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Morgan Guyton *

(Tradução: Mozart Archilla)

 

Esse texto se refere a campanha eleitoral para Presidente dos Estados Unidos da América. Contudo, há muitas semelhanças no momento político brasileiro que, sem dúvida, também passa por um período “tóxico”. Dessa forma, trazemos aqui uma reflexão tanto para os que já encerraram sua participação nessas eleições municipais brasileiras, quanto para os que ainda o farão, no segundo turno. 

 

 

Estamos passando pelo que parece ser a campanha presidencial mais tóxica da história dos Estados Unidos. Isto é parcialmente devido a candidatos extremamente impopulares. Parcialmente devido às particularidades do nosso momento na história quando Cristãos brancos pela primeira vez não têm maioria política. Parcialmente devido à natureza viciante e venenosa das ferramentas de mídia social. Seria possível a cristãos que são apaixonados e sinceros pelos nossos pontos de vista político que expusessem esses pontos sem destruir nosso testemunho? Como podemos equilibrar nossa vocação para profetizar a verdade e nossa vocação para construir pontes de maneira pastoral? Como cedermos domínio dos nossos objetivos ao Espírito Santo ao invés do Buzzfeed ou de um dos partidos políticos? Aqui estão sete maneiras de deixarmos de ser tóxicos como cristãos no meio dessa loucura.

 

  1. Baseie-se na oração e observação

 

urna_eletronica_confirmaMeu mentor Brian Zahnd reitera constantemente a importância de ser contemplativo ao invés de reativo, em todos os aspectos das nossas vidas. Isso não significa evitar conflito ou ser tímido ao invés de arrojado. Isso significa em vez de nos deixar irritar, tomar posições a partir de um estado espiritualmente fundamentado. Nós não estamos ancorados espiritualmente sem nos comprometer com práticas espirituais que nos permitam nos entregarmos a Deus. Se pretendemos não ser cristãos tóxicos no nosso clima político, devemos empregar tanto tempo ouvindo a Deus quanto articulando nossa visão. Uma base contemplativa cria as circunstâncias orgânicas para nos comportarmos como Cristo. Situações nas quais somos repulsivos com os outros são geralmente expressões de ansiedade descontrolada e bagagem espiritual com as quais devemos lidar através de oração.

 

  1. Fale e compartilhe com intencionalidade

 

Impulsividade é a raiz de grande parte do mal do nosso mundo. Dispensamos palavras que não foram totalmente raciocinadas. Compartilhamos artigos que não lemos do início ao fim somente pelo título provocativo. Isso acontece porque experienciamos nosso mundo como trincheiras de guerra retórica. Então, por isso, lançamos descuidadamente qualquer coisa que desmoralize ou ataque a credibilidade do lado oposto. A suposição é que sob o peso psicológico de todos os escândalos as pessoas do outro lado vão eventualmente desistir. Vivemos num ciberespaço tóxico onde milhões de pessoas ficam dizendo “VIU?” uma dúzia de vezes ao dia. Como seria ser intencional e não impulsivo com o que falamos e compartilhamos na internet? Eu tenho amigos pastores que são muito mais disciplinados que eu, que literalmente escrevem somente coisas boas, zelosas e inspiradoras no Facebook. Embora ache que alguns de nós são chamados a falar profeticamente, isso não nos permite ser impulsivos. É possível que cristãos façam mais do que tentar constantemente minar o ânimo de nossos oponentes políticos? É possível falarmos de maneira que inspire curiosidade e santificação ao invés de sempre tentarmos expor o porquê de nossos inimigos serem completos idiotas?

 

  1. Lembre-se que Satanás é o acusador

 

urna_eletronica_corrigeA palavra Satanás em hebraico significa literalmente “o acusador”. Apocalipse 12:10 se refere a ele como “o acusador da irmandade”. Um mundo repleto de acusação e cinismo é um mundo que foi conquistado por Satanás. Quando acusamos, estamos contribuindo com o trabalho do inimigo. Isso não significa que devemos fingir que não existe nada de errado com o mundo em que vivemos e ignorar as terríveis verdades que estão em volta de nós; porém, acho que é possível nomear a verdade sem nomear pessoas. Eu posso falar da supremacia branca como fenômeno cultural sem chamar pessoas específicas de racistas e que tenho a clarividência para desconstruir tudo o que dizem e enxergar diretamente suas almas. O cristianismo faz a escandalosa, contra-cultural asserção de que a graça funciona melhor que o desprezo para ajudar as pessoas a se curarem de seus pecados. Isso não significa que pessoas que estão ativamente machucando outros com suas palavras não devem ser desafiadas; porém, Satanás tem o domínio sobre qualquer ambiente onde pessoas se regozijam no prazer doentio de atirar acusações pra lá e pra cá.

 

  1. Ache algo a ser apreciado e respeitado nos seus oponentes

 

Eu me vejo completamente desarmado on-line quando conservadores com os quais discuto demonstram genuinamente se importar com a minha vida. Eu tive problemas de saúde e várias dificuldades pessoais sobre os quais tratei abertamente. Pessoas que notam e se preocupam com essas coisas têm muito mais credibilidade quando me criticam do que os predadores que somente invadem minha timeline quando digo algo que contradiz suas ortodoxias. É claro que credibilidade não deveria ser o objetivo, de qualquer maneira. Como cristãos, nossa meta é encher o mundo de amor, não ganhar discussões políticas. Se vamos falar sobre amor ideologicamente através de frases como “love trumps hate” (o amor ganha do ódio) mas não praticamos o amor quando falamos com nossos oponentes, então somos hipócritas desprezíveis.

 

  1. Não ridicularize esperança ou amor, de onde quer que eles venham

 

Elei›es 2014 - Voto em tr‰nsito no IESB, Asa Sul, Bras’lia.

Elei›es 2014 – Voto em tr‰ansito no IESB, Asa Sul, Bras’lia.

Dois anos após Obama ter sido eleito e ter quebrado algumas promessas, Sarah Palin fez uma das coisas mais mesquinhas de sua carreira: subiu em um palanque e perguntou ao público “How’s that hopey, changey stuff workin’ out for ya?” (e aí, como é que tá aquele negócio de esperança e mudança? Tá funcionando pra vocês?). Há muitas pessoas nesse momento discorrendo sobre como a Hillary Clinton é uma inspiração para suas filhas por estar rompendo barreiras ao ser a primeira mulher nomeada para a candidatura à presidência do país por um dos dois maiores partidos. Tenho certeza que muitos não puderam se conter de alegria com seu discurso oficial na convenção democrata e muitos outros despejaram raiva pelo Twitter, vindo da direita ou da esquerda. Talvez nós possamos nos abster do dever moral de pisotear toda expressão de amor e esperança que não consideramos de origem correta. Talvez não devamos repreender todos que dizem “estou chorando porque minha filha agora sabe que pode ser presidente”. Cristãos jamais devem ridicularizar esperança ou amor. Existem muitas oportunidades para discutirmos ardentemente nossas visões políticas; não precisamos invadir um momento bonito de êxtase pessoal do próximo com escárnio e desdém.

 

  1. Considere criticar de maneira privada

 

Eu respondo de maneira muito diferente quando pessoas me escrevem uma mensagem privada ao invés de me chamar de idiota na minha timeline. Por alguma razão, eu me sinto honrado que pessoas tomaram parte de seu tempo pra me escrever privadamente, mesmo que o tempo gasto para digitar uma mensagem pública seja o mesmo. Demonstra respeito, o que te dá muito mais credibilidade se precisar dizer algo mais crítico. “Fora do registro oficial”, descobrimos que as pessoas não são os pregadores ferrenhos de ideologia que aparentam ser em público. Existem obviamente razões válidas para responder em público como um ato de solidariedade quando pessoas estão machucando com suas palavras; porém, se estamos buscando influenciar outros, a comunicação privada é um meio muito mais eficaz.

 

  1. Programe tempo para conversas na vida real

 

Eu não sei como vocês são a respeito de “dizer” mais através de palavras digitadas no telefone do que na vida real. Eu sou péssimo com isso e isso me torna uma pessoa tóxica. Quando fui ao Wild Goose Festival na Carolina do Norte eu fiquei sem sinal de celular por quatro dias e foi um período de restauração tremendo para mim. Eu realmente acho que a falta de conversa na vida real é uma das principais fontes de toxicidade do nosso mundo. Quando tenho conversas de verdade com cristãos dos quais discordo, é extremamente desconfortável e maravilhoso. É muito mais difícil odiar as pessoas quando você está olhando para o rosto delas. Algumas das conversas que mais me transformaram eu tive com pessoas com as quais havia uma discordância ideológica completa. Meu avô era um texano republicano conservador batista do ramo do petróleo. Ele satisfazia todos os requisitos do estereótipo que meu time adora odiar. E ele foi um dos melhores amigos que tive. As conversas que tivemos nas ruazinhas do sul do Texas foram alguns dos momentos mais preciosos da minha vida. Eu preciso separar mais tempo da minha vida atual para conversas na vida real como aquelas.

 

Traduzido de: Seven Ways to Be an Untoxic Christian During a Toxic Presidential Campaign

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morgan-guyton_avatar*Morgan Guyton é o autor de Como Jesus Salva o Mundo de Nós: 12 Antídotos contra um Cristianismo Tóxico (disponível, em inglês, aqui: How Jesus Saves the World from Us: 12 Antidotes to Toxic Christianity ). Seu blog, Mercy Not Sacrifice (Misericórdia Não Sacrifício) é hospedado pelo Patheos. Ele e sua esposa Cheryl são co-diretores da NOLA Wesley, um ministério da Reconciling United Methodist no campus das Universidades de Tulane e Loyola, em Nova Orleans. ______________________________________________________________________________________________________

 

Leia também:

Os Cristãos da Letra Vermelha.

+ O Capitalismo é compatível com o Cristianismo? 

A idolatria do(de) mercado: contra a teologia política neoliberal.

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