Por Paulo Feniman, missionário da MIAF – AIM South America, presidente da AMTB

A unidade a partir da humildade

Tenho refletido muito nestes dias sobre as ações e atitudes da igreja e como essas ações têm atrapalhado a UNIDADE do corpo. Acho que existe um senso comum entre nós que a unidade é fundamental para o avanço do Reino de Deus, se assim não fosse Jesus não teria orado por seus discípulos e por nós – “Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”, João 17:20-21 (NVI). Ainda sim, temos vivenciado tempos nebulosos. Por todo lugar tenho visto discussões acaloradas que envolvem diferentes pensamentos quanto a linhas teológicas, modelos missiológico e porque não mencionar aqui a polarização política que se tornou foco principal nas redes sociais, rodas de conversa causando grandes desavenças, brigas e acusações e a mais nova moda, o cancelamento virtual.

A perspectiva do apóstolo

No entanto, ao lermos Filipenses 2:1-4, vemos o apóstolo Paulo nos dando uma nova perspectiva sobre as relações humanas. Paulo sugere que devemos manter a humildade para aumentar nossa capacidade de ser um em espírito e propósito com os outros.

Paulo fala sobre a unidade do corpo como fator fundamental para os relacionamentos. Mais a unidade aqui descrita por Paulo não é tão simplista quanto imaginamos, todo mundo dentro de um mesmo caldeirão religioso ou organizacional. Aliás, uma boa parte dos nossos fracassos em termos de unidade se dá por conta de nossas tentativas de querer ou tentar fazer com que as pessoas sejam iguais. Unidade não é isso.

A unidade se expressa no meio da diversidade, o que nos une não é o fato de sermos iguais, mas o fato de estarmos debaixo do mesmo Deus. E é assim que Paulo inicia sua palavra no capítulo 2, dizendo que é por estarmos em Cristo, que podemos “ter o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude”.

E a unidade é um resultado da humildade.

A maior parte dos relacionamentos não avançam por falta de humildade de uma das partes envolvidas. Humildade é a chave para relacionamentos saudáveis e nosso maior exemplo está na pessoa de Jesus.

Por essa razão o apóstolo nos convida a imitar o exemplo da humildade de Cristo. Havia ainda a necessidade de exortar os crentes de Filipos à unidade e à humildade. Isso levou Paulo a compor sua mais profunda declaração concernente à humanidade de Cristo; à sua missão humana; à sua humilhação; ao seu triunfo em sua missão terrena e à sua exaltação aos lugares celestiais, que redundará em sua supremacia sobre tudo que há na criação (Fp 2:5-11). Paulo exorta aos filipenses e a nós a seguirmos o modelo de servo a exemplo de Cristo.

A unidade que Paulo busca é cultivada de forma intencional. Essa unidade tem que ser uma ação prática, eu tenho que decidir, especialmente em meio a uma comunidade, time, igreja manter um só modo de pensar, um mesmo amor, espírito e atitude.

As nossas ações devem ser pautadas não por egoísmo, mas por humildade. Colocar o outro acima dos meus próprios interesses é uma ação de humildade.

Exercer humildade nos relacionamentos ao contrário do que muitos pensam, não é sinônimo de fraqueza, é uma grande virtude que poucos permitem que seja desenvolvida. A humildade é a oitava virtude do Fruto do Espírito Santo citada pelo apóstolo Paulo em Gálatas 5:22-23. Ela deve ser evidenciada na vida do cristão em todas as áreas principalmente na ação missionária.

A humildade não é uma qualidade natural, porque se fosse não teria sido destacada pelo apóstolo Paulo como virtude do fruto do Espírito Santo. Então é necessária uma ação do Espírito Santo para frutificar em a humildade. Precisa de cultivo espiritual.

A humildade (mansidão) é vista como a disposição de submeter-se à vontade de Deus e de considerar o bem do outro acima do nosso próprio bem.  É uma atitude que se expressa na submissão às ofensas, livre do desejo de vingança.

Esta virtude me faz lembrar das palavras de Jesus Cristo: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma” (Mateus 11:29).

Oswald Chambers, (pastor e professor escocês 1974-1917), observou certa vez que o chamado de Deus “visa a tornar-nos ‘pão partido’ e ‘vinho derramado’. Deus nunca poderá tornar-nos vinho se resistirmos ao seu toque quando ele vier nos esmagar”.

Para Deus nos transformar, para ele espremer tudo que há em nós que precisa ser extraído (mudado) é necessário ter humildade. Ao passarmos por este processo doloroso, que faz parte do processo de santificação do cristão, aprendemos a olhar os outros ao nosso redor da mesma forma que Jesus nos olhou.

Desta forma quero propor aqui alguns aspectos práticos no exercício da Humildade

  1. Ser servos – Às vezes queremos fazer somente o que nos convém, mas o verdadeiro servo deve estar pronto, preparado e disposto para ajudar no que for necessário, seja qual for o trabalho. “Tudo quanto te vier à sua mão para fazer, deve ser feito com todas as suas forças” (Ec 9:10).
  2. Esvaziar-nos – Devemos saber o que somos diante de Deus e dos homens. Jesus abriu mão de sua glória se fez homem e morreu por amor à humanidade.
  3. Evidenciar a humildade em nossa vida – Em nossas atitudes ao lidar com situações a nossa volta, em nosso falar ao expressarmos nossos sentimentos e pensamentos e em nosso ouvir.
  4. Reconhecer nossos erros – “O orgulhoso para se defender, ataca!”
  5. Reconhecer quando não sabemos algo – Admitir nossas limitações e não ter medo de dizer: “eu não sei”.
  6. Reconhecer que há mais potencial no grupo – Há uma frase assim: “Onde há pessoas, há problemas”. Prefiro pensar: “Onde há pessoas, há potenciais”. Reconhecer inclusive que sempre haverá alguém melhor do que eu em diferentes áreas.

A humildade é um dos caminhos que nos leva à unidade e a relacionamentos saudáveis.

Em obediência ao Pai, Jesus abandonou sua posição e privilégios e se humilhou para cumprir os propósitos dele. Quão difícil é para você renunciar a sua posição ou privilégios a fim de trabalhar junto em unidade com outros no corpo de Cristo?

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