Por Amanda Almeida

À primeira vista, Um Homem de Família (2017) parece ser mais um daqueles filmes no qual um cara que se dedica excessivamente ao trabalho, e por isso acaba deixando a vida pessoal de lado, finalmente percebe que o que importa na vida são os relacionamentos. De certa forma, isso acontece sim. Mas acaba não sendo o ponto mais alto do filme.

Esse título pode até parecer um trabalho não tão bom de tradução (à la as “turmas do barulho” e “noites muito loucas” dos filmes dos anos 90 na da Sessão da Tarde), mas o original é A Family Man mesmo. Gerard Butler é Dane Jensen, o homem em questão, um recrutador muito competente que passa a disputar uma promoção na empresa. No meio dessa competição, seu filho fica doente. A essa altura fica claro que a intenção é que o personagem entre no conflito entre dedicar tempo à família ou ao trabalho.

O problema é que esse dilema não é lá tão bem sustentado. Até o momento em que o filho vai para o hospital, o expectador não é deixado com a sensação de ausência da figura paterna na família vista na tela. Vemos momentos de Dean presente e interessado nos acontecimentos da vida dos filhos, e até fica registrado que ele não pode estar em alguns compromissos, mas de certa forma isso é compreensível. O que não é compreensível são as táticas duvidosas que Dean toma para ter sucesso em seu trabalho. E é nesse dilema que o filme ganha força.

Aos olhos do filho, o que o pai faz é “ajudar outros pais a encontrarem trabalho, para poderem sustentar suas famílias”. Como recrutador, Dean conecta profissionais em busca de emprego a empresas com vagas disponíveis. Parece algo até altruísta quando colocado dessas formas, mas são altíssimas as taxas de comissão e os benefícios envolvidos nessas negociações, que nem sempre são honestas. E com uma oferta de promoção dependendo de seu desempenho, Dean faz com que elas sejam menos honestas ainda. Em certo momento, o filho pergunta ao pai se ele acredita em Deus. A resposta que recebe é “depende do mês que estou tendo”.

Quando as coisas apertam, não conseguimos mudar tudo só com palavras; são as ações que contam. E é quando Dean busca fazer o que é certo no lugar de fazer o que vai gerar melhores resultados que seu dilema no trabalho é resolvido. E com essa nova visão sua relação com a família também sofre os impactos positivos.

Apesar da questão central de Um Homem de Família não ser tanto a família, ela entra na dança quando fica claro que a forma como a gente encara o mundo impacta tudo ao nosso redor. O que andamos valorizando: coisas, status e resultados, ou os relacionamentos e a forma como os construímos? A resposta à essa pergunta vai influenciar positiva ou negativamente todas as áreas da vida, sendo a família a primeira e mais importante delas.

  • Amanda Almeida tem 24 anos e é formada em Comunicação Social pela UFMG. Sua monografia tratou de jornalismo cultural, arte e cristianismo. Amanda escreve para o blog Ultimato Jovem sobre cinema.

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