamos, foram invadidos pelo Espírito Santo e foram guiados exclusivamente por Deus enquanto escreviam, proporcionando-nos um guia infalível de fé e prática. Destacamos as “letras vermelhas” porque acreditamos que só é possível compreender o resto da Bíblia se você a ler a partir da perspectiva que nos é dada por Cristo.

 

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Em terceiro lugar, e isto é o mais importante, nós reivindicamos que o Jesus histórico pode estar vivo e presente para cada pessoa, e que a salvação depende da nossa rendição a Ele, convidando-o a ser uma presença vital e transformadora em nossas vidas. O mesmo Filho de Deus descrito no Credo dos Apóstolos vai espiritualmente invadir qualquer de nós que o receber (ver João 1: 12) e começar, em cada um, o processo contínuo pelo qual somos transformados em pessoas que são cada vez mais semelhantes a Ele (veja I João 3:2).

Gandhi disse, certa vez, que todo mundo sabe o que Jesus ensina nesses versículos de letras vermelhas – exceto os cristãos. Hoje, muitas pessoas compartilham o mesmo tipo de decepção com a igreja americana. Queremos mudar isso. Aplicar os ensinamentos de Jesus em nossas vidas em tempos tão complicados é difícil, mas é o que os Cristãos da Letra Vermelha se propõem a fazer.

 

*Tradução: Marcus Vinicius Matos

Extraído de: http://www.redletterchristians.org/start/ ; e http://www.redletterchristians.org/history/

 

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