CIMA: promovendo teoria e prática missionária no nordeste
Por Héber Negrão
O glorioso evento da transfiguração de Jesus aconteceu no alto do monte (Lc 9.36-42). Os discípulos com assombro e admiração aprenderam diretamente com Elias e Moisés a respeito da missão de Jesus Cristo. Ao descerem do monte eles se depararam com uma missão incomum: um jovem possesso por espírito maligno que foi expulso por Jesus. Essa dupla realidade entre treinamento e prática, entre comunhão e missão ilustra muito bem o que foi o CIMA[1]. Jovens reunidos para uma semana de treinamento, estudo bíblico e oficinas descem do monte para encarar dez dias de experiência missionária num campo transcultural no Brasil.
O CIMA é um dos ministérios da MOVIDA. Apesar de ser uma organização internacional com quase 30 anos de estrada a MOVIDA é nova no Brasil (chegou em 2015), mas desde o início ficou claro que ela veio para somar com tantas outras organizações que promovem a visão missionária entre os jovens brasileiros. Sheyla D’Onny, uma das obreiras de MOVIDA Brasil diz que o objetivo da MOVIDA é “trabalhar com jovens latinos, dando-lhes oportunidade para conhecer e usar seus dons e talentos para entenderem em que parte da Missão de Deus eles se encaixam”.
Em todos os países onde está representada, na América Latina e Europa, a MOVIDA promove o CIMA, um evento que tem o objetivo de oferecer capacitação e treinamento a jovens para que eles se envolvam com a obra missionária local e transcultural.
CIMA: Descubra
O Cima é dividido em duas etapas: Descubra e Experimente. O primeiro, que é um treinamento intensivo com palestras, devocionais, oficinas e workshops, aconteceu no período de 20 a 26 de janeiro, em Demerval Lobão (PI). Esta edição contou com a participação de 23 preletores, incluindo pastores, missionários, professores e equipes missionárias. Foram ministradas devocionais com foco nos 5 Solas da Reforma Protestante, realizadas oficinas de teatro, evangelismo explosivo, fantoches, ministério com crianças, profissionais e missões, etnoartes, discipulado, etc. Tudo com o objetivo de oferecer aos 120 jovens presentes não só uma mentalidade missionária, mas também ferramentas que auxiliem na prática.
Sob o tema “Apenas Testemunhas”, cada noite foi explorado um subtema a cerca de realidade missionária do Brasil, retratada nos cenários e nas encenações fielmente preparados pela equipe de produção. A Noite de Intercessão tratou da realidade da escravidão infantil e tráfico humano. O pastor Rubens Coutinho, diretor da Pro Sertão, disse: “Deus quer fazer dessas pessoas escravizadas e encarceradas, testemunhas dele. Ele quer quebrar as algemas e torna-las cidadãs do céu”.
A Noite de Louvor, com o tema “Testemunhas da Sua Glória”, foi conduzida pelos irmãos da banda “Sal da Terra” e teve como destaque a obra missionária entre os sertanejos. Com muita música nordestina e testemunhos das maravilhas que o Senhor tem feito no sertão, o pastor Marcos André Fernandes, cantor e líder da banda, disse em sua mensagem: “Nós inventamos muitas desculpas para não testemunharmos do amor de Cristo. Tornamo-nos insensíveis a tudo e a todos. Precisamos deixar Deus encher o nosso coração e assim teremos íntima compaixão para com o nosso próximo”.
A Noite Transcultural abordou o tema “Testemunhas Além das Fronteiras”, trazendo à tona a realidade de centenas de ciganos no Brasil que ainda não conhecem a Cristo. O pastor Sergio Ribeiro (JUVEP) desafiou as pessoas a usarem os dons e talentos que Deus lhes deu para fazê-lo conhecido onde a necessidade é grande.
A Noite de Decisão teve o tema “Testemunhas da sua Entrega” e focalizou a realidade indígena. Tive o privilégio de pregar nesta noite e mostrar a importância que a ressurreição de Cristo tem para a nossa vida cristã e para a nossa missão neste mundo. Depois da pregação houve uma belíssima Santa Ceia, ministrada pelo pastor indígena Ricardo Poquiviqui e utilizando elementos contextualizados (o açaí para representar o sangue de Cristo e a tapioca para representar o seu corpo).
Um dos destaques da etapa Descubra foi o Operação CIMA. Numa das manhãs todos os participantes que estavam fazendo os workshops de evangelismo se deslocaram do agradável Rancho da Lua para as ruas de Demerval Lobão, para colocar em prática o que haviam aprendido durante a semana de treinamento. Houve frentes de evangelismo em hospitais, casas de recuperação, escolas, praças e mercados públicos, e até limpeza de uma área que estava em terríveis condições.
Cima: Experimente
Acredito que o grande diferencial do CIMA é a proposta de unir teoria e prática em uma sequência de eventos. Depois dos seis dias da etapa Descubra, alguns dos participantes passam para a etapa Experimente, que é uma viagem missionária com duração de dez dias, para que o participante coloque em prática o que aprendeu na etapa anterior.
Segundo o Diretor de Movida Brasil, Felix Rodriguez, esse modelo do CIMA segue o mesmo padrão de discipulado de Jesus Cristo que preparou os discípulos de forma prática, mas também os enviou aos diversos povoados para anunciar o reino de Deus: “O modelo de discipulado de Jesus Cristo era treinar os discípulos na parte teórica e enviá-los em estágios que complementavam o discipulado teórico. Por isso CIMA é composto de duas partes.”
Este ano a etapa Experimente aconteceu em oito localidades diferentes e abrangeu os mais diferentes contextos culturais: povos indígenas, comunidades sertanejas e quilombolas, missões urbanas, ribeirinhos e assentamentos rurais. Todos esses locais são áreas de atuação de igrejas e ministérios parceiros do MOVIDA Brasil e o trabalho realizado pelos “cimenhos” visa apoiar o ministério destes obreiros. No entanto “os mais abençoados serão os jovens que vão participar. Eles não têm experiência missionária, não são missionários. Eles estão indo para aprender sobre missões fazendo missões. Não é simplesmente um apoio missionário, mas também um aprendizado missionário”, conclui Felix.
Parceria e voluntariado em prol do reino
O CIMA não poderia ter acontecido sem a força de mais de trinta voluntários que trabalharam com afinco em diversas áreas para que tudo transcorresse adequadamente. Joel Roggersinger, Coordenador do CIMA, disse que este é um diferencial da MOVIDA: “praticamente todo o ministério de MOVIDA é formado por 80 a 90% de voluntários que oferecem seus esforços e tempo livre para servir o reino”.
Além dos voluntários, o evento também contou com parceiros ministeriais para que ele pudesse acontecer. Essas organizações têm investido não apenas com recursos humanos, mas também financeiros e logísticos, e isso tem ajudado a baratear os custos para os participantes. “Nós não poderíamos fazer um CIMA tão rico em diversidade sem esses parceiros que oferecem seus recursos para enriquecer o evento”, conclui Joel.
O CIMA acontece todos os anos em vários países da América Latina. Em 2019 ele será realizado em São Paulo (de 12 a 18 de janeiro) e em Teresina (de 21 a 27 de janeiro) com o tema “Somente Um”. Será uma ótima oportunidade para você conjugar o treinamento e a comunhão de um acampamento com prática de uma viagem missionária.
[1] Cima é a palavra em espanhol para Cume ou pico de um monte.
Veja abaixo mais fotos do CIMA 2018 ou clique aqui.
• Héber Negrão é paraense, mestre em Etnomusicologia e casado com Sophia. Ambos são missionários da Missão Evangélica aos Índios do Brasil (MEIB)e da Associação Linguística Evangélica Missionária (ALEM). Residem em Paragominas (PA) e trabalham com o povo Tembé.
Antonia Leonora van der Meer
Fiquei muito feliz ao ler esse relato de um bom treinamento missionário seguido com uma prática de serviço, que é a continuidade da formação e pode formar a visão e vocação missionária dos jovens. Que Deus continue abençoando.