Reciclando vidas – Altos Papos
Sara Rebeca tem 17 anos e faz parte do projeto Reciclando Vidas. Ela é mentora de uma área do projeto que tem como objetivo despertar o interesse pela literatura em crianças que moram em uma área de aterro sanitário na cidade de Montes Claros, MG.
De que se trata o projeto? Por que participar dele?
Ao retornar para Montes Claros, minha cidade natal, fiquei decepcionada com o fato de as escolas não levarem a leitura a sério e, consequentemente, com a falta de senso crítico das pessoas. Senti a necessidade de fazer algo para mudar essa realidade e foi aí que conheci o Reciclando Vidas. Uma vez por mês a equipe do projeto promovia um momento de lazer com as crianças para mostrar a realidade fora do lixão, e eu, que sempre acreditei no poder transformador da leitura, dei a ideia de compartilhar literatura com as crianças e mostrar um novo universo para elas.
Como é a dinâmica do projeto? Como as crianças e as famílias estão reagindo?
Nos reunimos três vezes por mês em uma biblioteca que fica no mesmo bairro do lixão. Convidamos as crianças e realizamos atividades de acordo com a faixa etária delas. Trabalhamos a alfabetização de forma lúdica, a caligrafia, a produção e interpretação de texto, além de valores como limpeza e organização. Além disso, oferecemos lanche e oramos com elas. A cada dois meses, realizamos um encontro fora do bairro proporcionando-lhes uma vivência diferente. Elas são sempre muito participativas, reclamam e sentem falta quando ficamos algum final de semana sem nos encontrar, e o mesmo acontece com suas famílias, que desde o começo do projeto nos receberam muito bem. A casa em que construímos a biblioteca foi cedida por um ex-morador.
Você é bem jovem. Como se sente fazendo parte desse projeto? Sua idade atrapalha algo?
Sinto-me muito feliz por poder contribuir de alguma forma na mudança da vida daquelas crianças; sinto-me amada por todos. A minha idade às vezes atrapalha um pouco, porque em certas situações não transmito a credibilidade necessária para conseguir doações. Além disso, como ainda dependo dos meus pais e estou no último ano do ensino médio, tenho de conciliar toda a pressão do vestibular com a demanda do projeto. Isso faz com que eu não consiga resolver alguns problemas na comunidade ou atuar de uma forma mais efetiva.
Como a sua equipe tem reagido a essa experiência e ao relacionamento com as crianças mais vulneráveis?
A maior parte da equipe já estava habituada com ambientes vulneráveis. No entanto, nenhum de nós conhecia um lugar com tanta miséria. Ainda é difícil lidar com algumas situações, como quando alguma criança nos oferece comida que tirou do lixo. Por isso, tentamos ensinar hábitos de higiene e fazemos o máximo para que a biblioteca seja uma casa modelo para elas, limpa, organizada, muito diferente dos lugares que frequentam. Quando voltamos para nossas casas, não sabemos se damos valor a tudo que temos ou se ficamos revoltados com o fato de essas crianças serem invisíveis para o resto da sociedade.
O que essa iniciativa tem a ver com o evangelho?
Esse é o nosso modo de mostrar o amor de Cristo para aquelas crianças. Jesus trouxe liberdade para os pecadores, ensinou-os a amar e fez isso por meio de atitudes. Envolveu-se com eles e com as suas mazelas, amou-os incondicionalmente, não fez acepção de pessoas nem tolerou a injustiça. Estamos levando o reino para aquela comunidade.
Veja Fotos do projeto Reciclando Vidas
Publicado originalmente da seção Altos Papos da edição nº 357 da Revista Ultimato.
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