Dia Internacional da Mulher | 8 de março

Por Juliana Stelli

Tenho pensado muito sobre essa coisa toda do DIY (faça você mesmo). Eu, que sempre preferi fazer do que comprar feito me peguei pensando em até que ponto o amor empregado na feitura das coisas serve de fato às pessoas. Porque é batata: sempre que recebo um convite pra um jantar, piquenique, qualquer coisa, já começo a maquinar na minha cabeça qual será a receita que vou preparar. E sei que é isso que as pessoas esperam de mim – e a culpa, se é que ela existe, é toda minha. Mas há dias em que há cansaço. Há a falta de tempo. Há a preguiça mesmo. E há dias em que o que bate é aquela certeza de que comprar feito é a melhor opção. Mas fiquei tão habituada a meter a mão na massa sempre que quando não o faço, me sinto meio poser, sabe? Daí, quase sempre acabo me obrigando a ir pra cozinha, afinal, – cozinhar é uma forma de amar os outros – não é? Não. Claro que não. Às vezes, amar os outros é ficar com estes – outros – o tempo que você gastaria cozinhando pra eles e depois limpando toda a bagunça da cozinha. Às vezes, amar os outros é deixar que escolham o que vão comer ao invés de constrangê-los a gostar do que você decidiu e preparou, afinal, você ficou um tempão na cozinha por amor. Não tá certo isso! E arrisco dizer que, algumas vezes, cozinhar pode se tornar a coisa mais egoísta do mundo. Pode ser só uma forma de ganhar elogios, de mostrar como você é habilidosa (o), ou de provar pra você mesmo (a) que você consegue preparar aquele prato famoso que comeu num restaurante. Nada de errado com tudo isso, só tô dizendo que cozinhar pode não ser tão altruísta assim. Sei que sempre disse e realmente acredito nisso de que coisa feita à mão – e nem tô falando só de comida – tem um gostinho todo especial. Mas, talvez, às vezes o objeto do nosso amor (filho, namorado, marido, pais, amigos, etc) só queira a nossa companhia mesmo. Tudo bem se for do Delivery. Não tem problema se for bolacha com patê de sardinha! Não tem problema comprar um bolo pronto pra levar para aquele almoço ou servir pão com salsicha no jantar! De vez em quando, comprar feito pode te dar de presente aquele tempo que você não tem pra brincar com seu filho ou curtir o seu marido. De vez em quando é hora de guardar as panelas, pendurar o avental, sentar sem pressa, olhar nos olhos e ter de prato principal apenas uma boa conversa.

Texto publicado originalmente no blog pitadinha.com, sob o título “Compra feito!”.

• Juliana Stelli, mãe em tempo integral e cozinheira nas horas vagas. Pedagoga por formação, cozinheira amadora por opção, porque amador – é quem faz por amor – Amazonense morando em Recife. Morrendo de saudade do tacacá, pirarucu e açaí de verdade, porém sendo consolada pelo cuscuz com charque, bode guisado e cartola #muitamor

  1. Flávio Pereira

    Bem, como vc publicou na coluna do Paralelo 10, você imagina a cozinha nos lugares mais remotos e distantes… O texto é interessante para área urbana, mas na área rural e no sertão, a boa etiqueta nos ensina a comer de tudo que nos é oferecido, mas, não tudo. Na dúvida, se vai gostar de algo ou não, sirva-se pouco. Sabe, lembra muito a referência que os discípulos fizeram sobre as comidas que muitos tinham dúvidas se eram sacrificadas a ídolos.

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