Por Ariane Gomes

 

“Não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo, (…) permaneçam firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica; completem a minha alegria tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito, uma só atitude. A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o espírito de vocês” (Fp 1.27; 2.2; 4.20)

Viçosa, maio de 2023.

Queridos amigos,

Muitos têm me perguntado a respeito da viagem que fiz a Bogotá há alguns dias e isso me alegra muito – a amizade e a generosidade de vocês têm sido extraordinárias!

 

Escutar, encontrar, enviar

Nos dias 2 a 5 de maio, reuniram-se na Casa de Encontro San Pedro Claver, em Bogotá, Colômbia, cerca de cem líderes e missionários cristãos de dezoito países da América Latina e América Central, Espanha e Estados Unidos, para escutar, refletir, compartilhar, sugerir e cultivar esperança a propósito da missão de Deus na América Latina.

Fui convidada e enviada para o Encontro de Reflexão Missiológica – La “Missio Dei” em nuevos tempos em clave latino-americana pela Editora Ultimato, que há treze anos é lugar de trabalho e de oportunidades para que Jesus seja mais conhecido e mais amado.

Foi um bom desafio encarar a série de preparativos e processos que envolvem desde tomar vacina até chegar ao destino e, depois, voltar para casa e reacomodar-se à rotina. A condução amorosa de Deus foi perceptível em todo tempo.

 

Em Bogotá

Conviver por quatro dias com um grupo de pessoas em sua maioria falantes de espanhol não foi fácil. A cabeça fica cansada e é preciso dedicar grande esforço para compreender e desenvolver uma conversa. Alguns foram gentis falando mais devagar ou pedindo-me para ensinar algo em português.

Algumas palavras e expressões ficarão comigo. Passeando pelas ruas de Bogotá, aprendi que estacionamento é parqueadero, loja de ferragens, ferreteria, e que cabeleireiro é peluqueria. Almoçando com um grupo de peruanos, hondurenho, costarriquenho, equatoriano e colombiana soube que seria melhor dizer mui saboroso ou mui rico ao invés de “gostoso”, ao referir-me a um alimento.

Embora o evento tenha sido um convite à escuta, não pude deixar de ver nem de conviver.

De ver as bonitas rosas colombianas – exuberantes, coloridas e perfumadas – capazes de deixar a gente sem palavras; de ver e admirar os rostos latino-americanos com seus traços característicos: morenos, de cabelos lisos e bem pretos e sorriso prazenteiro; de contemplar a bela mirla (ou patinaranja), uma ave pouco maior que o sabiá-laranjeira, com penas marrom escuro e com bico e pernas de cor laranja vivo que visitava o jardim da Casa de Encuentros de manhãzinha e ao final da tarde.

Também não pude deixar de ver (e de conviver com) um grupo de idosos que moram no Lar de anciãos, parte da comunidade da Casa de Encuentros. Fugindo do frio, tomamos sol juntos no jardim várias vezes. Sem constrangimento, eles sorriram de minhas insistentes tentativas de falar e compreender o espanhol. Por algum tempo, fui sua aluna e eles meus professores. Os lúcidos contaram suas histórias, e os de memória frágil contaram com a amizade dos outros para me fazerem saber algo a seu respeito enquanto insistiam para que, repetidamente, eu olhasse um avião atravessando o céu azul ou as rosas do jardim…

Foi marcante a experiência de convivência com pessoas simples, os trabalhadores daqui e dali: dois jovens porteiros da Casa de Encuentros que me ajudaram a chegar ao mercado e que várias vezes quiseram saber como eu estava me saindo; a atendente do primeiro mercado em que fui, que fez um grande esforço para me ajudar a encontrar um restaurante; a moça da loja de utilidades, que me explicou pacientemente como ir de um lugar a outro; a irmã Magnólia, uma freira gentil e alegre, que se aproximou para perguntar sobre a hospedagem e o almoço e ficou contente ao ouvir falar do Brasil. Escutas e encontros e mais encontros.

Também voltam à minha mente a lembrança de Ruth, do Peru, Alejandra, do Uruguai, e de Andres, um norte-americano que vive na selva da Bolívia registrando a história das igrejas plantadas por missionários ali. Todos jovens, curiosos, alegres, dispostos, refletindo e trocando ideias com os da “velha guarda da missão integral”. Penso que eles são um tipo de Hadassa e de Josué que em breve receberão o bastão passado pelos Mordecai e Moisés, e darão seguimento à missão de Deus na e a partir da América Latina.

Nos momentos devocionais – guiados pela Carta de Paulo aos filipenses – nas palestras, conversas e nos momentos de oração em grupos ou individual, percebi uma preocupação sincera com a igreja, com os missionários, com os trabalhos das organizações cristãs representadas. Muitos se perguntaram sobre os caminhos escolhidos, sobre que rumo seguir e pediram de coração a intervenção de Deus, seja para correção ou para a continuidade de cada iniciativa.

Não pude deixar de lembrar da Ultimato, do CEM (Centro Evangélico de Missões), da IPV (Igreja Presbiteriana de Viçosa) e de outras igrejas, de missionários em comunidades ou países distantes e de amigos que dedicam seu fervor evangelístico e suas habilidades profissionais em diferentes frentes de trabalho; lembrei-me de seus esforços, desafios e do desejo de que a vontade de Deus seja feita na terra como é feita no céu.

Em uma das madrugadas silenciosas durante o tempo em Bogotá, acordei perguntando se os encontros e escutas, as oportunidades de convivência e de aprendizado não seriam também parte do trabalho, do envio e do exercício da missão de Deus. Acredito que sim.

Nos lábios latino-americanos, Ariane tornou-se Irina, Arina, Arian e Ariana do Brasil, da Ultimato.

 

Sim, também tem a parte cultural

Comi arepa, ajiaco, plátano (que parece, mas não é banana), frijoles, patacones, granadilla, tomei vários caldos – sempre acompanhados de coentro – e bebi o famosíssimo café colombiano. Tomei agua-panela (uma bebida quente inusitada servida com o jantar) e fiquei admirada com o sabor do mamão, do abacaxi e do abacate – mais doces e marcantes do que os que experimentara até então.

Visitei o belo Jardim Botânico José Celestino Mutis, de Bogotá, o Museu do Ouro (uma riqueza!) e caminhei pelo centro da cidade. Fiquei presa no trânsito caótico de uma sexta-feira à tarde e andei nos táxis ousados como os das cidades brasileiras. Notei as avenidas largas no bairro em que fiquei hospedada e uma quantidade enorme de pessoas com cachorros – uma colombiana explicou que com a pandemia da Covid-19 muitas pessoas passaram a ter um animal de estimação para poderem ir à rua com a justificativa de levá-lo para passear – uma das poucas saídas permitidas no tempo de maior restrição.

 

Quanta gente!

Sou grata pelos encontros à mesa (que antecederam e prepararam a viagem, de refeições, de estudo e oração); pelas conversas nos corredores e nos jardins de Bogotá e por todos os que compartilharam sua experiência por serem colombianos, por terem morado na Colômbia ou por serem viajantes experientes.

Aos que participaram de outras tão diferentes maneiras desta oportunidade, envio minha gratidão e oro para que a bênção de Deus seja sobre cada um.

“Ó Deus, dê-nos ouvidos para ouvir com clareza e sem nos distrair, e capacidade para obedecer com alegria e de todo o coração” foi uma oração escrita por mim dois ou três dias antes do evento. Continuo desejando sabedoria e ouvidos abertos para ouvir como Deus deseja que eu ouça, e capacidade para obedecer com alegria e de todo o coração.

  • Ariane Gomes atua como coordenadora de produção de Ultimato e gestora de conteúdo do Portal Ultimato. Ela escreveu esta carta aos amigos que acompanharam sua viagem a Bogotá.

Saiba mais:
» Raízes de Eum Evangelho Integral, Valdir Steuernagel
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» Os pioneiros falam sobre missão integral

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