Os Cristãos da Letra Vermelha

Morf Morford*

(Tradução: Sara Tironi)

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Jesus parece ter tido suas mais produtivas e satisfatórias conversas com mulheres anônimas, isoladas, estigmatizadas e vulneráveis.

Há a “mulher adúltera” (João 8:1-11) e, claro, “a mulher junto ao poço”.

Ambas eram o tipo de pessoa com quem nenhum Rabi respeitável conversaria – e com quem nenhum homem de qualquer status gostaria de ser visto. Além disso, certamente nenhum homem tocaria em uma mulher estranha – principalmente uma considerada “impura” (no caso, a mulher com hemorragia).

A mulher junto ao poço, além de ser mulher, rejeitada por seu próprio povo, e de ter se casado diversas vezes, também era uma samaritana – e como todos sabem, “judeus não se dão bem com os samaritanos” (João 4:9 NVI).

A conversa de Jesus com a mulher no poço é tão satisfatória que Jesus diz uma das mais impressionantes linhas do Novo Testamento: “Tenho algo para comer que vocês não conhecem” (João 4:32 NVI).

Essa mulher, por sua vez, é considerada a primeira evangelista – senão missionária. Sua vida, e a vida de praticamente todos naquele povoado, foi transformada para sempre.

É significativo o fato de que o nome de nenhuma dessas mulheres tenha sido mencionado.

Nomear alguém, de acordo com dados históricos, era para pessoas “importantes” – reis, profetas e líderes. Essas mulheres não eram “importantes” – na verdade, elas eram excluídas, rejeitadas, “impuras” ou inúteis. Elas eram formas de interrupção e distração. As conversas de Jesus com elas foram “acidentais” e “involuntárias”. E muito mais frutíferas do que suas discussões com líderes religiosos – e com seus próprios discípulos.

Eu aprendo bastante com encontros não intencionados. mulher corcovada 001

Eu geralmente escuto mais do que falo.

Pessoas desprezadas, perdidas e despedaçadas falam com economia de sabedoria prática – elas conhecem muito bem as decepções e traições do mundo – e mesmo que elas tentem, não conseguem ignorar sua própria complexidade em meio à sua própria degradação.

Diferente delas, a maioria de nós, que vive uma vida consideravelmente confortável, ainda acredita em (e ainda vive por) mentiras contadas pelo mundo – e por nós mesmos.

A maioria dos “cristãos” que eu conheço sente “orgulho” por não “precisar” de ninguém.

E, a maioria deles, quando eu os pressiono, admite livremente que, não fosse pela promessa do Paraíso ou pela ameaça do Inferno, tampouco “necessitaria” de Deus.

Essas mulheres perdidas e abandonadas sabem melhor. Elas sabem que Deus pode, e que Ele vai alcançá-las, tocá-las e restaurá-las. Pessoas “religiosas” raramente “precisam” de Deus – ou mesmo de qualquer graça humana anônima. “Precisar de Deus”, para muitos de nós, é visto como um sinal de fraqueza. E talvez seja. É uma “fraqueza” que nos permite ser tocados, ou sermos aqueles que tocam os feridos, sem esperar nada em troca.

 

Traduzido de: The Women in Jesus’ Life

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*Morf Morford. A fé não é uma fórmula. Eu não usaria nem a palavra “relacionamento” nem a metáfora de “uma jornada” para descreve-la. Quanto mais velho fico, mais me parece com um processo – um foco determinado em ouvir o eterno, calar os ruídos e distrações, e se aproximar cada vez mais de cada sussurro e cada palavra, para perto da completude – e esvaziamento – do pulsar, das mãos e propósitos do Criador que, assim, nos leva finalmente para o lugar onde nós pertencemos. Sou professor e escritor, o que significa que gosto de ouvir e compartilhar o que vejo e escuto.

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