Dia da Amazônia 

Escrever sobre a Amazônia não é tarefa fácil. Porque a Amazônia, tanto quanto a fé cristã, não é algo que se descreve em palavras, pois ela é altamente experimental. Tem que ser vivida, degustada, sentida. Sendo assim, talvez se compreenda um pouco o que é sua exuberância, sua magnitude e sua complexidade.

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Última foto de Marcos Custódio no Amazonas. Pôr do sol na Praia da Ponta Negra em Manaus (AM)

Eu, homem urbano que sou, mesmo nascido e criado ao lado da linda Mata Atlântica, ainda fico um tanto estupefato ao me encontrar e visitar a Amazônia. Confesso que toda a minha cosmovisão e, principalmente minha fé, mudaram profundamente quando estive no estado do Amazonas.

Eu e minha esposa sempre alimentamos o sonho de um dia vivermos no Norte do Brasil e termos uma experiência que realmente nos mostrasse a face de um país diferente do que vivíamos no Centro-sul.

Ao chegar em Manaus, capital do Amazonas, com esposa grávida de cinco meses e com um filho de oito anos em um lugar tão diferente, confesso que foi um tanto assustador. A frase do escritor Nelson Rodrigues “o Brasil não é para amadores” nunca fizera tanto sentido como naquele momento.

Tudo, absolutamente, tudo era diferente. Até mesmo a variação do português. A vida era é incomum, mas incrivelmente brasileira, inspiradora. Os aromas, os sabores, o clima, a ambiência, a abundância de biodiversidade, os estilo de “vivência” nos tiram de sua zona de conforto e nos faz refletir sobre a enorme redoma “de vidro” que é a vida urbana.

Uma das primeiras verdades que atravessaram minha existência foi o entendimento que o brasileiro conhece pouco o seu país. A enormidade de nosso território fez surgir uma enorme variedade de “brasis”, sendo muito deles algo significativamente diferente, porém intimamente ligado como nação.

Sim, para entender o Brasil, é necessário visitar a Amazônia. Sem pisar naquela região, não se conhece o Brasil. Se é um brasileiro incompleto.

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Foto tirada de dentro da Igreja Assembleia de Deus, em Autaz Mirim, no interior do Amazonas

Amazônia, em minha vida espiritual, foi um rito de passagem para um aprofundamento na relação com Cristo, o Deus Criador e Salvador. Em minha jornada na direção do Pai, no meu tempo no norte do Brasil, encontrei mais sentido nas palavras que o apóstolo João utiliza em seu livro, no capitulo 3, versículo 16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira….”. E como não amar toda esta criação maravilhosa, impactante e majestosa? Senti, pela primeira vez, a sensação de um Deus verdadeiramente apaixonado por toda a sua Criação, um Deus disposto a se sacrificar por amor a tudo que foi criado.

Nos momentos em que tive a oportunidade de experimentar e visitar a floresta, percebi que Deus se preocupa e se envolve profundamente com seu universo criado. Tanto o macrocosmo, como o micro, os detalhes, da ação dos fungos e bactérias para digerir as folhas da floresta e criar os nutrientes para alimentar a mesma, como o majestoso pôr-do-sol, um dos mais magníficos que experimentei.

Na Amazônia, eu me converti ao Deus Criador. Vi o encontro entre aquele que cria e aquele que salva dentro de minha alma e me inspirando a um outro compromisso de fé, a um outro relacionamento com a Trindade e a uma outra forma de me relacionar com o mundo criado e amado por Deus.

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Pôr do Sol na Ponta Negra em Manaus (AM)

Isto também se transformou em um processo de grande mudança familiar, não apenas nos hábitos maravilhosos de comer tambaqui, açaí, tapioca com banana e queijo, suco de taperebá e a maravilhosa farinha de mandioca temperada. A alma e o coração de nossa família foram afetados profundamente pelas pessoas e pelo ambiente.

O povo que vive na Amazônia deram novo significado para a palavra “amizade”, nos fizeram entender que um laço de amigos verdadeiros só nasce em volta de uma boa mesa, com um tambaqui assado, muito suco de taperebá e maracujá, bastante farinha, temperada pelo esforço do trabalho e boas conversas e risadas.

Sim, reaprendi a fazer amigos. Fiz alguns que me ensinaram o valor da palavra, do cuidado, do apreço e da verdade. Cito com lágrimas nos olhos o Andrean Cardoso, Edson Fernandes e o Laurence Martins, cabras do bem, amigos que me ensinam o que é ser um cristão, um cidadão e um homem do bem e de bem.

Daria para escrever um livro sobre os dois anos e meio vividos no Amazonas. São tantas histórias no meio desta história, que seriam necessárias várias páginas para ilustrar toda a ressignificação de vida que foi meu tempo na Amazônia.

Sim, me tornei um amazonense de coração. A Amazônia se tornou parte de minha existência, e toda vez que olho meu filho, nascido naquela terra, tem um sinal de como Deus me ama e me envolveu no cuidado daquela região.

Parte de minha vida profissional atualmente é buscar formas de cuidar deste local, para que ele continue a inspirar vidas e mostrar o amor “apaixonado” de Deus por tudo o que ele criou.

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Pôr do sol na cidade de Careiro da Várzea (AM)

• Marcos Franqui Custodio, 42 anos, é Bacharel em Química pela USP, Mestre em Ciência dos Alimentos pela UNESP e pós-graduado em Sustentabilidade pela Fundação Getúlio Vargas. Ele morou por dois anos e meio (de 2012 a 2014) em Manaus (AM). É diretor da Innovates Consultores e atua como pesquisador, ambientalista, gestor e empreendedor social desde 2003 em organizações não governamentais ligadas a meio ambiente, sustentabilidade, investimento social e políticas públicas. Atualmente é consultor nas áreas de Terceiro Setor, Sustentabilidade e Segurança dos Alimentos. Casado com Gláucia, pai do Adryel, do Lucca e de um bebê que vai chegar em abril, mora em Indaiatuba (SP). Foi fundador, primeiro presidente e primeiro diretor nacional d´A Rocha Brasil, ONG cristã de conservação e pesquisa do meio ambiente, onde até hoje ainda atua como Relações Públicas.

  1. jaqueline ferreira

    Inspirador…o amazonas causa isso mesmo em quem anda em suas terras como do seu fruto e anda com seu povo. Em pouco tempo e vc já pertence a esse lugar lindo de gente verdadeira e acolhedora. Parabéns pelo texto.

  2. “Amazônia, em minha vida espiritual, foi um rito de passagem para um aprofundamento na relação com Cristo, o Deus Criador e Salvador.”

    Uns vão para o deserto, escondem-se por um tempo em cavernas, outros banham-se a mais não poder nas águas e densas florestas.

  3. Eduardo Bueno

    Marcos, sua narrativa nos faz querer ir até a Amazônia , não só para desfitar das maravilhas relatadas, mas também desfrutar da natureza e presença de Deus. Continue em sua incansável missão de nós sensibilizar a sermos parceiros e responsáveis deste exuberante meio ambiente, parabéns

  4. Andrean Cardoso

    Parei mais uma vez para ler essas palavras. Isso me traz a tona sobre o tamanho desse mundo, as riquezas, seus desafios, as amizades são de fato um caminho mais apreciado da vida. Meu agradecimentos a você, meu amigo Marcos.

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