Por Erica Neves

Detalhe da Cruz Vazada no quintal da Editora Ultimato.

Detalhe da Cruz Vazada no quintal da Editora Ultimato.

O sol de domingo ainda não havia raiado e elas, as duas Marias, se dirigiam aos prantos para o sepulcro do Mestre. Há tempos o seguiam e, para a tristeza de seus corações, haviam testemunhado também a execução de Jesus. Mesmo de longe viram a forma execrável como ele fora tratado pelos soldados.

Seus corações se comprimiram de pura dor ao verem seu senhor ser desprezado por tamanha multidão! Em meio às centenas de rostos que expressavam rancor e exigiam a crucificação de Jesus, as duas Marias reconheceram muitos daqueles que por ele haviam sido curados.

Como desejaram que Deus o salvasse e mostrasse a todos o quanto estavam errados a respeito do mestre! Todavia, absolutamente nada havia sido feito para impedir a morte de um homem justo e inocente. Nem mesmo seus discípulos lhe deram o apoio de que necessitava em seu momento derradeiro. Todos, inclusive o Pai, o abandonaram.

Elas também testemunharam o instante em que ele, depois de muito sofrer, expirou. Tais imagens estavam vívidas em suas mentes tornando seus corações muito tristes e pesarosos. Como era possível que aquele homem que lhes estendera a mão e lhes ensinara sobre o amor de Deus não mais estivesse vivo?

Enquanto se dirigiam para o sepulcro, guardavam silêncio. Mas em seus pensamentos, imagens vívidas de Jesus teimavam em aparecer. Seu ensino cheio de autoridade ainda ressoava em suas memórias. Seu sorriso terno, a voz extremamente gentil e doce que convidava para junto de si as crianças, os pobres, as mulheres, os doentes e marginalizados estava bem nítida em suas memórias.

Todavia, o que mais marcara o tempo em que passaram com Jesus foi a misericórdia com a qual foram por ele tratadas. Nunca antes um homem judeu – e muito menos um rabi! –  lhes tratara com tanto respeito. Afinal, elas eram mulheres… E enquanto tais, já estavam acostumadas a serem excluídas, rebaixadas e desprezadas. Jesus lhes dera um lugar legítimo entre os seus seguidores e abrira precedentes para que outros homens as tratassem com dignidade.

Durante todo o dia de sábado tudo o que fizeram foi chorar e lamentar a morte do Mestre. Mal esperaram aquele longo e triste dia terminar e se dirigiram ao local onde seu corpo fora guardado para prestarem a Ele sua última homenagem. Queriam embalsamá-lo, chorar a sua morte e expressar, ainda que diante de um corpo inerte, seu amor e sua gratidão.

Por isso tinham tamanha urgência em chegar ao sepulcro.

Qual não foi a surpresa que tiveram ao chegarem lá! A pedra que guardava a tumba fora retirada e sobre ela um ser resplandecente irradiava tudo à sua volta com uma doce e pura luz! Os guardas que não hesitaram em escarnecer e zombar de Jesus foram tomados de pavor ao verem o anjo.

No entanto, o belo ser celestial se dirigiu a elas com ternura, dizendo: “Não tenham medo! Sei que vocês estão procurando Jesus, que foi crucificado. Ele não está mais aqui, pois vive!”.

As duas Marias mal podiam acreditar no que ouviram! “O mestre está vivo!”, diziam entre si. Em sua corrida para anunciar a boa nova aos outros discípulos nem perceberam que um homem se aproximava. As lágrimas de alegria embotavam seus olhos, e elas mal podiam enxergar.

De repente, aquele peso que esmagara seus corações desde que Jesus fora crucificado dera lugar à leveza, à alegria e ao entusiasmo. A dor e a tristeza podiam e deviam sair. O mestre vive!

Mas o desconhecido estava agora muito perto e elas finalmente conseguiram enxergar. Aquele homem que estava de pé diante delas era o próprio Jesus!

A alegria da descoberta de que o mestre estava vivo só foi superada pela alegria de vê-lo, abraçá-lo e adorá-lo! Tocaram em suas chagas e, com alívio, constataram que elas não mais lhe causavam dor. Abraçaram Jesus e sentiram a vida que exalava do seu corpo quente, pulsante, vivo!

O sol de domingo agora irradiava seu brilho tênue. Os pássaros cantavam alegres enquanto belas flores desabrochavam anunciando a redenção da Criação.  No íntimo, aquelas mulheres sabiam que algo de sobrenatural acontecera naquele lugar. Enquanto durasse esse mundo sabiam que para sempre aquele domingo seria especial.

O Mestre está vivo!

(Texto baseado na narrativa de Mateus 28:1-10)

 

• Erica Neves, 28 anos, esposa do Fred, mãe do Pedro, jornalista e é membro da Igreja Presbiteriana Vida, em Goiânia, GO.

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