Centro Evangélico de Missões, 39 anos

Por Paulo Roberto (Bebeto) Araújo

O girassol é uma planta extraordinária, pode ser cultivada, com sucesso, nos cinco continentes. É considerada uma planta completa, com múltiplos usos! As suas sementes são utilizadas para a alimentação humana e de animais, delas se extrai óleo comestível e medicinal. Suas folhas servem para adubação verde, as hastes podem originar material para forração acústica. Das belas flores podem ser extraídos de 20 a 40 kg de mel por hectare da cultura.

As sementes de girassol são lindas e a partir delas podemos elaborar belíssimas metáforas. Convivi por quinze anos com agricultores familiares do Vale do Ribeira e metáforas sobre sementes na boca deles ganham muita força por causa da experiência pessoal e diária de preparar a terra, semear, cuidar, acompanhar a floração, a frutificação e realizar a colheita – esse é um processo que envolve um trabalho árduo e muito suor. É também um processo que envolve muitos riscos e desafia o agricultor a plantar e a exercitar a fé (expressão comum na boca de agricultores: “se Deus quiser…”), paciência e perseverança.

Outra característica interessante do girassol é a generosidade da abundância de sementes e o alto poder germinativo delas.

Pensando nisso enquanto me preparava para participar do café da manhã de celebração dos 39 anos do CEM (Centro Evangélico de Missões), imaginei que a Escola pode ser comparada a uma planta generosa na abundância de sementes com alto poder germinativo. O CEM é “obra das mãos de Deus”, para a glória de Deus; é como uma planta que tem produzido e espalhado frutos e suas sementes para várias partes do mundo. Isso é possível porque a “energia vital” dessa planta (CEM) é “o Sol da Justiça” (Ml 4.2) ou “a brilhante estrela da manhã” (Ap 22.16) – Jesus Cristo.

Posso testemunhar que o CEM foi um divisor de águas em minha vida e caminhada de serviço e missão. Não apenas as aulas com excelentes professores e os dois anos de estudos que tivemos aqui, mas sobretudo a vivência e a comunhão com pessoas como o Reve (Pastor Elben César), Marcelo e Silvana Vargas, Carlos del Pino, Tonica, Jony, Seu Clóvis e várias das pessoas presentes naquele café e celebração.

O CEM para mim tem esse aspecto de comunidade, uma comunidade de aprendizagem. Num ambiente comunitário nós não apenas estudamos ou aprendemos, nós somos transformados. A vida em comunidade transforma o nosso jeito de ser, gera verdadeiras conversões, nos liberta do individualismo e nos impulsiona para uma vida solidária e de serviço ao outro. Isso é fundamental numa escola de formação missionária, porque os alunos sairão dela para criar comunidades onde o Evangelho do Reino será proclamado e vivenciado, através de palavras e ações.

Sei que muitos cristãos foram ensinados a “pensar grande e dar a volta por cima…”. Estou cada dia mais convencido de que nós precisamos de uma missiologia que nos ajude a “pensar pequeno” e a “dar a volta por baixo”. As pessoas de verdade vivem no micro contexto, é no nível local que as boas novas, quando anunciadas e demonstradas, promovem transformação. Quando Deus enviou o seu Filho para salvar o mundo, enviou-o para viver num pequeno vilarejo dominado pelo Império Romano. E parece que realmente Jesus nunca foi muito longe do lugar onde ele cresceu. Ele também não buscou poder e não tentou “dar a volta por cima” de ninguém, ele subverteu a ordem, mas fez isso através da prática radical da misericórdia e do serviço aos “não-gente” da sua época.

Aos filipenses Paulo disse: “Tenham a mesma atitude demonstrada por Cristo Jesus. Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar. Em vez disso, esvaziou a si mesmo, assumiu a posição de escravo e nasceu como ser humano…” (Fp 2.5-7).

O CEM deve preservar esse ambiente de comunidade de aprendizagem onde ninguém detém o monopólio do ensino, todos aprendem uns dos outros, porque, afinal de contas, todos são discípulos do único mestre, Jesus de Nazaré.

Meu desejo é que além da fé, paciência e perseverança, que Deus conceda aos que dirigem o CEM, discernimento, sabedoria, estratégias e coragem para preservar a excelência acadêmica e, ao mesmo tempo, nutrir esse ambiente comunitário de aprendizagem e transformação.

  • Paulo Roberto (Bebeto) Araújo, engenheiro Florestal (UFRPE), estudou no CEM em 1995-1996, viveu e trabalhou com igreja e desenvolvimento comunitário em Itaperuçu (PR), nos últimos dez anos é diretor da Missão Aliança Noruega no Brasil.

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