Por Phelipe Reis

Um casal missionário norte-americano retornava para o país de origem após 50 anos na África. Durante a viagem de navio, eles imaginavam como seriam acolhidos e as homenagens que receberiam dos familiares, amigos e irmãos da igreja. Ao se aproximarem do porto, viram muitas bandeiras, banda, fanfarra e uma festa preparada. “Que maravilha! Eles estão prontos para nos receber de volta”, pensaram eles. Porém, quando saíram do navio, depois de um bom tempo, não havia mais ninguém esperando. Diante daquele silêncio, comentaram: “A festa deve ter sido para aqueles homens de terno no navio”. Então foram para casa, cansados e frustrados, pois não havia ninguém para recebê-los e nenhuma homenagem a ser prestada. O esposo ficou revoltado e questionou a esposa se era isso que Deus tinha para eles após 50 anos de ministério. Ele andou, andou e indagou a esposa novamente: “Falou com o seu Deus se é isso que ele tem para nos dar, depois de renunciarmos 50 anos da nossa vida ao ministério?” Ao que a mulher respondeu: “Deus disse que nós ainda não chegamos em casa”.

A história acima circula na internet há algum tempo. Em artigo no site da Associação Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT), Shirley Souza comenta que agências e igrejas enviadoras não cuidam adequadamente de seus missionários. Diante disso, nos lembramos de Gálatas 6.10 que nos encoraja a fazermos o bem a todos, especialmente aos da família da fé, sempre que tivermos oportunidades. Diante disso, gostaríamos de apresentar dicas de como a igreja local pode receber melhor os missionários que retornam para casa.

As sugestões a seguir foram compartilhadas por Catherine Allison. Ela, o marido e os filhos haviam passado anos servindo como missionários no Malawi, e seis meses depois de retornarem aos Estados Unidos, ela escreveu:

Após meses de transição, meus olhos estão mais abertos do que nunca para a importância de cuidar dos ex-missionários. Quer eles tenham retornado definitivamente ou estejam de licença, as necessidades dos ex-missionários são únicas, e o impacto positivo dos cuidados que recebem pode ser de longo alcance.

Confira seis maneiras de amar e cuidar bem dos missionários quando eles voltam do campo:

1. Cuidado com a adoração de heróis missionários

Evite colocar os missionários em um pedestal que eles nunca deveriam ocupar. O culto heroico de missionários causa graves danos – aos missionários, à igreja e às missões como um todo. Reconheça-os, mas não os transforme em heróis ou estrelas.

Os rostos que você vê nos cartões ou informativos missionários são pessoas comuns. Trate-os como pessoas normais. Mostre interesse pelo ordinário. Embora missionários tenham a tendência de contar muitas histórias impressionantes, existem mais histórias comuns e ordinárias, momentos de limpeza, reuniões e café com amigos, do que costumam constar nas cartas informativas.

Veja os missionários por quem eles são, não pelo lugar em que vivem ou pelas histórias que trazem.

2. Prepare-se para emoções misturadas e choque cultural

Não conclua que os missionários estão entusiasmados por estarem de volta. Eles podem parecer apáticos ou de luto. Em vez de julgar, comemore que eles criaram raízes fortes no campo missionário. Reconheça que eles deixaram uma vida inteira – e às vezes seus sonhos – para trás. Eles não estavam numa viagem de férias ou a passeio. Estavam num lugar onde tiveram triunfos e lágrimas, animais de estimação e amigos, plantas de casa e memórias. Ao mesmo tempo, se eles estão empolgados por estar de volta no seu local de origem, não pense que eles não estavam indo bem no ministério. É complicado.

Procure pesquisar e ler um pouco sobre choque cultural reverso. Isso vai lhe ajudar a entender um pouco do processo de retorno e demonstrar que você se importa com a aquela família. Seja gentil e paciente.

3. Faça do descanso uma prioridade

Pergunte o que eles precisam para realmente descansar e trabalhe com sua igreja para que isso aconteça. No campo, muitos missionários sentem que estão “on” o tempo todo. Proporcione momentos para que eles conheçam e se misturem com as pessoas da igreja. Convide-os para jantar. Inclua-os em rodas de amigos. Mesmo que eles digam não na primeira vez, é sempre bom mostrar que alguém lembra deles.

4. Ajude a desconstruir o estigma com questões de saúde mental nas missões

Este é um grande problema. Muitos missionários sofrem em silêncio. Muitos sofreram trauma após trauma e nunca recebem os cuidados de que precisam. Muitos têm medo de procurar tratamento ou aconselhamento, por receio de que seu sustento possa estar em jogo.

Pergunte aos missionários se eles estão recebendo aconselhamento ou fazendo terapia. Se eles disserem não, pergunte se eles precisam de ajuda para fazer isso acontecer (encontrar contatos, pagar contas, etc.). Qualquer barreira que você possa remover, será de grande ajuda.

5. Supra as necessidades, mas atenda desejos também

Atender as necessidades práticas e básicas é importante. Mas procure também atender desejos. Encoraje para que façam uma lista de desejo. Você pode presentear os filhos com ingressos para um parque temático, ou enviar para a família uma comida gostosa por delivery. Antes de fazer algo, é importante perguntar.

6. Acima de tudo, ouça bem

Faça boas perguntas. Seja curioso. A curiosidade comunica interesse e o interesse comunica cuidado.

Peça para ver fotos. Pergunte os nomes de seus amigos nas fotos. Indague sobre as histórias. A maioria dos missionários deseja conversar e compartilhar. Muitos só precisam de alguém para ouvir suas experiências, suas histórias, suas lutas e a beleza de suas vidas no campo. Seja uma pessoa que ouve.

7. Uma palavra de cautela

Se você ainda não tem um relacionamento com um missionário, talvez precise de um tempo antes de querer se aprofundar na vida dele ou daquela família. Então, tenha cuidado com as perguntas para não ser inconveniente e criar barreiras com quem você deseja demonstrar amor e cuidado. Comece construindo uma amizade. Caminhe ao lado deles. Com o tempo, a confiança será construída e as conversas se aprofundarão.

 

Reproduzido do site Sepal com permissão do autor.

 

  • Phelipe Reis, amazonense, é casado com Luíze e pai de Elis e Joaquim. É missionário, jornalista e colaborador do Portal Ultimato.

Saiba mais:

» O cuidado e a mulher em ministério transcultural
» A garota [da foto] na geladeira – os filhos de missionários também são chamados?
» Cuidando dos filhos de missionários brasileiros em meio a uma pandemia

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *