Por Rodolfo Gois

Ambiente agradável. Som bem equalizado. Estacionamento. Cadeiras estofadas, Música ambiente. Banda bem ensaiada. Gente bonita e cheirosa ao redor. Equipamentos multimídia de boa qualidade. Iluminação apropriada. Mensagem bem humorada e encorajadora e “politicamente correta”. Grupos sociais. Agenda cultural. Opções de lazer nos finais de semana. Ambiente devidamente climatizado…

Não estou falando de Shopping Center, tampouco de Resorts, muito menos de teatros e casas de espetáculo. Falo de igrejas. Templos, locais de reunião. Falo de ideais de um lugar “aceitável” ou “desejável” para se cultuar.

Cultuar? Sim, cultuar. Mas cultuar a quem? Bom, esta pergunta já é mais difícil de responder. Uma cruz, um vitral com tema religioso, uma arte bem produzida falando de Deus não quer dizer que o culto é para Ele. Às vezes, o ser humano é quem está sendo cultuado em nome de Deus.

Veja bem, o cultuado deve receber as ofertas/oferendas. São os presentes, os agrados. O cultuado é o mais importante na cerimônia. Mas, os preparativos para que o ser humano se sinta bem é tão intenso que parece que alguma coisa é ou está invertida, até mesmo na trilha sonora. Com tanta pompa, será que não estamos cultuando a pessoa errada?

O hedonismo comercializa a vida com o slogan: o maior prazer ao menor custo. Parece que o movimento religioso entendeu bem isso. Por isso passei a perguntar: quanto custa? Parece que quem ceder mais à pechincha garante a clientela.

E a cruz? Virou objeto de decoração. E o dar é melhor que receber? É por isso que Deus dá e eu não vou impedi-lo! E o ir por todo mundo e pregar o evangelho a toda criatura? Pra isso os cruzeiros dos milagres em alto mar. E a obediência? É bom Deus me obedecer se não ele vai ficar sem mim. E o servir? Ah, como é bom ser servido!

Wilbur Rees aborda o assunto em seu texto Três Dólares de Deus: Eu gostaria de comprar três dólares de Deus, que não chegue a fazer explodir minha alma e nem venha incomodar meu sono, mas que seja suficiente para garantir-me um copo de leite quente e uma soneca ao sol. Não quero dele uma quantidade tão grande que me faça amar os negros, nem colher beterrabas junto com os trabalhadores migrantes. Quero êxtase, não transformação pessoal; quero o calor de um ventre materno, não um novo nascimento. Quero um quilo da eternidade em um saquinho de papel. Por favor, dê-me três dólares de Deus!1

Isso é um anti-evangelho, altamente difundido e agradavelmente recebido. Não sou contra lugares confortáveis, ambientes agradáveis, música boa, tecnologia, mensagens contextualizadas. Pelo contrário. Tudo o que estiver à mão deve ser usado para alcançar o mundo. Não o meu mundinho, o mundo… o evangelho todo, para o homem todo, para todos  os homens. A tentação que se corre é se preocupar ou investir demais no bem estar de modo que o estar esteja tão bem que ninguém queira sair mais do lugar. Este é o risco. O meu bem-estar em detrimento da miséria do outro. O meu ar condicionado em detrimento do calor do inferno que se aproxima cada vez mais dos perdidos. Meu som e iluminação impecáveis que me tornam cego e surdo para o clamor do mundo.

Não está custando nada pra mim, mas muito para muitos. Jesus saiu das sinagogas, dos discursos e blábláblás dos escribas, fariseus e sacerdotes para o monte, as casas apertadas, os caminhos secos, empoeirados e cheios de obstáculos, o calor do sol, o banho nos rios.

Não dá pra negar: o evangelho tem que custar alguma coisa. Na verdade tem que custar muitas coisas. Pra ser sincero, tem que custar tudo! Tudo o que me ofereça riscos, tudo o que tenha a mínima possibilidade de me distanciar da verdade, tudo o que faça com que meus olhos contemplem apenas a minha imagem, tudo o que seja oferecido pelo anti-evangelho.

Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido em um campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo. Outrossim, o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas. E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a. Mateus 13:44-46

A Salvação, sem dúvida alguma, é pela graça. É exatamente por isso que troco tudo ou largo tudo para alcançá-la e viver o evangelho.

E pra você, o quanto custa?

 

1 REES, Wilbur, $3.00 Worth of God in: When I Relax I feel Guilty apud: SWINDOLL, Charles. Eu, Um servo?! Você está brincando, Belo Horizonte, Betânia, 1983, p.40.

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Rodolfo Gois é diretor pastoral do TeenStreet Brasil e pastor da IPIB de Maringá, PR.

  1. Hoje está realmente sendo pregado esse anti-evangelho, da prosperidade, do dinheiro, do ambiente agradável para o homem ser cultuado.

    E esse anti-evangelho e falso cristianismo é pior para o cristianismo do que as outras ‘religiões’.

    Abraços!

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